Grandeza intrínseca: os desafios de Mário, Fred e Fluminense (por Leonardo Maia)

A hora é de decisão para o Fluminense. E não falo apenas da final do turno.

É fato que temos vivenciado crises seguidas no clube e no futebol. Circo nas Laranjeiras, quedas seguidas de divisão, até a inacreditável queda para a série C, dívidas impagáveis, permanentes atrasos de salários, dirigentes inexpressivos, descuido com o patrimônio do clube e até desprezo pela sua torcida.

Um mau presidente sempre poderá reivindicar esse passivo recebido, para se eximir de responsabilidades: ‘Não fui eu!’

Mas, por tudo isso, é que, mais do que nunca, precisamos de um bom presidente. Ou, mais do que isso, de uma diretoria profissional, verdadeiramente qualificada. Que sinalize para a torcida que esses problemas estão e serão de fato enfrentados e, afinal, vencidos. É possível? Claro que sim! O nosso adversário desta quarta está aí para confirmá-lo. Saiu de igual estado falimentar para montar o melhor time continental. E em poucos anos. Têm eles, sem dúvida, sempre a mão amiga estendida da globo, da ferj, da política… Pouco importa. Do nosso, cuidamos nós. Se vamos demorar toda uma década para de fato refundar o clube, que seja! Mas isso precisa em algum momento ficar claro como projeto e como planejamento.

O que não dá é para seguir nesse modelo inercial, de mera rolagem dos problemas, e da coligação interesseira de parasitas, para ver o que é ainda possível roer, o que é ainda possível dilapidar nas Laranjeiras.

Precisamos, em resumo, de um Plano de Metas. Precisamos de um JK. Ou o Flu vence 50 anos em 5 anos, ou em 5 anos periga ele já não ter mais qualquer condição de se refazer.

Seria o MB esse presidente? Já deu para ver que não. Não chega a ser propriamente um ‘homem sem qualidades’. Em relação ao Flu, ao menos demonstra um amor verdadeiro e, quando o serviu como advogado, também sempre mostrou aplicação e entrega.

Mas, isso só, é pouco. Em particular, é pouco até mesmo para se livrar do peterismo e do flusocismo que ainda orientam a sua gestão. Seguem no clube Angioni, Simone e vários PJs ainda da época do Peter… É possível confiar em um NOVO presidente que não faz muita questão de se diferenciar dos anteriores?

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De imediato, como sempre, a solução mais simples é montar time. A boa administração se mostra aí, sobretudo. Um clube organizado que não ganha nada é o mais próximo de um clube mal administrado, e assim segue desencantado da sua torcida.

Nesse particular, o Mário é um desastre. Precisa com urgência reconhecer essa deficiência, que já fora evidenciada nos seus tempos de VP de futebol, e terceirizar essa atribuição em definitivo. Mas não para Simone e Angioni, que podem ser até muito seus amigos, mas não parecem muito dispostos a ajudá-lo, ou não podem, não sabem.

Em um ano em que certamente poderíamos já começar a botar a cabeça de fora no futebol, como resultado de uma melhor administração econômica que começou com Abad e foi estendida e até aprofundada pelo próprio Mário, tínhamos condições para trazer melhores jogadores e técnico. Porém, nem uma coisa nem outra. Torramos grana considerável em jogadores que claramente não dariam retorno porque já não davam há anos. O último deles, o Fred, que já não rendia bem quando saiu do clube. Que dirá agora, com quase 37 anos… Mais do que nunca, foi cone nessas duas últimas partidas, e se arrisca a ter um final melancólico no clube em que foi grande ídolo, e arrastar com ele o próprio Mário, que se agarra a certas soluções que, francamente, não se entende muito bem como podem lhe parecer tão boas… Como já falei, contrata com o álbum de figurinhas na mão.

Tampouco darão certo Egídio, Hudson, Digão, Gilberto… Não tinham por que ser contratados ou mantidos.

Seria muito melhor, por exemplo, ter-se apostado na força da nossa base. Sem tricolagem ou presepada, o Fluminense segue sendo uma potência não apenas local, ou nacional, mas mesmo mundial nesse ponto. Em análises recentes, em diferentes sites esportivos, se formada uma seleção só de jogadores oriundos das próprias bases, o Flu levaria uma honrosíssima segunda colocação, ou no mínimo a terceira, dentre todos os clubes brasileiros. E isso, em meio a toda essa prolongada crise nossa. Ele, contudo, é dos menos beneficiados por essa sua grandeza intrínseca. Cada vez mais, as nossas revelações saem cedo, e sequer chegam a ganhar nada pelo clube. E, bastaria nos organizarmos minimamente, para termos um verdadeiro time, com pilares assentados quase que exclusivamente na nossa base.

