São Paulo e Fluminense, uma outra história (por Paulo-Roberto Andel)

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Uma vez perguntados sobre, dez em cada dez tricolores dirão que nosso maior jogo contra o São Paulo foi pela Libertadores de 2008, com justiça por sinal. Agora, muito pouca gente se lembra do que aconteceu menos de três meses depois daquele alucinante 21 de maio, noite de enorme tristeza pessoal para mim pela morte de meu pai. Dia do aniversário de minha amiga Rita também.

Como o futebol desaba e decola num segundo, no começo de agosto voltamos a nos enfrentar, desta vez num Maracanã vazio e com protesto das organizadas. O poderoso Fluminense da Libertadores havia ficado para trás, injustamente derrotado na final, e o que sobrou foi o time na vice-lanterna do Brasileiro, a um passo do fim do primeiro turno. Vejam como tudo tinha ficado tão diferente.

Ainda desengonçado mas lutador, o Fluminense venceu o jogo novamente por 3 a 1, com três gols de Washington, e recobrou suas forças para evitar o desastre do rebaixamento. Ainda viria uma longa travessia por todo o segundo turno, até que escaparíamos de vez numa situação inesperada: empatando com o São Paulo no jogo de volta disputado no Morumbi lotado, com o time paulista precisando de uma vitória simples para garantir o tricampeonato brasileiro. Tatá fez nosso grande gol. Mandamos bola na trave, também levamos. Quase todo mundo só se lembra da arrancada de 2009, mas a de 2008 também foi bastante expressiva.

Quase dois anos depois, em 2010, era novamente o São Paulo à nossa frente, em Barueri. Estávamos a três rodadas da grande chance do título brasileiro. Três vitórias nos garantiam.

Eu viajei atônito: na antevéspera, sexta, conversei por e-mail com um editor para avaliar os originais de meu possível primeiro livro, quando recebi a surpreendente resposta: “Está aprovado. Faça as três crônicas finais. Se o Flu for campeão, vai para a gráfica no dia seguinte”. Pela primeira vez na vida, eu não torci exclusivamente pelo Fluminense, sem nada em troca além da satisfação, mas também por mim mesmo: batalhava a chance de ser publicado desde o fim dos anos 1990. Enfim, goleamos em Barueri por 4 a 1 e parecia que os meus dois sonhos iriam se concretizar: ver o Fluminense ser campeão brasileiro outra vez e finalmente me tornar um escritor publicado.

Meu pai era torcedor do São Paulo na infância. Veio para o Rio, apaixonou-se pelo Fluminense bicampeão do Rio-São Paulo, cobriu-se de pó de arroz para sempre mas nunca deixou de lado o time paulista – o que me incutiu simpatia pela equipe desde criança. Quis a ironia do destino que morresse subitamente a uma hora do maior jogo entre suas duas equipes do coração. Sinto muitas injustiças na vida, mas se tem uma que me corrói é nunca ter podido dar um livro meu para meu pai. Não deu tempo. E antes, muito anos, em 1987, foi a última vez que estivemos juntos no Maracanã. Perdemos para o São Paulo por 2 a 1. Meu pai tinha ido com dois amigos, eu fui com João Carlos e Luizinho. Nos encontramos no fim do jogo. Sou capaz de rever aquela cena agora, 35 anos depois, porque foi a última de um lugar onde estivemos tão juntos por tantas vezes. Em nenhum lugar do mundo me senti tão bem com meu pai quanto no Maracanã.

Foi justamente naquele tempo de 2008 que Marô começou a ir aos jogos comigo e com Leo Prazeres. Era um tempo do Fluminense de arquibancadas esvaziadas, mas ela tomou um gosto tal que se tornou a torcedora a acompanhar mais vezes o Flu no século XXI, jogando em casa e fora. Um fenômeno. Ah, Marô é nossa amiga querida e mãe do Raul Sussekind, a quem eu perturbo há 20 anos para que um dia seja o presidente do Fluminense, não somente por ser meu irmão mas por ser uma das pessoas mais éticas, sérias e mentalmente preparadas para tal função. Muitas vezes me pergunto se desejar essa função para alguém é realmente gostar dela, mas aí penso nos gestores tricolores e penso que Raul pode estar à altura de Guinle, Horta e outros. Espero ter tempo de ver isso.

Dois anos depois daquela divertida e vitoriosa viagem para Barueri, com a goleada sobre o São Paulo, nasceu este PANORAMA TRICOLOR. Leo Prazeres, que já vinha comigo desde os tempos do site Fluminense & Etc, é um dos fundadores desta casa. Hoje mora bem longe daqui, mas está presente diariamente neste espaço tricolor.

Por fim, dois anos depois, o Fluminense se encaminhava para o tetracampeonato brasileiro. Fomos para o Morumbi, empate em 1 a 1. Pela primeira vez na história, todos tínhamos certeza de que o Flu seria campeão antecipado. Na semana seguinte vencemos o Palmeiras por 3 a 2, o emblemático placar, e veio o tetra. Meu prêmio? Meu segundo livro, garantido pela editora, esse mesmo que sofreu uma farsa judicial tramada dentro do clube por “pessoas de bem”. Bom, a justiça foi feita.

Esse monte de histórias emboladas quer dizer que o jogo de logo mais é muito especial para mim. Ele fala de muitas coisas e rememora coisas demais. Faz chorar e rir, sonhar, pensar. O São Paulo é um dos times de fora do Rio que o Fluminense mais enfrentou na história. Há todo um sentido nisso tudo. Nunca é só um jogo.

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Até agora não pararam as mensagens de parabéns pelo aniversário de dez anos do PANORAMA TRICOLOR. Também não parou a minha alegria a cada abraço e apreço enviado. Muita gente torce por nós e isso nos deixa felizes.

É importante também registrar os silêncios de quem nos sabotou, boicotou e prejudicou. Eles também são parte da nossa história e, principalmente, da nossa vitória.

Mais de 25.000 páginas num possível livro, 700 programas de TV, 30 livros, 300 podcasts e tudo feito pela nossa mão, sem cópia nem reprodução desautorizada. Não dá para brigar com os fatos e números. Vencemos. Vencemos.

Meu agradecimento a todas as pessoas que, de alguma forma, colaboraram para o sucesso do PANORAMA, independentemente das relações pessoais que possam não existir mais. Graças a cada uma delas muitos tijolos foram erguidos para que o maior site, em conteúdo próprio, sobre um time no Brasil fosse feito. A causa é maior do que as pessoalidades.

Há muito a ser feito. Até.