Quando outubro chegar (por Claudia Barros)

“Vê, estão voltando as flores
Vê, nessa manhã tão linda
Vê, como é bonita a vida
Vê, há esperança ainda”

É com essa lindeza musical de Paulo Soledade que começo meu texto de hoje.

Deu vontade de escrever sobre bizarrices no Fluminense, talvez inspirada pelas bizarrices pujantes do cenário político brasileiro.
Nunca foi novidade o surgimento de figuras icônicas, caricatas e incomuns na cena política do Brasil: caçador de marajás, celebridades, palhaços, “meu nome é Eneas”, messiânicos. Já vimos de quase tudo. E continuamos a ver.

O que parece ser só uma piada (e de mau gosto), um meme, um grito da galera, tem potencial para se transformar numa agrura com custos incalculáveis para um Estado e para um povo.

No futebol não é diferente. E assim fiquei pensando em jogadores com perfis, digamos, incomuns, que já vestiram a camisa mais linda que meu olhar alcança.

Lembrei de Carlinhos Itaberá. Figura que passou pelo Flu no início da década de 1990, conhecido como esforçado, aguerrido e respeitoso com o clube, não conseguiu uma grande marca, salvo pelo grito de guerra que a torcida lhe devotou: I-ta-be-rá!.De fala rápida, dicção ruim, tornava-se um jogador folclórico naqueles anos difíceis do Flu.

Lembrei de Rissut. Lembram dele? Vindo da Ponte Preta, é considerado um dos jogadores menos expressivos que já passou pela nossa lateral direita.

Lembrei de Marcelinho das Arábias. Contratado do famoso Al Wahda, dos Emirados Árabes, o simpático atacante passou quase despercebido pelo clube. Aliás, o Flu já demonstrava adorar esse tipo de contratação.

Em 2022 também se viu folclore e bizarrice nas contratações tricolores. Nada contra, desde que resultassem em sucesso, títulos, projeção, dinheiro e palco positivo para o Fluminense.

Mas um clube com tantas glórias não precisa relembrar esses encalços. Não é verdade?

Foi aí que deu outra vontade, a de escrever sobre flores, sobre esperança, sobre construção, sobre democracia, sobre diversidade, respeito, paz, segurança, saúde, educação, cultura ampla e diversa, famílias baseadas em amor.

Lembrei, então, que estão voltando as flores.

A primavera começou recentemente e eu, que moro no Cerrado e sou da Caatinga, percebo em ambos os biomas aquela vegetação seca (igualmente bela), as folhas caídas, a água escassa. Mas, bastam as primeiras chuvas para que brotem folhas, flores e frutos. Para que os pássaros migrem, façam ninhos, cantem, seduzam, acasalem e assim a vida explode em beleza e amor.

Então, ao invés de bizarrices, esperanças.

É assim que desejo além de um maravilhoso futebol tricolor pela 29ª rodada do Brasileirão, um dia 02 de outubro de recomeços, reconquistas e ares primaveris.