A importância do CT tricolor e a outra questão (por Rodo)

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Acho louvável que alguns torcedores enxerguem o Fluminense como o gigante que é, e por isso protestem por um elenco mais qualificado, com melhores resultados. A torcida precisa mostrar aos dirigentes a grandeza do clube que eles administram, porque muitas vezes eles parecem se esquecer do fato.

Sigo debates calorosos nas redes sociais em que muitos apoiadores da gestão se manifestam em favor de uma política mais modesta no investimento do futebol para que sejam possíveis melhores investimentos em infraestrutura. Se a conta não fecha, precisamos priorizar e não vejo grandes problemas nisso. Sou a favor da política de austeridade e de investimentos em infraestrutura, ainda que isso comprometa os investimentos no futebol em curto/médio prazo. Natural que o torcedor, apaixonado por natureza, queira ver em campo uma equipe competitiva, e com isso crie o discurso de “Mais futebol, menos CT”, principalmente sendo um contraponto à defesa de que para investir no Centro de Treinamento é preciso investir menos no futebol.

A realidade é que o Centro de Treinamento é o primeiro grande investimento em infraestrutura no futebol profissional desde que o Estádio das Laranjeiras foi ampliado, em 1925. Existiram diversas obras e investimentos no Centro de Treinamento do Vale das Laranjeiras, voltado para as divisões de base, tanto nas gestões anteriores quanto na atual e isso não pode ser menosprezado, mas é um fato que o novo CT é um passo a frente, assim como será o presidente que construir um novo estádio, esse sim, talvez o maior passo em direção à austeridade e à garantia de um futuro possível e sustentável.

O que me questiono é se realmente precisamos investir menos no futebol para que seja viável a construção do Centro de Treinamento. O presidente Peter Siemsen se desfez do maior ídolo dos últimos trinta anos por questões financeiras, sem se preocupar com o valor imensurável que tem um ídolo. Penso que realmente não sabem o valor de um ídolo, por isso durante os sete anos em que o Fred utilizou a nossa camisa 9, nunca houve um único boneco dele à venda. Nem dele, nem do Conca, nem de ninguém. A verdade é que o Fluminense sabe usar (mal) todo o dinheiro que recebe, mas fazer dinheiro não é uma virtude tricolor.

Vejamos, considerando valores veiculados na imprensa, O Fluminense vendeu o atacante Fred por R$5 milhões e comemorou o fato de ter se desfeito do “custo” de R$33,6 milhões até o final de seu contrato. Olhando os números frios, chegamos a R$38,6 milhões. O zagueiro Henrique chegou ao Fluminense com contrato de três anos e salários de R$450 mil, mais o valor de R$10,8 milhões junto ao Napoli. Em números frios, Henrique custará ao Fluminense R$26,2 milhões até o final de seu contrato.

O Fluminense fez uma alta aposta em Richarlison, após o jovem atacante marcar 9 gols na série B de 2015. O Tricolor adquiriu 50% dos direitos econômicos do atacante junto ao América-MG por R$10 milhões. Esse investimento pode ser recuperado no futuro, já que o atacante, com apenas 19 anos, tem potencial e provavelmente um valor de mercado alto para futuras negociações. O atacante Pedro, oriundo das divisões de base (custo zero), joga na mesma posição, tem a mesma idade e já marcou quase 30 gols somente nessa temporada, pelos juniores. Seria necessário investir R$ 10 milhões em 50% dos direitos econômicos de outro atleta como aposta?

Desde a saída da Unimed, além dos jogadores citados, o Fluminense já investiu na contratação de jogadores como Victor Oliveira, Guilherme Santos, Vinicius, Lucas Gomes, Marlone, Giovanni, Osvaldo, Jonathan, Diego Souza, Renato Chaves, William Matheus, Maranhão, Dudu, Felipe Amorim, Wellington Paulista, Julio César, Ayrton, Antônio Carlos, Artur, Pierre, Breno Lopes, Magno Alves e Ronaldinho Gaúcho. Quantos desses vingaram ou tiveram atuações relevantes para suas contratações?

Entendo a necessidade de composição de elenco, fui a favor do retorno do Magno Alves, por exemplo, já que este tem identificação com o clube, e ainda rende mesmo com idade avançada. Hoje ainda é o melhor atacante do elenco, após a saída do Fred. Não que isso seja grandes coisas, mas é um ponto a ser defendido. E todas as outras contratações? As despesas compensaram? Não dava mesmo para manter o Fred porque precisavam investir em obras do Centro de Treinamento? Só com Willian Matheus, Dudu e Maranhão, o Fluminense deverá gastar R$ 12 milhões, com salários, aquisições e luvas.

Não podemos esquecer que desde que assumiu a presidência do Fluminense, Peter Siemsen já se desfez de jogadores como Leandro Euzébio, Rafael Sóbis e Emerson Sheik, além de vender atletas como Mariano, Bruno, Carlinhos, Jean, Thiago Neves, Conca (duas vezes), Rafael Moura, Wagner, Marquinhos, Fabinho, Wellington Nem, Biro Biro, Kennedy, Gerson e ao que parece Marlon. Qual seria o montante de economia e ganhos com todas essas negociações?

Não preciso lembrar que hoje o Fluminense ganha mais de cotas de TV do que ganhava antes, ganha mais da Dry World do que ganhava da Adidas, e a própria Adidas já pagava bem mais do que pagava antes. Anuncia com orgulho superávit, e mesmo assim, não consegue sequer ter uma loja oficial online vendendo seus produtos.

O Fluminense, com contrato em vigor junto à Vitton 44, abriu mão do mesmo porque a empresa não poderia mais arcar com os custos junto ao clube, mas ainda investe em placas publicitárias nos estádios e em clubes nos EUA. Hoje não tem patrocinador Master.

O Fluminense conseguiu fazer um contrato favorável com o consórcio que administra o Maracanã por mais de trinta anos e depois mudou isso, passando a ter prejuízo, para equilibrar os ganhos/custos do consórcio, dando a eles até parte do sócio futebol.

O problema do Fluminense não é o centro de treinamento, longe disso. O problema do Fluminense é a incompetência para investir em ações de marketing, incapacidade de estudar e cativar o seu público alvo e principalmente, incompetência para gerir o futebol, carro chefe de um gigante que nasceu com o sobrenome de Football Club.

Panorama Tricolor

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Imagem: tc