Sobre Walter (por Paulo-Roberto Andel)

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Foram dias de muita especulação e poucas notícias realmente úteis, a ponto de um desses bobalhões da internet tricolor, número um em falta de caráter, buscar likes querendo determinar o que é notícia ou não. Patético.

Bem, vamos ao que realmente importa.

Dias atrás, um assunto realmente importante repercutiu bem menos do que deveria: a carta de Walter.

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Infelizmente tudo que foi dito pelo jogador se repete muitas e muitas vezes no futebol brasileiro. O que o distingue dos demais é, basicamente, ter sido um craque e jogado em várias grandes equipes. Não é que Walter seja um coitadinho, longe disso, mas chega a ser incrível que seu problema não tenha sido tratado direito em nenhuma das equipes onde atuou.

O futebol, esse esporte que tanto amamos, também é cruel ao extremo. Uma máquina de moer carne humana, da qual poucos saem ilesos. Nos clubes, o que não falta são pessoas inescrupulosas, desde funcionários medíocres que venderiam a mãe para manter seus privilégios até dirigentes que, não raro, celebram contratos e negociações lesivas às próprias instituições que dirigem, em troca de benesses pessoais e de suas camarilhas.

Dá pra imaginar quantas transações são feitas nas gestões dos clubes, especialmente os grandes? E quantas são indevidas? E quantas realmente amparam os jogadores, potencializando suas capacidades e permitindo o máximo de retorno esportivo? Quantas transações são feitas para realmente reforçar um time na busca por títulos? Muitas vezes, há motivos para se duvidar do que é feito.

Em paralelo a tudo isso, Walter também faz pensar na satanização das pessoas no futebol, sob o argumento de que elas “ganham bem”, como se não tivessem sentimentos e fossem imunes a todas as ofensas possíveis. O gordo, o safado, o sem-vergonha que não quer nada, o indisciplinado. O procedimento correto não era passar-lhe a mão na cabeça, mas estendê-la para que ele segurasse e viesse para a frente. Quantos não o sabotaram para que ele não mostrasse o melhor de si como jogador?

Quantos e quantos jogadores tiveram suas carreiras ceifadas por um lance, um detalhe, um momento?

Diariamente, milhões de pessoas têm todas as respostas prontas sobre assuntos em que são absolutamente ignorantes. Chutam, palpitam, mas não têm a menor certeza do que falam e escrevem. Muitos disputam um campeonato à parte: o de senhores da razão, mesmo que seus currículos sejam infinitamente mais modestos do que suas expressões públicas.

Isso vale como reflexão para todos, desde os colegas que dividem este espaço comigo até dirigentes, simpatizantes e puxa-sacos das gestões do meu time – muitos destes, aliás, sem qualquer capacitação que lhes justifique discursos professsorais ou de autoridade. Muita gente, portanto. E é nesse universo que proliferam os mais variados equívocos, que o exemplo do descaso com Walter não nos deixa negar.

Quantos e quantos jovens jogadores de Xerém foram triturados pelas máquinas de moer carne, tudo para atender à sanha de negociações que infesta as Laranjeiras. Ah, deixe de bobagem, todo clube do mundo trabalha com empresários. Cara pálida, já parou para pensar que o nosso clube é um dos maiores entrepostos de negociações no futebol mundial?

Aqui somos torcedores, acima de tudo. Muitos de nós construíram currículos respeitáveis com o passar dos anos, dentro e fora do futebol. Isso não nos torna autoridades máximas, mas uma bela equipe que, como outras da internet, é muito útil para fazer refletir sobre o Fluminense e seu cotidiano. Nos últimos dias, reduzimos a programação por conta do recesso de jogos, e até mesmo o silêncio é para fazer pensar. E pensar muito, porque torcer não é abanar o rabo e fazer vista grossa para problemas gravíssimos que o clube enfrenta. Quem pensa que apoio incondicional é a solução dos problemas do Fluminense está desalinhado da razoabilidade. Mesmo quando o time está ou estava ganhando, a perfeição é uma meta impossível – e, por mais que tenhamos comemorado bastante nos últimos meses, estivemos longe da perfeição.

Vem aí uma nova semana. Torçamos pelo novo Fluminense que vem por aí. Vamos fechar estas linhas com um golaço de Walter, ficando com as melhores imagens de uma história que deveria ter sido muito diferente.