Telê, sempre Telê (por Paulo-Roberto Andel)

Todo dia 26 de julho é uma tradição do PANORAMA: falamos do aniversário de Telê Santana. Neste 2017, o tema ainda é mais especial: vivemos dias irregulares, há uma grande avalanche de cólera em parte da torcida, muitos já não têm paciência para a saraivada de rancorosas besteiras publicadas na internet por pretensos “formadores de opinião” (em sua maioria de alfabetização e verbalização anêmicas), o que se reflete até na escassa presença da torcida no Maracanã. O cenário é de repulsa e intimidação decorrentes de um processo eleitoral que já deveria estar sepultado, mas oferece seu fartum acre de decomposição a céu aberto. Assim sendo, o mestre Telê é uma bússola, um guia, uma potente injeção tripla contra essa verdadeira epidemia de babaquice. É o contrário disso tudo, é a antítese.

Eu o conheci com onze anos de idade. Meu pai nunca me disse a palavra “secar”; apenas me levava nos jogos do time da Gávea sempre na torcida adversária – até na do Campo Grande, hoje infelizmente terminal, eu fui. Telê era o treinador do timaço efêmero do Palmeiras em 1979, que massacrou o Mais Favorecido em pleno Maracanã, chegou às semifinais, foi eliminado pelo fantástico Inter da época, mas jogou tão bonito que garantiu o passaporte do treinador na Seleção Brasileira. O resto todos já sabem. Eu e meu pai naquele pedacinho verde do estádio, cercados por cem mil alemães e vivendo a estranha sensação de comemorar uma vitória que não era do nosso amor.

Pesquisei e descobri quem era Telê Santana. Um monstro, um escudo do Fluminense. Ganhou tudo pelo clube e foi campeão do mundo. Incansável, era o protótipo moderno do jogador de futebol que só seria padrão dez ou vinte anos mais tarde. Treinador de sucesso, também ganhou tudo, com exceção da maldita Copa do Mundo – mas nem precisava.

No meu tempo, foi o primeiro grande nome de futebol que não escondia de jeito nenhum seu time de coração. Deixava sempre muito claro seu amor pelo Fluminense em diversas entrevistas. Já em fim de carreira, jogando pelo Madureira, fez um gol no Flu, não comemorou e chorou. Era sofrimento mesmo. É uma pena que, depois do grande título de 1969, Telê tenha treinado tão pouco o Fluminense – ele deveria ter sido nosso Alex Ferguson.

Em 2002, no dia do centenário do clube, o Fluminense viveu uma tarde maravilhosa. O clube foi aberto para todos, tricolores de todos os lados compareceram e a sede exalava aromas de esperança, amor e união. Telê era o convidado de ontem. Já bastante doente, ele caminhou com enorme lentidão e dificuldade pela sede até a quadra de basquete, mas fez daquela difícil travessia uma procissão de amor, cercado e louvado por centenas e centenas de torcedores. A multidão gritava seu nome em uníssono e ali ele deve ter vivido um dos pontos culminantes de sua vida. Isso tem quinze anos e mostra o quanto éramos mais unidos aos domingos.

O tempo passou, o mundo mudou (muitas vezes para pior), o Fluminense vem resistindo às intempéries. Nesta quarta temos um jogo importantíssimo, daqueles de afligir os corações, sem importar a vantagem. Seguimos na batalha da Sul-Americana, é uma possibilidade real. Que esta quarta-feira seja uma grande noite, confirmando nossa classificação e homenageando nosso mestre, nosso Fio de Esperança, nosso cavaleiro das conquistas. Laranjeiras deveria se chamar Telê Santana. Ele foi e é Fluminense demais. Uma inspiração para todo o sempre. Passados tantos e tantos anos, sua presença ainda é uma lembrança constante para mim: o comandante de um timaço que me fez feliz por um domingo, mesmo sem ser o Flu em campo.

O 26 de julho é também o dia do aniversário da minha mãe, Maria de Lourdes Andel, uma figura essencial na minha vida e na construção deste PANORAMA. Ausente há dez anos, sua falta me dói diariamente como uma facada no crânio que desce até o ventre. Mãe é tudo. O aniversário fica para sempre.

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Nesta terça-feira, 25, passado o Dia do Escritor, quero deixar um abraço a todos os que escreveram livros sobre o Fluminense, independentemente de meu convívio, de afinidades pessoais ou mesmo de predileção estilística. Nosso clube tem o maior acervo literário do país, e é um grande orgulho para todos nós que o PANORAMA seja parte ativa deste processo – somos o site com o maior número de títulos literários e autores publicados na história do clube. Praticamente todo o Estado-Maior dos escritores tricolores publicou ou publica aqui. Isso resume tudo.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: rap/curvelo