Pintinho, um monstro da bola (por Paulo-Roberto Andel)

Essa é difícil de escrever. Como definir Pintinho? Como comparar Pintinho com todos os jogadores que o sucederam em sua posição no Fluminense?

Honestamente, não dá.

Simplificando a questão, é um dos maiores jogadores da história do clube. Ele era um dos garotos da base que, ao lado de feras da Seleção Brasileira, integrou a fabulosa Máquina Tricolor que, de tão importante, é falada e decorada quase meio século. Muita gente não se lembra das escalações de 2011, 2006 ou 1993, mas as de 1975 e 1976 são eternas. E a Máquina é o mais emblemático time da história tricolor, provavelmente só superado pelo super time dos anos 1930, que ganhou tudo e certamente seria a base da Seleção Brasileira de 1942, não houvesse a maldita Segunda Guerra.

Além de ser um monstro da bola, no passe, na elegância e categoria, Pintinho era um tremendo marcador conforme exigia sua posição de volante. Com seu combate leal e técnico, quase levou um tal de Zico à loucura. Craque por todos os poros. Magrinho, ágil, com sua cabeleira Black e as meias arriadas nas canelas, ele era o protótipo do craque carioca.

Nós, garotos de 1968, ficamos completamente loucos em outubro de 1979, quando aconteceu o famoso Fla x Flu da não estreia da FlaGay, uma grande confusão com direito até a coluna de João Saldanha, então o jornalista de futebol mais lido do país. O Flamengo era o grande campeão, o favorito, o supremo, mas diante de 100 mil pessoas o Fluminense, todo de branco, deu um show e fez 2 a 0 no primeiro tempo, com um golaço de Rubens Galaxe e outro dele, Pintinho, marcando de cabeça e comemorando com uma “banana” (gesto jocoso com o braço) para a torcida rival, que o xingava, sabendo de seu enorme talento. No segundo tempo, Paulo Goulart pegou um pênalti de Zico, Cristovão fez um golaço, o Flu venceu por 3 a 0, virando o assunto do Brasil naqueles dias. Naquele momento o Flu sofria: estava há três anos sem um título carioca e “só” conquistara a Taça Teresa Herrera em 1977

Pintinho foi titular do Fluminense entre 1973 e 1980 (com breve retorno em 1984) e fez quase 400 jogos pelo clube. Em todos eles mostrou sua categoria e talento em campo. Por incrível que pareça, não dominou a posição de volante na Seleção Brasileira – mesmo num tempo de grandes jogadores, ele foi o melhor volante do Brasil por muitos anos, melhor inclusive do que Toninho Cerezo, titular da Seleção em 1978 e 1982 e que jogou demais. Pior para o Brasil. Não havia um garoto que jogasse botão naqueles dias e não tivesse um Pintinho em seu time titular.

No dia seguinte daquele Fla x Flu de 1979, a crônica de João Saldanha não deixou dúvidas em seu desfecho. Escreveu Saldanha: “Pintinho e Paulinho (Goulart) foram dois monstros”. Definição certeira de quem viveu e pertenceu ao melhor momento da história do futebol brasileiro.

Quase quarenta e quatro anos depois daquela noite de gala, me sinto à vontade para ampliar a definição de Saldanha: Pintinho foi um monstro da bola em toda a sua carreira, em grande parte vivida com os maravilhosos uniformes tricolor e branco do Fluminense. Nós, garotos daquele tempo, desde então vimos muitos grandes jogadores e vários craques, mas ninguém se parece com Pintinho. Ele é único.