O que dizer a respeito do Fluminense? (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, por vezes tenho a impressão de que, realmente, nada mais resta a ser dito, e que estou fazendo hora extra nessa casa, adiando o inevitável. Não que minha vontade não seja permanecer indefinidamente aqui, uma pequena fagulha incandescente em meio a tantos holofotes… pelo contrário, mas é que simplesmente não me parece que haverá para quem escrever em um futuro cada vez mais próximo. Narrativas insidiosas são construídas no meio tricolor e perpetuadas aos borbotões; narrativas estas que não possuem qualquer ligação com a essência do que é ser Fluminense, com o valor histórico, com o peso institucional, com a tradição da camisa… mas que ainda assim encontram eco entre cada vez mais torcedores que não viveram uma época não só mais gloriosa de nossa história, mas mais consciente de nosso lugar, de nossas aspirações, de nossos valores e, principalmente, de nosso tamanho. Os mais novos, principalmente, estão sendo afetados pelo viés da mediocridade que está sendo lentamente semeado pelos atores da atual gestão.

São a perder de vista as colunas em que tratei deste assunto, cunhando inclusive o termo Fluham (embora não tenha certeza de que fui o primeiro a fazê-lo), prevendo já uma divisão que se acentua a cada dia entre os que ainda têm uma percepção plena do que é o Fluminense e aqueles que já nos consideram – ainda que talvez não tenham percebido isso – um time médio, um coadjuvante, uma equipe cujas aspirações não passarão disso aí… quartas de final de Libertadores e Copa do Brasil e brigar pra não cair no Brasileiro, pegando uma Copa Sul-Americana se der e, quem sabe, num ano em que só disputemos o Brasileirão, achar uma oitava vaga para a Libertadores, entrando na pré e festejando a boa campanha. E obviamente isso passa pela defesa da manutenção do péssimo Roger Machado, com discursos prontos e envelhecidos marinados por bordões como “deixem o Roger trabalhar”, “temos que apoiar incondicionalmente”, “o elenco é fraco”, “Roger tirou leite de pedra”, entre outros menos carnavalescos.

Não se enganem, tricolores. Não foi apenas a ausência de público que manteve Roger por tanto tempo no cargo. Isso contribuiu, é claro, mas muito se deveu ao fato de que boa parte da torcida demorou uma eternidade para entender o buraco em que estávamos nos metendo, e há quem ainda não tenha compreendido. “Dividir para conquistar” é uma antiga tática usada para vencer guerras, e é exatamente o que Mário Bittencourt e amigos têm feito. A torcida está dividida, não por política rasteira de grupos opositores, mas por ideologia mesmo acerca do que é e, principalmente, do que deveria ser o Fluminense. E quanto mais tempo se passar com essa mentalidade tacanha se propagando, maior será o dano. É interessante para alguém que deseja se perpetuar no poder que seu feudo seja visto como de pouca ambição. Quanto menor for a ambição, menor será a cobrança, e vice-versa. O torcedor do Fluminense gigante vai cada vez mais se sentir desestimulado e, pior, não reconhecerá mais o clube pelo qual sempre torceu. A crise de identidade tende a se agravar.

E se te soa estranho que, às vésperas de um jogo decisivo que pode nos levar à semifinal de uma Copa Libertadores novamente depois de 13 anos, meu discurso seja esse, o que posso te dizer, leitor tricolor, é que não tenho culpa. Não consigo evitar. A apatia que se abateu sobre mim é o presságio de uma catástrofe anunciada. Toda a carga sobrenatural que o Fluminense gerou ao longo de sua história precisará estar ao nosso lado para que um título venha para Laranjeiras nessa temporada. O time não é confiável, o elenco é inchado de jogadores medianos para fracos com salários elevados, veteranos que não conseguem se manter os 90 minutos em campo e um treinador que não parece ter a menor ideia do que está fazendo. Os jabaculês são presença constante, servindo de opção para jogos decisivos e nos tirando pontos preciosos. Apesar de tudo isso, pode ir lá para o Equador e ganhar. Um a zero nos leva a três jogos do título. Mas e aí? O choque de realidade já virá semana que vem, enfrentando uma equipe multimilionária que tem um treinador de verdade, Cuca. É plausível acreditar?

Roger fala constantemente que o time está jogando no limite. Se isso é verdade, como ele espera reverter uma sequência de tantos jogos perdendo ou empatando em algumas vitórias que precisamos conseguir a todo custo, seja para continuarmos avançando na Copa do Brasil ou para não voltarmos ao desespero de lutar contra o rebaixamento? E nosso presidente “pavestruz”, que aparece nas boas e some nos momentos difíceis, o que faz? Insinua que a permanência de Roger depende da classificação na competição que deveríamos querer ganhar a todo custo, e na qual precisamos vencer fora de casa. Ou seja, além de tudo é covarde, não assume a responsabilidade de demiti-lo e faz o possível para aproveitar todas as oportunidades de jogar a torcida contra si mesma, causando ainda mais divisão. Se o Flu sair da Libertadores, Bittencourt terá seu “álibi” para a demissão, mantendo o seu gado satisfeito. Se continuar, mantém o treinador da mesma maneira insustentável que já está, esperando apenas uma “oportunidade” para consumar o que, na prática, já está feito.

Por fim, amigos, a demissão de Roger me parece questão não apenas de tempo, mas de oportunidade. A menos que uma reviravolta louca aconteça e a mudança de esquema ensaiada pelo treinador dê certo, quem está mal se recupere (tanto física quanto tecnicamente), o banco de reservas volte a ter opções no mínimo razoáveis e livre de jabaculês, e o treinador utilize tais opções corretamente, dificilmente o cenário mudará. Como sempre, espero não entender nada de nada de futebol e testemunhar alguns milagres acontecerem. Afinal, precisando vencer em Guayaquil, a dois pontos da zona da degola no Brasileirão e prestes a enfrentar um dos times mais fortes do Brasil no mata-mata nacional, talvez seja a hora mesmo de uma maré positiva nos banhar e os ventos da sorte nos bafejarem. Da última vez que algo assim ocorreu, ficamos uma sequência de jogos invictos, escapamos do rebaixamento e fomos campeões brasileiros no ano seguinte. Quem sabe possamos voltar a escrever história e, de quebra, recuperar nos tricolores habituados à mediocridade a nossa grandeza. Que assim seja.

Curtas:

– John Arias é bom jogador, mas com Roger será provavelmente mais um para marcar lateral. Torço pro esquema tentado contra o Inter se firmar, pois Arias tem bola para pleitear uma vaga no meio ou entrar substituindo Ganso quando este cansar.

– Martinelli e Samuel Xavier estão mal, mas precisam ser bem substituídos e, principalmente, Roger precisa trazer opções de mais qualidade para substituir aqueles que porventura não estiverem bem. O banco tem sido muito mais mal escalado que o time principal, e nossa piora no segundo tempo dos jogos se deve tanto a isso quanto à necessidade quase empírica que Roger possui de realizar as cinco substituições.

– A zaga também andou batendo cabeça, mas talvez isso seja falta de entrosamento, além de cansaço. Nino ficou muito tempo fora. Vamos ver. É preocupante, e não sei se Roger terá capacidade para acertar a zaga se ela mesma não retornar às boas atuações de outrora.

– Palpites para a próxima partida: Barcelona-EQU 0 x 1 Fluminense.