O tempo passa (por Zeh Augusto Catalano)

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Parece que foi ontem que fui pela primeira vez ao Maracanã. Numa noite chuvosa de agosto de 1976, fui ver, com um tio botafoguense, Botafogo 1 x 5 Fluminense. Eu vi a Máquina jogar.

Quase quarenta anos depois, uma das coisas que mais me faz sentir a velhice chegando é olhar para um jogo de futebol. Pirralho, os jogadores eram adultos. Depois, por um curto espaço de tempo, os jogadores regulavam em idade comigo. Depois a garotada já era mais jovem que eu. Super veteranos em fim de carreira regulando em idade comigo.

Hoje já sou mais velho que muito técnico. Mais velho que os dirigentes. Assustador.

Incrível como o nosso esporte involuiu nesse tempo. Nos anos 80, jogo às 5 da tarde, saía do Méier lá pelas duas e meia, de 247, Camarista Méier – Passeio, ou de 249, Engenho de Dentro – Tiradentes. Em meia hora estava no Maracanã. Do ônibus já se sabia o público. Cem, 120, 140 mil pessoas. Fila apertadíssima pra comprar o ingresso. Mais quinze minutos e já estava subindo a rampa do Belinni. Torcesse para quem torcesse. Na volta, sabia que desceria por ali de volta. Sair na Radial Oeste era um inferno. Quase ônibus nenhum que passava ali me interessava.

Mas como ia dizendo, cento e tantas mil pessoas compravam ingresso em cerca de três horas. Entravam. E assistiam os jogos! Sem celular, opt in, sócios torcedores. Problemas para entrar no estádio? Num único jogo. Rolou uma greve e as bilheterias não deram conta. Vasco 0 x 1 Fluminense. Gol contra de Zé do Carmo. Argh.

Entrando no estádio às três, três e meia, você assistia os juniores do seu time. Conhecia a garotada que iria assumir a vaga de cima em breve. Refestelava-se no confortável concreto do Maracanã. Assistia a dois grandes jogos. Ou ia de geral. Tenho uma revista Placar com página inteira, em cores, com foto minha. Goleada, 4 a 1 em cima do Corinthians. De um lado, Romário e Zé Sergio. Do outro, eu e meu amigo. Ano de 1986. Dez anos depois da estréia.

Ônibus de volta. Banho. Sanduíche. Esporte visão. “Taí o que você queria! Bola rolando no Maracanã”. Januário de Oliveira. José Cunha. Mais recentemente Ricardo Mazella. Democraticamente o jogo do Maracanã, fosse de que time fosse. Botafogo e América? Era ele! Sem privilégios. Ou melhor, com. Mas não era esse escândalo de hoje. Os privilégios eram conquistados em campo. Com muito suor de ladrilheiro, com muita papeleta amarela (também de 1986).

Hoje poucas crianças sabem o que é isso. Sábado passado, na UNB, uma pirralhada jogava bola animadamente.

– Qual o seu time?

– Chelsea!

– PSG!

Depois, vão para casa assistir David Luiz, Cristiano Ronaldo e que tais. E, salvo um azar, são forçados a ver a grande exibição de Guerrero e dos craques do mengão.

Domingo deu vontade de ir ao estádio? Esquece. A menos que você resolva comprar de cambista.

É isso. O tempo passou, as coisas só pioraram. Tudo piorado pela lei Pelé.

Essa reflexão toda me ocorreu pela morte da figuraça chamada Seu Limão. É infelizmente a única certeza que temos nesse planeta maluco. O mundo piora. O futebol piora. E a gente vai caminhando até a nossa hora chegar.

Eu acredito que tenha futebol no céu. Só não tem um determinado time. HA!

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Quarta feira será dramático.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: rio que passou

o fluminense que eu vivi tour 2015