Pênaltis de novo (por Zeh Augusto Catalano)

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Copa do Mundo de 2014. Uma das muitas reportagens durante o torneio, já na fase de mata-mata, informava que o Brasil tinha treinado pênaltis. Cada jogador tinha batido três pênaltis.

Aposto que você riu ao ler isso. Parece piada. Mas é verdade. Enquanto jogadores de basquete, por exemplo, passam horas batendo lances livres, chutando de três pontos, se aperfeiçoando nos fundamentos do jogo, nossos craques autossuficientes se acham superiores a tudo isso. Acham que não precisam treinar. Recebem salários surreais para jogar futebol mas não se preparam para o jogo. E isso não é no Fluminense. É no futebol brasileiro.

Na cabeça burra de um “craque” qualquer, ele não precisa treinar pênaltis. Ele não é batedor. Fulano, Beltrano e Sicrano são os batedores do time. Então pra que perder tempo com isso?

Ai, surge a ocasião, como a de Botafogo x Fluminense. E você vê no semblante do atleta, que ele não está indo bater um pênalti, mas caminha para o cadafalso. O pavor está no rosto porque ele nunca treinou aquilo. Não tem costume de fazê-lo. Não é uma repetição de algo treinado. É o seu juízo final final público.

Sua sorte é que do outro lado também há um sujeito que não é bem treinado para catar os pênaltis mal batidos que lhe são oferecidos aos montes.

Confesso ser um tremendo mistério para mim o porquê dos goleiros brasileiros ainda persistirem em se atirar para um dos lados, resolvendo o problema da grande maioria dos batedores inconsistentes. Cavalieri quase defendeu um dos pênaltis mais bem batidos pelo Botafogo. A bola, grande azar, entrou rente à trave. Incrivelmente, após esta quase defesa dificílima, resolveu voltar a escolher um canto. Três pênaltis em seguida foram batidos no meio do gol e ele não estava mais ali para catá-los. Quem orienta estes goleiros (praticamente todos) a fazer isso? Por que não há uma alma a dizer: “Meu filho, fique parado ai no meio. Se for bem batido, você não vai nem ver. Se for mal batido, você pula e pega”. É muito irritante. Cobranças patéticas entram pererecando no centro do gol enquanto o goleiro mergulha para o nada.

Culpa dos goleiros? Provavelmente não. Se os batedores não treinam, é de se supor que os goleiros tampouco.

Acho Cavalieri um senhor goleiro. Imagino que se os jogadores de linha pensam que não precisam treinar pênalti, um goleiro então…

Tão irritante quanto a situação dos pênaltis e tão comum quanto é o maldito córner curto. A parelha de beques sobe pra tentar o gol de cabeça. O córner é cobrado curto e pra trás e o cruzamento, ao invés de pegar a defesa torta, de lado, e os atacantes entrando de frente, inverte essa relação. A defesa passa a estar de frente pro lance e o contrataque é quase automático.

Não sei quem foi a cavalgadura que trouxe essa involução pro futebol. Merece todos os impropérios que a sua imaginação puder trazer.

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Nos desenhos animados, há a figura, distante para os brasileiros, da bola de neve. Começa pequeninha, lá no alto da montanha. Quando chega embaixo, é um treco gigante amassando o que estiver pela frente. Esta história do processo do livro do Andel é um exemplo disso. Apareceu semana passada, como uma pequena crise a ser resolvida internamente. Não o foi. O tempo está passando e o que era para ser um problema banal a ser tratado pela instituição e seus líderes – ambos advogados! – já virou uma cagada de repercussão nacional. Já foi parar nos blogs de Veja. Quanto mais o tempo passa, mais a confusão aumenta. Periga fugir de controle e atingir quem já deveria ter tomado atitude mais enérgica.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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