Sobre o amor e as paixões (por Walace Cestari)

PASION
Ah, as paixões. Arrebatadoras como sempre. Levam-nos ao êxtase, às fantasias e às loucuras. Doces devaneios eivados de excessos. Apaixonados, tendemos à hipérbole (aquela figura de linguagem que se caracteriza pelo exagero), idealizamos o objeto da adoração. Vamos do céu ao inferno em poucos átimos. A eternidade da paixão pode durar meros segundos. Mas será sempre eterna enquanto durar, como nos ensinou o poeta.A nossa durou noventa minutos. Éramos confiança, elenco, força, tenacidade, inteligência, vontade e garra. Daí que perdemos. Tal qual apaixonados que são dispensados pela amada, não enxergamos nada além do vulto escuro da raiva diante dos olhos. A mulher que nos manda embora nada vale, só tem defeitos, jamais fora companheira e sempre teve a intenção de nos enganar (não que, em alguns casos isso não seja verdade). Da mesma forma, nosso time é horroroso, entregue e velho. Um bando de pernas de pau comandados por um tresloucado que nada entende sobre futebol.

Pichemos as Laranjeiras. Quebremos os vitrais. Fora Abel. Fora Fred Caipisaquê! Fora Peter! Fora Celso Barros! Fora todo mundo! Exageremos as paixões pela amada perdida. Só que nada disso é verdadeiro, nada corresponde à realidade. Pura reação apaixonada no calor das emoções. Coloquemos, tricolores que somos, a cabeça no lugar.

Fim de jogo. Fim de taça. Perdemos. Saímos de campo derrotados. É isso. O esporte nos proporciona a vitória e a derrota. Alegrias e tristezas. Quarta, mais uma vez, choramos nossa eliminação da Libertadores. Não culpemos os árbitros ou a catimba, os gandulas sumiriam de São Januário, fosse o inverso. Aceitemos o presente que se torna rapidamente passado e miremos o futuro. Abandonemos as paixões, concentremo-nos no amor.

Ah, o amor! Esse sentimento idílico e platônico! Defendo que o amor só existe em estado puro na imaterialidade. E, assim, é aquilo que é capaz de nos definir a personalidade. Por isso, verdadeiramente, não levo fé no amor egoísta entre duas pessoas – meras paixões acostumadas –, mas creio no amor pela humanidade, pelos valores, pelas ideologias. E é por isso que amo o Fluminense. Não sou tricolor por conta de suas vitórias. Assim, também não deixo de sê-lo pelas derrotas. Não submeteria o sublime aos dados objetivos ou à frieza dos números.

Ser Fluminense é algo para definir o caráter. É buscar ser melhor a cada dia, sofrer com os percalços e renovar-se nas dificuldades. E o amor deve crescer justo na hora em que se precisa. Por isso, é necessário abraçar esta equipe. Seus valores, seu grupo, toda a estrutura que nos tirou de uma condição de atraso e coloca-nos voltados para a trilha dos exemplos. Não podemos deixar que paixões passageiras atravanquem nosso caminho. Resultados são consequências, não suas causas.

Temos problemas, não sou cego. O time joga – há muito – abaixo das possibilidades que tem. Falta-nos maior ousadia tática, opções para diferentes cenários do jogo e alternativas contra os adversários. Não acho que Abel deva partir. Mas está obrigado a se reinventar. Deve aprender a explorar mais suas peças, acabar com a previsibilidade de seu esquema, estudar e aperfeiçoar sistemas táticos e jogadas ensaiadas.

Corrigir o que hoje está errado. Rhayner fez uma falta boba na lateral direita de nossa área. O marcador daquela ocasião deveria ser Bruno, não nosso Guepardo Negro. Temos de acertar nosso lateral. Se já não vai bem ao ataque (treine cruzamentos, garoto!), deve compensar muito na marcação. Nossa zaga, há anos pouco vazada, já não é mais a mesma. A sorte não está mais favorecendo e Berna e Cavalieri esgotaram a cota de milagres. Temos de fortalecer a zaga de algum modo. Será que Edinho não pode fazer a função, já que foi bem quando fez? Abel não tem o poder de convencê-lo? Contratemos, então.

Nosso meio deve ser mais rápido, mais objetivo. Resolvamos o caso Deco. Vislumbro que não nos ajudará em 2013. Não se pode deixar tudo a cargo de Wágner. E TN10 já não será o que foi em 2008. Contratemos alguém. Conca? Que seja. Salgueiro, nosso carrasco, por que não? Precisamos mudar nosso jeito de jogar, para agredir e impor nosso jogo. Como? Eles são pagos para estudar e treinar soluções. Meu amor permite-me apenas perdoar e apoiar nossas futuras conquistas.

Walace Cestari

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

ANUNCIO 1995