Por que o Calegari cobrou o pênalti? (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, não sei se posso chamar a jornada da noite deste domingo de tenebrosa. Tem lá alguns aspectos que contribuiriam para tal percepção.

Yago esteve muito mal no jogo desde o princípio, embora seja um jogador em que eu confio. A entrada de Keno no segundo tempo em seu lugar tornou o time mais produtivo ofensivamente. Poderíamos ter encaminhado a fatura logo no início da segunda etapa, quando Ganso fez passe magistral para Keno, que foi derrubado na área, em lance que, na minha opinião, deveria ter gerado um cartão vermelho para o defensor alvinegro, já que o atacante tricolor sairia na cara do goleiro.

Já esperávamos por uma cobrança de Paulo Henrique Ganso, que, por merecimento e lógica, deveria ter sido o cobrador, mas todos nos surpreendemos ao ver Calegari com a bola debaixo do braço. Minha primeira reação foi comentar sobre a polêmica que seria gerada caso o nosso lateral perdesse o pênalti. Não deu outra. Penalidade mal cobrada, a meia altura e bela defesa do goleiro alvinegro.

Calegari, até então, era um dos melhores em campo, com ótima exibição técnica, mas acabou jogado aos leões ao perder a penalidade máxima. Não sei quem decidiu que tivesse que ser assim, só sei que é um absurdo ter um cobrador como o Ganso, que vinha se notabilizando por converter todas as cobranças ao longo da última temporada.

Para piorar, alguns minutos depois o atacante do Botafogo recebe bela enfiada de bola pela esquerda e avança soberano em direção ao gol de Fábio, com tempo de levantar a cabeça e bater rasteiro, no canto esquerdo, de forma indefensável. Já no final da partida, outro lance parecido, em que a defesa do Fluminense se preocupou em marcar o passe e o atacante avançou como quis, até fuzilar para marcar o segundo, mas Fábio estava lá para defender de bochecha.

Devemos nos preocupar ou nos desesperar? Fico com a primeira opção, sem, no entanto, dar muita ênfase a esse sentimento. Mas temos que admitir que o primeiro tempo do Fluminense foi irritante. A rotina de jogo do Flu era semelhante a de um escritório, repetitiva e desprovida de maior agressividade. As jogadas só saíam quando Jhon Árias delas participava, o que é, sim, muito preocupante.

Ao ponto de Cano só participar do jogo quando se intrometia entre os homens de criação, só pelo prazer de participar da brincadeira. Em outras palavras, já está na hora do Fluminense colocar o dedo na tomada, porque o jogo de hoje foi o marco zero para a temporada 2023. Jogamos contra um time de Série A, que não teve vergonha de atuar defensivamente, mas igualou o Prêmio Nobel do Esporte no quesito mais importante do jogo, que são as oportunidades de gol criadas. Para sorte e recompensa deles, converteram uma, que foi o suficiente para saírem de campo com a vitória.

O Fluminense foi mais nervosismo do que impetuosidade e inspiração, as marcas do time que todos esperam ser uma das forças competitivas da temporada. Ganso e Árias foram os melhores do time. Aliás, Ganso abusou de fazer jogadas sensacionais, inclusive com uma cobrança de falta venenosa, o que deve vir a nos mostrar que não são só más notícias. Assim como as substituições, em que Giovanni e Arthur ganharam oportunidade, embora já no final da partida.

Não gostei do que vi, mas também não é para alimentarmos a frustração, apesar do resultado. Nunca é bom perder um clássico. Por outro lado, ainda estamos no início da temporada, com muitas coisas a observar, e não sabemos o que se passa na cabeça de Fernando Diniz.

Por ora, paciência, muita paciência, menos com a arbitragem do jogo de hoje, que essa merece outro tipo de reação. Amarrou o jogo o tempo todo, mais parecia uma reunião de condomínio, que, sabemos, é uma das coisas mais improdutivas que a raça humana foi capaz de criar. Deu apenas seis minutos de acréscimos, o que deu para cobrir, no máximo, o tempo que o VAR levou revisando o lance do gol do Botafogo, que foi absolutamente legal. Para piorar, terminou o jogo antes de esgotados os tais e ridículos seis minutos.

O ritmo ainda é de preparação, mas não se pode aceitar que um time que repete o técnico, o modelo e a escalação com que terminou a temporada passada, se permita cumprir jornadas quase enfadonhas, com domínio tático, mas enorme dificuldade de suplantar as barreiras defensivas adversária, que serão a nossa rotina na temporada. Ainda mais concedendo contragolpes como os que vimos hoje, com nossas linhas avançadas ficando rendidas.

Continuamos no aguardo de uma grande exibição do Flu de Diniz. Sem desespero, choro ou lamentação, mas esperando mais inspiração de um time que depende dela para ser um dos melhores do Brasil.

Saudações Tricolores!