O ovo da serpente tricolor (por Paulo-Roberto Andel)

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Há alguns anos, mesmo em temporadas onde o time chegou a lutar contra o rebaixamento, o Fluminense repete um estranho modus operandi: monta uma equipe, consegue bons resultados, imediatamente a máquina de propaganda das gestões entra em campo, a equipe atual é tratada como superior à Máquina (pfffff…) ou ao time dos anos 1980 e, num súbito, a coisa desanda. Alguém importante é negociado, ou o time perde pontos na hora de decolar na briga por um título, ou acaba sendo eliminado com uma “campanha digna” (pérola maligna do nefasto Peter Siemsen).

No meio desse longo caminho, quando tricolores mais experientes e argutos percebem a hora de criticar e cobrar, até mesmo para sacudir o clube e impulsioná-lo para as conquistas, imediatamente são tratados como “não tricolores”, “falsos tricolores”, “mimimi da oposição” e outras mediocridades. A tradicional satanizacão de reputações, muito bem feita por quem vê o Fluminense apenas como uma vaca de tetas generosas para a mamada.

E assim tem sido nos últimos onze anos.

Desejado e muito comemorado, o bicampeonato carioca criou ilusões e fantasias na cabeça de muita gente, inclusive a minha. Achei que finalmente tinham chegado a hora e as condições do Fluminense passar a protagonizar as competições, especialmente a Libertadores. Há os que pratiquem reducionismo, dizendo que está tudo bem, que o time é líder do grupo, mas sinceramente alguém achava que o Flu iria para a última rodada com apenas nove pontos, depois dos 5 a 1 sobre o River? Então não me venham com essa conversa fiada de derrotas esperadas.

Já na Copa do Brasil, a eliminação para o rival doeu muito mais pela maneira como aconteceu do que o fato em si. É um mata-mata, tudo pode acontecer. O que não pode é já entrar derrotado como aconteceu.

Voltando à minha ilusão: acreditei ingenuamente que, pelo momento, seria a hora do Fluminense se comportar como protagonista, inclusive reduzindo significativamente a minutagem de jogadores limitadíssimos que invariavelmente entram em campo há anos, todos ligados aos empresários que trabalham diretamente com o clube.

Ledo engano. Crença ingênua que já pôs por terra minhas convicções.

Fernando Diniz foi um bom jogador. Sempre teve qualidades. Ainda que não seja Parreira, Telê ou Rinus Michels, tem demonstrado que pode evoluir como treinador e marcar época. Algumas das melhores partidas do Fluminense nos últimos anos foram dirigidas por ele.

E, por isso mesmo, alguém em sã consciência pode acreditar que jogadores como Pirani, Alexandre Jesus e Thiago Santos sejam escalados, ou entrem durante as partidas, porque enchem os olhos do treinador tecnicamente falando? Ou por mera teimosia ou achismo?

Certamente não.

O problema é outro, e grave.

Muito grave e de anos.

É o ovo da serpente sendo chocado em meio ao gado distraído com memes, “influêncis” e a imprensa segmentada marrom que cobre o clube. No caso, marrom por dois motivos a se imaginar.

Novamente virão os tolos reducionistas: “todo clube trabalha com empresários”. Pesquisem os grandes campeões: em quais deles jogadores extremamente fracos entram com impressionante regularidade nos times?

Procure pesquisar. Releia artigos e notícias na internet. As escalações de anos. O Pirani de hoje foi o Cris Silva de ontem, o Júnior Dutra de anteontem e até o Lucão do Break. O Peu. O Egídio, o Guilherme Alves e, se for mais longe, o Danilinho. Foi o Felippe Cardoso. Foram tantos num mesmo modus operandi.

O que acontece com o Fluminense? Por que, de repente, o encanto se quebra e o que resta é a figuração, às vezes elegante como nas últimas temporadas? O Flu ficou bem em dois Brasileiros recentes, embora jamais tenha chegado perto de disputar o título de verdade.

É bom que se diga: não há terra arrasada e o intervalo FIFA pode até realinhar as coisas, assim esperamos. Mas uma coisa é certa: por coincidência ou não, se as escalações e substituições do time forem as mesmas dos anseios dos empresários que trabalham com o clube, não iremos a lugar algum.

Por fim, lembro que a dignidade deve acompanhar o homem a todo momento, não apenas nas vitórias.

Nada pode ser mais calhorda do que o oportunista que aparece no sucesso e se omite no fracasso, seja este pequeno ou gigante.

Melhor dizendo: somente uma pessoa pode ser pior do que o oportunista.

Somente uma.

O seu bajulador.