Base mais cinco ou seis boas contratações a cada ano, mais bom treinador. É o ‘modelo Santos’ que, para o momento, tem de ser também o nosso.

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Para o curtíssimo prazo, é preciso que o Mário decida se quer mesmo ser presidente do clube ou se lhe basta um pequeno triunfo egoico. Dar entrevistas à TV e às rádios, frequentar as manchetes de sites esportivos e blogs etc… É só isso? Se for só isso, posso dizer com certeza: será bem sucedido. O Flu ainda é grande demais para que se esqueçam dos seus presidentes. Porém, será só isso. Será apenas mais um chefe de uma potência em extinção.

Por outro lado, ainda há tempo para se reinventar e revisar o sentido do seu propalado amor pelo clube. Forme uma diretoria de futebol de fato, e não de amigos.

Se não há muito dinheiro, há ainda gente amiga do clube, que pode estar disposta a ajudar talvez sem cobrar tanto. Dou três exemplos, de eternos tricolores, que nunca esconderam nem escondem o seu carinho pelo clube: Parreira, Abel e Ricardo Gomes. Poderiam formar um conselho consultivo, um Senado tricolor.

E, para as posições de Angioni e Simone trazer profissionais emergentes, não muito caros, para pensar junto com aqueles, um real projeto de resgate do futebol do clube. Talvez, revisitar as diretrizes da primeira gestão do Peter, que foi muito boa. A segunda é que fez esquecer por inteiro os pontos positivos da anterior. Além disso, se reaproximar do Celso. E, se possível, também do Antunes. Pelo fato simples de que ambos são dos maiores vencedores da nossa história e, como Maquiavel já dizia, não faz mal nenhum se cercar de vencedores; no mínimo, serão melhores conselheiros do que aqueles que só sabem perder e só conhecem derrotas. Só no Flu, aliás, esse tipo de gente, derrotada e derrotista, parece fazer tanto sucesso…

Peça desculpas ao Odair, que parece ser um cara bem-intencionado, e faça ver a ele que já não pode mais esperar por resultados. Ou então, lhe dê os reforços que pede. Como acho, porém, que o problema não é só de reforços, eu cuidaria de trazer JÁ um novo nome para treinador. Que técnicos mais ou menos baratos, e sobretudo arrumadores de time, se acham disponíveis no mercado? Dorival Junior? Esse ainda deve ser caro para nós. Eu pensaria, antes, no Cristóvão Borges. Em geral, se deu muito bem por onde passou. No seu último clube, fazia ótimo trabalho, e foi demitido após uma única derrota em sete jogos.

Não sendo ele, então alguém jovem e promissor, com uma clara ideia tática e de dinâmica de jogo. O futebol hoje é outro, se reinventa a cada dia, com novas metodologias, novas concepções de jogo; é enfrentar isso, ou se agarrar a técnicos que no final, poderão no máximo oferecer sólidas retrancas e respostas defensivas, face a outros treinadores mais arrojados.

E monte time! Sobretudo, isso.

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Para a final, essa necessária transformação já pode ser antecipada.

No domingo, o Flu jogou apenas dez minutos em noventa. Foi quando teve em campo, afinal, seus jogadores mais jovens e mais promissores.

Teriam como fazer frente ao Flamengo? Quem sabe? Mas, ao menos têm pulmão para impor uma correria, em vez de apenas assistir à movimentação vertiginosa do adversário.

Eu iria de: Muriel, Gilberto (quem mais?), Nino, Frazan e Sub20 (talvez César); Yuri, Dodi, Miguel e Marcos Paulo; Evanilson e Pacheco. Me parece um time razoável. Pode ser batido na final, sem dúvida, mas não me parece disposto a entregar barato o título.

É isso. Precisamos de sangue novo, dentro e fora do campo.

Para além de Peter e da Flusocio, Mario precisa se reinventar como presidente possível. E, com isso, ter condições morais e materiais de liderar a construção de um novo time para o campo.

O Flu do século XXI precisa afinal começar.

Panorama Tricolor

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