Roberto Dinamite (por Paulo-Roberto Andel)

Dois de fevereiro de 1989. Vencíamos por 1 a 0, com um gol estranho de Donizete. Jogo duro, decisão de vaga para as semifinais da Copa União. De repente, a bola veio para o meio e Roberto deu um toque de primeira, por cobertura, um passe espetacular para Bismarck, que acertou um chutaço no canto esquerdo, de primeira. Um golaço. Eles empataram. E então eu me dei conta de que estava presente a um dos maiores jogos da história do Maracanã. No fim, o Flu na venceu numa noite fantástica, com prorrogação e golaço do saudoso Washington.

Outro jogaço, Fluminense 3 a 2 Vasco, 1981, Flu vencedor e Vasco classificado. As duas torcidas aplaudindo o fim do jogo, algo que só vi de novo no Fla x Flu do gol de barriga e, desde então, nunca mais.

Esse foi só um pedacinho do que era Roberto Dinamite, certamente o mais difícil jogador adversário que vi o Fluminense enfrentar. Fazia gol de todos os jeitos, chutando, cabeceando, batendo faltas. Quando dava o corte para a direita antes do chute, babau.

Um dos maiores artilheiros de todos os tempos, Roberto sempre representou um escudo do Vasco que anda. Nós todos, garotos cariocas do começo dos anos 1980 que não éramos vascaínos, o queríamos nos nossos times. E não era só dentro de campo.

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Era muito difícil não vê-lo sorrindo. Mantinha sempre o mesmo tom de voz, calmo, tranquilo.

Num tempo em que as pessoas só podiam ver futebol indo ao estádio, eu era um garoto apaixonado por futebol e dei sorte: vi vários gols de Roberto contra outras equipes que não fossem o Fluminense. Vi os cinco contra o Corinthians, os dois contra o Flamengo na primeira partida da final de 1981.

Sua história é tão grande que não cabe num texto e sequer num livro ou filme. Precisa de vários.

Há muitos anos, num aniversário de meu amigo Leo, chegou ninguém menos do que Ademir Menezes, seu tio-avô se não me engano. Lembro que ele parecia gigantesco quando apertei sua mão. Ademir, o maior ídolo vascaíno até a chegada de Roberto, fez história no Fluzão de 1946. Roberto, não. Tudo bem: não se pode ganhar todas.

Neste momento penso no Augusto, no Cassiano, no Luiz, no saudoso Xuru e em tanta gente da minha juventude que, num minuto, quarenta anos se amontoam em tardes maravilhosas no Maracanã, jogos incríveis, gols espetaculares e aquela velha paixão pelo futebol, algo muito difícil de explicar mas muito fácil de entender se você conhece ou conheceu o futebol carioca dos anos 1970 e 1980.

Ao mais temível dos adversários, um abraço para sempre, onde quer que esteja além dos nossos corações.