O futebol injusto (por Jorge Dantas)


O ano futebolístico no Brasil começou e está acelerando pouco a pouco. As competições começam a se suceder, ou melhor, a se sobreporem para alguns clubes.

Sempre achei injustas as tabelas dos diferentes torneios, pois penalizam os clubes que se classificam nas melhores posições no ano anterior. E os campeonatos viram uma montanha russa para esses clubes, pois quem ganha num ano acumula tantos compromissos em diferentes torneios sobrepostos, que é obrigado a abrir mão do campeonato Regional, do Brasileiro, da Taça Brasil ou da Sul-Americana – ou de todos – para tentar vencer a Libertadores. Se por um azar chegar à disputa do título e perder tem grandes chances de correr riscos de rebaixamento ou de ver seus rivais, eventualmente medíocres no brasileirão, vencerem os desvalorizados estaduais.

A má gestão do futebol no Brasil condena os clubes a buscarem receitas disputando regionais falidos e sem graça. Expõe os atletas a contusões e estafas que prejudicam os investimentos dos clubes e frustra as torcidas.

Até o ano passado os clubes de ponta no Brasileirão eram proibidos de disputar a Taça Brasil e a Sul Americana, criando distorções em relação ao número de participações nesses torneios e vendo outros clubes com menor esforço alcançarem o direito de disputar a Libertadores. É o caso do Palmeiras este ano, por exemplo.

Se tivéssemos um campeonato brasileiro mais longo, distribuído ao longo do ano sem jogos nas quartas e quintas-feiras, e acontecendo fora do calendário da Libertadores, poderíamos ter melhores índices de comparecimento de torcedores aos jogos, melhores rendas e melhores rankings.

A Sul-Americana e a Taça Brasil parecem clones mal formados da Libertadores e do Brasileiro. Bastaria apenas o Brasileiro e a Libertadores e pronto. Nada de Regionais, Taça Brasil e Sul-Americana. Esses torneios foram inventados para estourar os cofres da CBF e os joelhos dos atletas. O torcedor mal tem trocados para assistir seu clube nos domingos, mas se vê obrigado a gastar o dinheiro da feira no meio da semana ou deixar de ir ao estádio, o que de fato está acontecendo na prática. Por isso vemos estádios vazios e sem grama, jogos chatos de ver, um bando de pernas-de-pau desfilando suas caneladas e baixando o pau nos adversários. Vez em quando se vê um Neymar, que mais parece caolho em terra de cego, caminhando para ser uma prima-dona cheia de faniquitos e arroubos de vaidade, num cai-cai sem fim, mas que há muito não ajuda a seleção a sair da intranqüila e preocupante situação de 18ª no ranking da FIFA. A experiência frustrante de 1950 parece voltar a bater na nossa porta. Os nossos craques, acostumados a serem os primeiros do mundo, vêem hoje essa hegemonia descer para o sul do continente e aportar na Argentina ou atravessar o Atlântico e se aninhar na Espanha, Alemanha ou Inglaterra.

Nossos dirigentes em geral têm visão curta e desfocada, deixando de enxergar o mal que está condenando o nosso futebol à segunda categoria, apesar dos esforços dos clubes em repatriar nossos melhores atletas.

Sobre o Flu, me preocupa a insistência do time de recuar após marcar um gol e dar espaço e confiança ao adversário para atacar, atacar até furar nosso bloqueio, que por sinal não é tão firme assim. Fico triste também de ver o Deco receber cartão amarelo em todo jogo. Nem preciso dizer muito sobre esta derrota para o Grêmio.

O nível dos concorrentes está acima do que era no ano passado e o Flu vai ter que jogar muito, mas muito mesmo para superá-los e se manter na hegemonia do futebol brasileiro. Corinthians, São Paulo, Atlético MG e Grêmio que o digam. Vamos ver no que vai dar. Acredito, mas sofro até contra o Volta Redonda.

Jorge Dantas

Panorama Tricolor

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