Sobre Branco e Cléber (por Paulo-Roberto Andel)

Ontem Branco fez 59 anos. Garoto ainda, foi tricampeão carioca e brasileiro pelo Fluminense. Jogou demais, foi campeão do mundo em 1994. Por ironia do destino, estava do outro lado quando o Flu ganhou o apoteótico título de 1995. Anos depois, foi dirigente do clube, muito criticado. Teve uma carreira imensa nas Laranjeiras, mas pouca gente deve se lembrar de um gigantesco gesto seu, talvez até maior do que seus títulos e vitórias.

Em 1998, o Fluminense respirava por aparelhos. Vivia as agruras da série B e, conforme a esquizofrenia do regulamento, podia tanto ser rebaixado para a C quanto se classificar para a fase final. No desespero, trouxe Branco já de carreira encerrada e, para piorar, com uma fissura no tornozelo, o que normalmente impediria sua escalação. Só que o jogador queria atuar de qualquer maneira, pois a partida contra o Juventus era de vida ou morte. Fora de condições, Branco jogou, fez um gol de cabeça, quase marcou outro e saiu mancando aos 25 do segundo tempo. Não foi o suficiente para salvar a desgraça tricolor, mas Branco entrou no prédio em chamas para ajudar o clube, numa atitude admirável.

Para os que veem apenas defeitos ou qualidades, nunca é demais lembrar como o ser humano é complexo.

E Cléber? Faleceu novo ainda, devia estar conosco aqui. Um jogadoraço, das melhores linhagens das Laranjeiras. Foi tetracampeão Carioca em 1973, 1975, 1976 e 1980 e titular absoluto da Máquina, no tempo em que o Fluminense contratava alguns dos maiores jogadores do futebol mundial, como Roberto Rivellino e Paulo Cézar Caju. Ao lado de Pintinho, Cléber compôs a meia cancha admirável. Os dois, ao lado de Edinho, são prova viva de que, no mais emblemático time tricolor da história – que só perde para o fenômeno do fim dos anos 1930 – a base do clube era muito forte bem antes de Xerém.

O talento de Cléber, que pode ser visto a granel no YouTube, era proporcional à sua timidez. Depois de longa contusão, não conseguiu voltar ao esplendor de antes, mas chegou a jogar em 1980, ganhando o derradeiro título. Só não foi titular absoluto da Seleção Brasileira porque, naquele tempo, havia uma concorrência gigantesca, de sete ou oito nomes para a posição. Mas que Cléber (às vezes creditado como Kleber) podia, podia e muito. É um craque pouco falado do Fluminense e precisa ser valorizado. Seu irmão Carlinhos também foi titular do Fluminense.

Onde quer que esteja, que Cléber esteja bem. Ele merece.

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Nesta quarta-feira de Libertadores, Thiago Motta, vítima do fuzilamento de sábado no Maracanã, será cremado.

Que este crime bárbaro e absurdo não tenha uma gota de impunidade. Não bastasse a violência, o assassino ainda é agente de segurança do Estado. Quem era pago para preservar vidas estava a serviço do homicídio covarde.

Registre-se os votos de melhora para Bruno Tonini, a outra vítima do crime que felizmente sobreviveu.

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A vitória do The Strongest sobre o River Plate ontem obriga o Fluminense a buscar o triunfo logo mais, sobre o peruano Sporting Cristal.

Torçamos, pois, pela recuperação do time e pela lucidez do treinador.

Assim seja.