Quanto vale o show? (por Walace Cestari)

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Que a venda de Gérson eram favas contadas, todos sabíamos. Muito se fala a respeito da saída de jogadores jovens para o mercado estrangeiro – em especial o europeu –, de forma a demonstrar que tais negócios ocorrem tão somente porque os clubes brasileiros estão falidos, de pires nas mãos e precisam deste dinheiro para sua própria sobrevivência.

Nada pode ser mais falso no caso de Gérson. O Fluminense está, sem dúvida, fazendo um dos melhores negócios que poderia fazer. Não porque esteja endividado e, assim, obrigado a desfazer-se de sua revelação, o que empobrece o futebol brasileiro e todo aquele blá-blá-blá mequetrefe da imprensa.

Sejamos sinceros: Gérson pode até jogar bola, mas não é craque. Pode vir a ser um dia. Hoje, não é. Tem potencial, como vimos inúmeros outros também demonstrarem potencial. Valeria a pena segurá-lo por dois ou três anos esperando sua evolução? Futebol também é risco, sem dúvida.

O Flu receberá aproximadamente 45 milhões de reais pela venda do jovem de Xerém. Tendo isso em mente, proponho o seguinte exercício de raciocínio: tivéssemos dinheiro em caixa, Gérson pertencesse a outro clube e estivesse à venda, alguém defenderia pagar R$ 15.000.000,00 para contratar o garoto?

Eu responderia que não. Não pagaria quinze milhões (um terço dos 70% a que o Flu faz jus) para tê-lo na equipe. Acho que seria um risco grande demais para uma aposta. E, se imagino que não valeria a pena gastar 15 mi para contratá-lo, fica evidente que vendê-lo por 65 milhões é um negócio mais que irrecusável.

Com isso não quero afirmar que o garoto não seja bom de bola, de forma alguma. Gérson já demonstrou ter talento, mas anda abalado com tanta badalação sobre seu futebol. A ponto de chatear-se pela possibilidade de ficar no banco de reservas, o que é imaturidade e um pouco de estrelismo, talvez incutido pela onipresença de seu pai na carreira. Ele em algum momento viu-se como titular absoluto do Barcelona? Da Roma? Estejam certos que, até demonstrar alguma consistência, vai alternar entre banco e campo no modesto Bologna.

Ultimamente, por conta dessa novela de negociação, o garoto tem ajudado pouco o Flu. Tem estado letárgico e pouco atuante nas partidas. Marco Júnio, Gustavo Scarpa e Marlon têm oferecido bem mais à camisa tricolor. E bem mais baratos.

Não imagino que a situação vá realmente modificar-se daqui até o final do ano. Quem arriscaria um contrato milionário enfiando o pé em uma dividida com um “botineiro” qualquer do Campeonato Brasileiro? Mas, o Fluminense precisa dos dois pés de cada um nas divididas. Precisamos de sangue e suor. Talvez seja hora de Gérson sentar-se no banco e ver a luta dos outros guerreiros. Entrar de vez em quando, ajudar com um ou dois toques quando o jogo não exigir uma superação além das possibilidades do rapaz.

No mais, o objetivo é manter-se no topo, perseguindo os líderes para aproveitar qualquer deslize que cometam para nos apossar da liderança e transformá-la ao final do ano em taça. Que o dinheiro da venda de Gérson seja utilizado para zerar dívidas, para que possamos ter um futuro sem adiantamentos, sem novos endividamentos e com a certeza de que a fábrica de Xerém continua formando nosso presente e o futuro do futebol brasileiro.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: http://globoesporte.globo.com/

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