O Fluminense, os tempos, a luta (por Paulo-Roberto Andel)

Toda vez que chega um jogo decisivo, decisivo mesmo, inevitavelmente volto a uma época bonita da minha vida: os tempos de faculdade. À medida que o curso avançava, as provas finais eram grandes desafios, proporcionais às disputas do Fluminense. Tudo ou nada.

No dia da prova final a tensão é inevitável. Só a vitória interessa. Nunca é fácil. Virar a prova na carteira e começar a escrever é como sentar na cadeira do estádio e torcer. Ou na poltrona em frente à TV.

Assim como o Flu conseguiu classificações espetaculares e títulos apoteóticos ao longo de sua história – e testemunhei vários -, também superei várias e várias provas finais.

Noutras, tropecei. O Tricolor também. A vida é assim, a vida é risco e não se pode ganhar todas. Felizmente o saldo é extremamente positivo e, por conta disso, adentro a quarta-feira com um misto de sentimentos. Há tensão, mínima, mas também há serenidade e confiança, ainda que o professor de campo ande deixando dúvidas nas aulas.

São dois gigantes. O Flu tem mais time, o Inter tem a massa e a pressão. A equação que une estas variáveis tem um resultado imprevisível, a ser escrito pelos homens em campo. Fora das quatro linhas, falamos de sorte, fé, destino mas tudo se decide nos pés – e cabeças – dos 22 jogadores. Os treinadores também, claro. “Deus está do lado de quem vai vencer”, definiu o poeta tricolor Renato Russo.

No meu caso particular, comparar a decisão a uma prova final também tem alguns significados. É a chance de voltar no tempo, remoçar, reviver um Fluminense garboso dos anos 1980 e 1990 também. E de recordar abraços e confortos de tanta gente boa que se foi. Cada um deles forma uma lágrima.

Tricolores de todo o Brasil estão a caminho do Beira-Rio. Mesmo sem ingressos. Não importa. Estarão lá por perto, ansiosos, apaixonados, do lado de fora, sonhando com a vaga na grande decisão da Copa Libertadores.

Chegou a hora da decisão. O que tinha de ser, já foi. O que tiver de ser, será. Prova final, o que tinha para se aprender já foi, não há mágica em cima da hora. Cabem serenidade e competência. Sorte também, pois sem ela não se chupa nem um picolé, como bem ensinou Nelson Rodrigues.

É um dia de extrema responsabilidade para a história do Fluminense. De seriedade e dedicação.

Quinze anos depois, a América nunca esteve tão perto das três cores da vitória.

Vivamos este grande momento.