Oh, meu irmão (por Paulo-Roberto Andel)

Puxa, que saudade! Numa sexta-feira chuvosa dessas, eu lembro que há muito tempo a gente planejava ir ao jogo de domingo. E vimos muita coisa, perdemos e ganhamos, fomos felizes.

Você se lembra quando a gente ganhou do Americano e foi campeão? E daquele golaço de bicicleta do Romário contra o Guarani? E quando o moço do sorvete levou uma hora até voltar pra nos cobrar o picolé?

Eu me lembro quando você e o Helio ficavam escutando a Tupi direto, esperando a cobertura do Fluminense. E como ficamos contentes quando assinamos o pacote da Libertadores de 2008, que seria muito triste para todos e para nós em dobro.

Eu lembro quando a gente lanchava cachorro quente bem cedo, horas antes do início da partida. Era muito legal.

Foram tantas coisas que a gente viu. Talvez o lugar onde melhor tenhamos convivido tenha sido no Maracanã. E eu gostava de pensar que você se sentia bem ali como eu me senti um dia, quando era garoto e tinha o mundo inteiro pela frente.

Muita saudade.

Por aqui, pelo menos o Fluminense vai muito bem no campo. Teria sido legal a gente ver o título juntos. Eu queria que você estivesse lá, e também que estivesse aqui pra gente falar dos gols, das jogadas e da grande conquista. Queria mesmo.

O Fluminense ajuda a gente a ter um motivo para viver, para buscar momentos alegres, para as coisas terem algum sentido. Pra esquecer um pouco a vida lá fora, a crueldade do mundo, a ruindade, a solidão. Houve um tempo em que eu sofri tanto, mas tanto, que passei a escrever um monte de coisas sobre o Flu, até que passei a publicar livros e livros. Era uma maneira de tentar amenizar a tristeza, mas não adiantou nada. Pelo menos os livros estão hoje por aí, feito mensagens que a gente põe numa garrafa, joga ao mar e conta que alguém leia um dia numa vã ilusão, pois. Se não fosse o Fluminense, sofrer seria uma barra ainda mais pesada. Seria coisa pra desistir.

Neste sábado o Flu joga fora, vai passar na televisão e noutros lugares. Eu quero que você esteja bem e torça bastante. Eu quero sempre que você tenha a melhor situação possível. Você faz muita falta, tenha certeza disso. Se pudesse, trocaria tudo para a gente poder ouvir o Helio reclamando do time ou a mãe rindo das reclamações. Todo mundo vendo o jogo no quarto. Infelizmente acabou. A vida é assim, mas podia ser bem melhor.

Que seja um sábado de paz. Feliz aniversário. Obrigado por tudo. Você faz muita falta.