O Fluminense segue a cartilha (por Mauro Jácome)

A pressão teve vida curta. Apesar da diferença técnica, a bola navegava por cima da linha central. Ia, vinha, ia de novo. Os azuis formavam duas linhas na intermediária, os tricolores não se importavam com o tédio que ecoava das arquibancadas. Não havia compromisso com o gol. Nada diferente de quase todos os outros. Simples manifestação da cultura vigente por estes lados.

Poucos fogem desse script. Poucos têm obsessão pela vitória, partem em busca dos gols, pressionam, imprensam. Não murcham depois do primeiro gol, não desistem se os caminhos estão congestionados. Saiu um, querem o segundo como se fosse uma final de campeonato, o terceiro, quantos couberem. Quem enfrenta essa fera enjaulada fica intimidado, constrangido, transtornado, por fim, facilita a tarefa.

Falei em cultura? Quem acompanha o futebol brasileiro há algumas décadas deve ter percebido a inversão de valores por estas bandas. De um futebol que via no gol a razão de ser, um, dois, tantos, para algo que às vezes é tratado como inoportuno e incômodo nas cobranças.

A cultura se desenvolveu devido à troca da técnica pelo físico, também importante; pela obediência cega às táticas que, sem devoção, também são importantes; pelo imediatismo de resultados, regra nefasta que afasta algum trabalho consistente. Os professores, em autoproteção, tomaram gosto, aperfeiçoaram e agem, como se seita fosse, desavergonhadamente na defensiva. Em campo, nas coletivas. Nas bases, menos fundamentos, muito dessa cultura.

Uma declaração de Abel Braga depois do jogo contra o Audax me dá salvo-conduto para pensar assim. Para que marcar se posso não tomar? Algo assim. Odair, Marcão e Roger também pensavam o Fluminense dessa forma. Adversários frágeis, com muito menos recursos, crescem à sombra deixada pelo vácuo da falta de imaginação. Lampejos, soluços, que mais parecem acaso, enganam com a mesma velocidade que desaparecem. Isso tem nome: futebol-aleatório. Depois do futebol-arte, futebol-força, temos o futebol-covarde.

Hoje, Cristiano, Samuel, Yago, Wellington são expressões dessa era. São plus++. Jogar na contramão, trocar passes desinteressadamente, correr, parar, voltar, deixam os olhos de quem vê perplexos. Difícil acreditar em tanta falta de ambição. Entra jogo, sai jogo, a correnteza não muda de rumo. E ai de quem pede o que nem precisaria ser pedido, que é óbvio. A exceção virou regra, a regra virou lei, a lei foi para a pedra, a pedra não fura nem com toda água do mundo.

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