Pausa & calma (por Paulo-Roberto Andel)

pause

Vai ser bom.

Chato mas bom.

Duro para quem curte o time de seu coração esperar vinte dias para ver um jogo. Parece aquela aflição de dezembro – você fica esperando o jogo do Fluminense até o fim de janeiro.

Vinte e poucos dias para o tricolor se reconstruir. Repensar o passado e o presente. Dar os passos que o futuro exige. Contra Botafogo e Olimpia, momentos cruciais, falhamos feio e isso não cabe repetição. Que tal nossa reinvenção?

Repensar os erros, deixar de lado o que não merece atenção, priorizar o que realmente deve ser prioridade.

Pode haver mudanças no Flu e isso é positivo. No mundo dinâmico do futebol, mudar tem todo sentido. Claro que as peças pricipais são imprescindíveis, mas as mudanças são parte integrante do futebol e isso é inevitável. Certo mesmo é que tem uma garotada no elenco e isso vai ser importante para inclusive fazer do Fluminense um time mais rápido, ousado, impetuoso – quem sabe num segundo tempo? – quem sabe no jogo inteiro? Outra coisa: estamos sem ligação entre meio e ataque. Com Deco ausente, penamos. Felipe poderia ter sido melhor aproveitado. Tomara que Abel ajuste esse problema.

Há quem diga que quando as coisas estão dando certo não se deve mexer. Nem sempre concordo. Estou do lado de Muddy Waters: “Rolling stones gather no moss” – pedras que rolam não criam limo.

No caso tricolor, com um ano diferente de 2013 para “pior” – não estão dando certo como antes –, mudar é preciso, nem que seja o espírito. Mas não cabe exacerbação ou chiliques: não é nenhuma aberração acreditar em nova classificação para a Libertadores ou mesmo o pentacampeonato, desde que erros sejam corrigidos e não tenhamos mais dez, onze ou treze desfalques.

Elenco, temos, posibilidades idem.

A pausa vai ser boa para todo mundo.

Quem precisa de mais dedicação, concentração e forma física no time. Quem precisa sanar a escassez técnica. Não demos liga esse ano. Fizemos várias partidas boas, mas nenhuma brilhante como em 2012. Agora é concentrar todas as forças neste semestre. O Brasileiro e a Copa do Brasil são importantes. Lutar pelo penta é fundamental.

Em julho, vamos saber o que podemos esperar de dezembro. Ou, pelo menos, começar a saber.

A pausa vai ser boa até para pequena parte da nossa torcida, que pode refletir se vale a pena viver vociferando pelas redes sociais contra a porcaria de um time que ela sequer prestigia. Mais uma vez (alguns têm dificuldade em entender o que digo), não tenho nada contra quem não queira – VOLUNTARIAMENTE – acompanhar o time em seus jogos, exceto pelo ridículo que é xingar a Deus e o mundo num desespero que nada tem a ver com o apoio direto.

Alguma coisa mal-resolvida dentro de si.

Se a tua mulher, o teu amigo ou o teu restaurante predileto tornaram-se uma porcaria, não é hora de mudar? Eu não perderia tempo com o Fluminense se o detestasse ou o achasse uma bost@, há coisas mais interessantes a se fazer no inverno que se avizinha. Muitas.

Reclamar do que não se apóia? Felizmente gosto muito e prossigo por aqui. Estamos todos no mesmo barco, alguns querem ser melhores do que os outros porque xingam mais, “conhecem futebol” (eram os mesmos que desistiram em 2009) e “sabem” que tudo está errado… (só não inventaram ainda a fórmula da vitória permenente). Diria Noel Rosa: “Quem é você que não sabe o que diz/ Meu Deus do céu, que palpite infeliz”.

Passionalidade não precisa rimar com ignorância. Podemos gostar e também vivenciarmos nossa lucidez.

O Fluminense tem a estrada da calma e da paciência. Sempre foi assim. E isso nada tem a ver com o sofisma do otimísmo ingênuo – argumento número um dos que estão de mal com a vida. Os problemas aí estão para serem resolvidos, é o desafio da vida.

Nada como um intervalo para colocar nervos no lugar e traçar as novas estratégias.

Não me peçam pessimismo oco.

Sou dos tempos de Fanta e Paulo Lino. Ou do circo nas Laranjeiras. Autobol. Não preciso falar de rebaixamentos, os escritores cuidam disso como ninguém. Alaércio, Julio Alves, Chiquinho e Dudu? Ailton Cruz, Alexandre Lopes? David? Rissut, Evando e Angelo? Jogos contra Dom Pedro, Serra, Anapolina e a tempestade na falecida geral contra o Náutico?

Prefiro o tri e o tetra “sofridos” dos últimos três anos.

Hoje estamos bem. Muito menos do que podemos ou queremos, mas estamos bem.

Um de nossos poetas maiores, Cartola, certa vez escreveu: “O sol nascerá”.

Quem sou eu para duvidar do mestre?

Vinte dias para arrumarmos a casa. Oxalá o carnaval aconteça, na voz da belíssima Maria Teresa Salgueiro.

Eu sempre acredito.

Nada a ver com otimismo ingênuo, o velho sofisma: minha confiança vem dos jornais, livros e testemunhos dos últimos trinta e cinco anos.

À essa altura da maturidade, não me permito a ignorância de rasgar a história.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

ANUNCIO 1995