Paulo Henrique Ganso, do inferno ao céu (por Roberto Rutigliano)

Ganso começou no Santos junto com Neymar em 2012. Era um jogador cotado para ir ao Mundial de Clubes porque parecia ser aquele meia armador ideal: um camisa 10 elegante e preciso nos passes.

Ele deixou o Santos em 2012 rumo ao São Paulo. Entre 2016 a 2019, teve uma experiência pelo futebol europeu, passando por Sevilla e Amiens sem nenhum destaque. Em 2019, voltou ao Brasil para jogar no Fluminense, onde continua até os dias de hoje.

No Fluminense ficou muito tempo brigando com técnicos. Quem não se lembra daquele episódio que ele protagonizou com Oswaldo de Oliveira? Ganso o chamou de burro ao ser substituído e o técnico o chamou de vagabundo na frente de todo o mundo.

Ganso foi questionado pela torcida por fazer parte daquela galera com contratos longos (cinco anos), ganhando salários astronômicos (ele recebe 400 mil por mês) e ficar no chinelinho. Ou seja, se fingir de morto e não jogar nem treinar usufruindo de uma grana fácil. A torcida cobrava compromisso e ele não correspondia às expectativas geradas em torno de seu passado.

Contratado na época de Fernando Diniz (2019) ficou recuado numa função diferente, como segundo volante, mas a falta de entrega e disposição em campo fazia dele um alvo fácil de marcação por conta da sua lentidão.

Ganso ficou boa parte do tempo no departamento médico por conta de contusões. Depois teve nova chance jogando como um falso centroavante até quebrar o braço, o impedindo de jogar no final de 2021 pela Libertadores e pelo Brasileirão.

O jogador mostrou interesse em sair do clube, mas o Santos não queria gastar mais de 200 mil por mês, de modo que a transação não foi adiante. A torcida santista não o queria, achava que estava velho e sem vontade. A torcida do Fluminense também não o queria, a situação era a pior possível.

O Fluminense carecia de um jogador nessa posição, mas pelo histórico recente Ganso era um peso morto no elenco.

A VOLTA POR CIMA.

De repente Ganso mudou. Não sabemos se ele sentiu que já tinha 32 anos, que estava no fim da sua carreira e que teria que dar uma virada na sua vida, ou o carinho que recebeu da torcida do Fluminense quando Abel Braga o colocava apenas durante alguns minutos o empolgou, mas a verdade é que ele fez sua estreia no Fluminense nos últimos dois jogos.

Ganso voltou a mostrar aquela classe, aquela cabeça erguida que nos faz lembrar jogadores como o maestro Sócrates ou como Fernando Redondo. O Ganso motivado agora ganhou velocidade, ganhou a titularidade absoluta, ganhou confiança, está feliz e o melhor: oferece ao elenco do Fluminense o serviço de um meia armador capaz de dar passes milimétricos, colocando os outros jogadores em situações privilegiadas o tempo todo.

A TORCIDA AGRADECE.

O elenco do Fluminense tem bons goleiros, bons zagueiros, tem bons cabeças de área, tem um bom goleador, um bom segundo atacante, mas carece de laterais e carecia de um camisa 10.

A diretoria, sem entender este panorama ou motivada por ganhos pessoais, contratou um goleiro, um cabeça de área, atacantes, laterais medianos e até outro zagueiro, mas não contratava um meia armador que era o que partia o time ao médio.

Mário ainda vendeu Luiz Henrique, que era uma de nossas principais armas no ataque e, com a saída da Libertadores, o time ficou na lona.

Com a subida de rendimento de Ganso nos jogos contra o Flamengo, com a conquista do Campeonato Carioca, com a postura ofensiva do time mostrando para Abel que a retranca nem sempre é a saída, o Fluminense ganhou uma competitividade incrível.

Embalados pela vitória contra o clube de remo e contra o Oriente Petrolero, o Fluzão se prepara para enfrentar o Santos na estreia do Brasileirão almejando estar entre os quatro melhores times do Brasil.

Parabéns Ganso e tomara que continue sendo aquele médio fantástico que toda a torcida estava esperando.