O Império Diniz contra-ataca (por Vitão)

Nesta quarta, tivemos o início da segunda passagem de Fernando Diniz como técnico do Fluminense. Contra uma equipe forte fisicamente, de transição ofensiva veloz e que estava invicta há algumas partidas, o Tricolor sofreu, mas conseguiu vencer por 2 a 1. O interessante é que Diniz não se lançou ao ataque ou subiu extremamente as linhas. Entendeu o melhor momento técnico e, sobretudo, psicológico do rival. Preocupou-se mais em organizar o time do que impor de forma afobada suas ideias de posse no campo de ataque. Diniz valoriza muito a questão psicológica e, com certeza, detectou a falta de confiança deixada pelo trabalho conturbado de Abel Braga. As comemorações dos gols mostraram como o elenco estava carente de direcionamento tático e amparo psicológico. Concordando com ele, ou não, Diniz tem seu plano tático e ele não é novidade para ninguém. E, um dos pontos que chamou atenção em seu retorno, foi não ser afoito na implementação do seu estilo.

Como citado, o Junior de Barranquilla tem um jogo físico muito forte, até em demasia. Sempre dificultou muito para o Flu e vive um momento mais estável. Subir muito as linhas de um time que estava na panela de pressão para enfrentar um ataque com pontas velozes, poderia ser suicídio. Diniz não quis correr o risco de cometê-lo. Sem inventar e tentando aproveitar algo do trabalho anterior, escalou a equipe no 4-2-3-1. A zaga foi formada por Nino e David Braz e nas laterais ele escolheu Samuel Xavier e Cris Silva. No meio, André de primeiro volante, Yago de segundo e Ganso variando de função e posicionamento. Com a bola, aproximava de Cano e flutuava com a liberdade de um ponta de lança. Sem a bola, fechava o meio alinhado à Yago como terceiro homem. Na frente, Diniz cometeu o pecado de insistir com Bigode na ponta, encheu Luiz Henrique de confiança e fechou a linha de ataque com Germán Cano. Abaixo, o primeiro Flu de Diniz em seu retorno.

O Tricolor conseguiu o primeiro gol logo aos quatro minutos, com Ganso mais uma vez brilhando como finalizador. Importante ressaltar que o camisa 10 não pode mais ser afastado da área. Ganso tem técnica de finalização, com a cabeça e com os pés. Mesmo jogando com Nathan, que infiltra mais, Diniz tem que privilegiar Ganso como privilegiou Daniel Alves no São Paulo. A referência técnica precisa ajudar o time a criar espaço, mas também precisa que a mecânica da equipe lhe forneça campo para criar e finalizar. Voltando ao jogo, após o gol, o Fluminense foi empurrado pelo Junior para o campo defensivo e aceitou muito a imposição dos colombianos. A posse foi dividida, porém os adversários finalizaram mais e gastaram bons minutos de sua posse no campo de defesa tricolor. Outro fato ocorrido na reestreia do treinador do Flu foi a melhora na compactação do time, com e sem a bola. Nas transições faltaram constância e velocidade na transição ofensiva e mais organização na defensiva.

No segundo tempo, o Fluminense voltou com a rotação baixa, apático e sem inspiração. Cedeu mais campo, perdeu o meio e acabou tomando o gol de empate. Os colombianos já haviam desperdiçado algumas boas chances mas, aos nove minutos, chegaram ao gol. Diniz reagiu bem ao revés e fez boas alterações. Entraram Nathan e Fred nas vagas de Cris Silva e Bigode. O lado esquerdo estava muito fragilizado com os dois, principalmente na fase defensiva. Yago foi deslocado para a lateral esquerda, demonstrando que Diniz vai se valer de sua versatilidade, principalmente nas laterais. Cano foi deslocado para a ponta esquerda e Nathan se alinhou ao Ganso como meia ofensivo. A mudança para o 4-3-3 espelhou o desenho de meio campo e propiciou ao Flu se impor mais tecnicamente, o que barrou o ímpeto ofensivo dos colombianos. Abaixo, o 4-3-3 montado por Diniz com Ganso e Nathan, finalmente, ocupando a meiuca do tricolor.

O Fluminense conseguiu o gol da vitória trabalhando a bola como Diniz gosta. Concentrou pela esquerda, atraiu a marcação do adversário e, após uma tabela que teve a participação de Ganso, Fred e Luiz Henrique, o garoto tirou o mundo das costas e marcou o gol, adentrando a área pelo flanco esquerdo. Depois do tento, Diniz tirou Luiz e colocou Marlon, momento em que o Flu passou a jogar no tão pedido 4-4-2 losango. No desenho geométrico do meio, tivemos André de primeiro, Yago pela direita e Nathan pela esquerda.Ganso ficou de enganche até ser substituído por Wellington, que entrou já na fase de segurar o resultado. Mais organizado, o Fluminense voltou a vencer. E Diniz mostrou boas intenções como Yago de lateral, Ganso e Nathan juntos e a possibilidade de usar o 4-4-2, principalmente quando Luiz Henrique for embora. As palavras de Paulo Henrique Ganso na coletiva após o jogo, resumiram bem a estreia de Diniz no comando do Flu:

“Conseguimos nos organizar na parte defensiva, agora é crescer na ofensiva, fazer uma pressão melhor na equipe adversária. O que o Fernando faz de melhor é passar confiança, ajudar no posicionamento me deixando mais próximo dos companheiros de ataque para fazer o time jogar, e muitas conversas sobre a vida também”

Em resumo, foi o que ocorreu, Diniz se preocupou com a parte defensiva e a compactação dos setores em detrimento de impor ao time, logo de cara, a exigência de pressão constante e linhas altas. A questão da confiança ficou nítida nas comemorações e na disposição de jogadores que estavam apagados, como Nathan e Luiz Henrique. E o fato de querer Ganso próximo dos companheiros de ataque indica o privilégio de circulação que será conferido ao jogador mais técnico do meio. Por fim, agora falando especificamente do comportamento de Fernando Diniz, há de se ressaltar que sua primeira partida à frente do time foi marcada pela busca do equilíbrio. Este, inquestionavelmente, é o atributo que o próprio Diniz precisa encontrar na execução de seu trabalho. Se conseguir unir a volúpia ofensiva que sabe produzir com segurança defensiva, o trabalho tem grandes chances de evoluir. Salve o Tricolor!