O rolo compressor tricolor (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, o Fluminense de Fernando Diniz é um rolo compressor nesse momento da temporada. Sete vitórias seguidas, cinco partidas sem sofrer gols, liderança do Brasileiro, vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil garantida e liderança no Grupo D da Libertadores.

É um redevu danado nas redações tentando explicar o fenômeno Fluminense e um movimento de rendição coletiva aos encantos do futebol praticado pelos craques tricolores, potencializado pelo modelo de jogo de Fernando Diniz.

Voltemos no tempo menos de sessenta dias, estavam todos tentando explicar por que o Fluminense parecia jogar com o freio de mão puxado, incapaz de praticar aquilo que demonstrou saber fazer ao longo de todo o ano de 2022, antes mesmo, inclusive, da própria chegada de Diniz, um aspecto desse enredo bastante desafiador para os analistas, embora a memória não seja o nosso atributo, de nós brasileiros, mais desenvolvido.

Se avançarmos um pouco e chegarmos a duas semanas atrás, teremos exaltações ao modelo de jogo de Diniz, à performance do Fluminense, às vitórias e exibições, com a ressalva de que estaríamos correndo por fora nas principais competições do continente por causa de um elenco supostamente limitado. Tudo isso enquanto Fernando Diniz era obrigado, por diversas razões a rodar esse mesmo elenco sem, contudo, deixar cair o nível das exibições.

Razão pela qual as análises recentes dão conta de que o Fluminense joga o melhor futebol do Brasil e que tem, sim, um elenco capaz de nos tornar candidatíssimos a todos os títulos, o que não significa dizer que os venceremos todos.

Bom, agora que todos chegaram onde eu já estava, e basta ler minhas crônicas pregressas para confirmar isso, chegou a hora de tomarmos todos o mesmo barco, que consiste em tentar explicar o que é esse fenômeno futebolístico que estamos presenciando, com alguns, inclusive, afirmando que o Fluminense está num patamar muito acima dos outros times.

É uma afirmação ousada, mas que não escapa muito à fidedignidade no ato de analisar a realidade. É preciso ousadia para dizer o que os outros não percebem ou simplesmente teimam em não querer enxergar.

Eu tenho cá minhas explicações para tudo que estamos presenciando. A minha visão é a de que o planejamento foi feito para que o Fluminense alcançasse esse patamar na hora certa, qual seja a partir das partidas decisivas do Campeonato Estadual, cujo título conquistamos com uma goleada em cima da Dissidência, que é, em qualquer ocasião, um feito e tanto.

Depois de um ano de trabalho, Diniz conseguiu sedimentar seu modelo de jogo, tanto no aspecto ofensivo quanto defensivo. Não se trata, no meu entendimento, de uma evolução do treinador, talvez do modelo, mas, principalmente, da ação benfazeja do tempo, um ativo tão raro no futebol brasileiro.
Trata-se do produto, também, do fortalecimento do elenco, algo notório quando vemos em campo jogadores como Guga, Marcelo, Lima, Gabriel Pirani, JK, Lelê, Keno e Vitor Mendes. E – por que não dizer? – Alexsander, que atuou somente em duas partidas na temporada passada.

O elemento que passa, no entanto, já não tão despercebido, é que o Fluminense construiu um elenco com jogadores de altíssimo nível. Uma construção de anos em processo de evolução contínua. O time do Fluminense está recheado de jogadores muito acima da média, como Manoel, Nino, Fábio, Samuel Xavier, André, Marcelo, Paulo Henrique Ganso, Alexsander, Jhon Arias, Germán Cano, JK, Keno, Guga, Martinelli e até Felipe Melo, que vem surpreendendo a todos com suas exibições.
Além deles, temos Lima evoluindo a cada jogo, Pirani, que entrou muito bem em algumas partidas, Vitor Mendes e Lelê, de quem suspeito ser mais um fora de série.

O time do Fluminense contra o Paysandu me fez pensar em um jogo de adultos contra crianças, até com momentos de salto alto. O Fluminense, além de tudo que já foi colocado, ampliou em qualidade e quantidade as suas manobras ofensivas. Está cada vez mais difícil marcar o Fluminense, qualquer que seja a opção adversária, seja tentando a pressão, seja tentando estacionar um ônibus na frente da área, seja se posicionando em bloco médio. As trocas de passes parecem fluir com cada vez mais rapidez e precisão, sem contar com a impressão que o time nos deixa de que parece uma orquestra absurdamente bem ensaiada, que faz com que todos consigam se sobressair individualmente contribuindo para uma coletividade fadada a dar espetáculos.

Tudo isso nos leva a crer que o momento é de perseguir um atributo essencial para prosseguirmos nessa jogada de encantamento, que é a humildade. A humildade de continuar trabalhando com foco, tendo a firme convicção de que só é possível alcançar os objetivos reconhecendo que precisamos continuar melhorando sempre e respeitando todos os adversários.

Não pisquem os olhos. Logo será o Fortaleza, mas um obstáculo barra pesada, que poderá se tornar presa fácil se seguirmos o manual observado até aqui. Não tão barra pesada quanto o River, adversário da próxima terça na Libertadores numa verdadeira decisão de campeonato. Porque o River, no meu entendimento, é uma das principais forças competitivas da América do Sul e eu ficaria muito feliz de eliminá-los já na fase de grupos.

Preparem-se, porque é bem provável que os próximos compromissos sejam diferentes dos anteriores. Enfrentaremos times que jogam e que sabem jogar, principalmente o River. Nem sempre teremos massacres técnicos, físicos e táticos, mas podemos obter vitórias contra todos fazendo o que estamos fazendo hoje, com seriedade, empenho, foco e humildade.
Saudações Tricolores!