Sobre a euforia tricolor (por Paulo-Roberto Andel)

Depois da vitória deste domingo sobre a Cabofriense, me pareceu nítido que a torcida do Fluminense ficou dividida em dois pólos: o majoritariamente eufórico pelo momento tricolor e o outro, mais contido, ainda com reservas sobre o futuro da equipe de Diniz, especialmente com as possíveis saída de Everaldo e anúncio de Nenê.

Sem baldes de água fria nem parabolóides hiperbólicos, penso que é natural o momento de celebração. Depois de anos e anos tomando pancada de si mesmo (desde 2012 o Fluminense não tem um resultado satisfatório em campeonatos brasileiros, incluindo o desastre de 2013 e três lutas contra o rebaixamento em 2015, 2017 e 2018), finalmente parece que o Flu voltou a ter a reserva técnica que era esperada com a contratação de Ganso. Basta olhar para as escalações básicas de outras temporadas.

Ainda que o craque não tenha sofrido até aqui as marcações implacáveis que se espera, é inegável que seu talento tem aparecido mesmo quando não chega a ser decisivo. O toque na bola, o passe, a jogada inesperada e rápida, a beleza do jogo, tudo isso tem contado para cativar os corações tricolores, em sua maioria sofridos com as últimas temporadas, salvo os que têm compromissos pessoais com a aceitação da hesitante gestão do clube. Imagine os garotos vendo estas partidas, admirando o futebol de Ganso, fidelizados para sempre pelo Fluminense.

É também o reencontro tardio do Tricolor com seus desejos: Ganso é herdeiro físico, técnico e personal de seu descobridor, um jogador que sempre foi um sonho de consumo não realizado nas Laranjeiras. Trata-se de Giovanni, fera do Santos que nos despachou em 1995, para depois jogar pelo Barcelona. Quem viu os dois atuarem poderia apostar que se tratam de pai e filho.

O que virá para frente é outra coisa. Caberá a Diniz dosar o alto nível de competitividade da equipe. Se Everaldo sair e Nenê entrar, o comprometimento físico parece evidente. O segundo semestre concentra a parte mais difícil da temporada. Agora, que é bom demais ver o Fluminense sendo comandado em campo por um jogador de alto quilate técnico, não se questiona, embora todos saibamos que o futebol atual não se limita à técnica. É menos difícil atravessar 2019 com o talento de Ganso do que com seus antecessores com menor autonomia de voo. É como se pensássemos à beira do campo, comparando respeitosamente Fernando Diniz com Ricardo Drubscky, por exemplo.

Os desafios são pesados mas, nesta segunda-feira de muita chuva, a alegria do Fluminense continua. O futebol refinado de Ganso é um merecido acalanto para a nossa torcida sofrida.

Panorama Tricolor

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