O Fluminense, os sonhos, a vida (por Aloisio Senra)

Tricolores de sangue grená, comecei a escrever esta coluna ainda na madrugada de quinta-feira, antes do jogo contra o Vasco, sobre o qual deixarei minhas impressões mais adiante. E o fiz pelo simples fato de ter sido inspirado por uma fala de Nenê no vídeo dos bastidores da grande vitória sobre o Figueirense pela Copa do Brasil. Disse o artilheiro que nós somos movidos por sonhos, e que a equipe sonhava com a conquista da competição. Fiquei matutando sobre isso por algum tempo, fazendo um comparativo com a minha própria vida, meus anseios, meus desejos e o momento por que passamos. Não está sendo fácil vivenciar esses últimos meses. Saio raramente de casa, e com medo, devidamente trajado de máscara e faço o possível para retornar logo ao meu lar. Ainda assim, sei que, no momento, sou um privilegiado. Muitos não podem se dar ao luxo de permanecer em home office e estão na linha de frente, seja onde for. E o que me ocorreu é como nossa vida, e nossos sonhos, acabaram por ficar em estase.

Estamos tentando sobreviver meramente, e tudo o mais parece secundário e desprovido de importância. Mas não é. Estou há tanto tempo isolado que comecei, lentamente, a perder o foco do que ainda quero buscar em meu desenvolvimento pessoal, profissional, acadêmico, enfim, em todos os aspectos da minha vida. E eu acredito que, provavelmente, não seja o único. O futebol certamente não é só um jogo, e essa frase do vovô das Laranjeiras me fez relembrar o que nos move à frente, e que não podemos nunca abandonar. E se o time do Fluminense tem esse sonho, acredita nessa conquista, eu mesmo é que não tenho o direito de duvidar. Agora virá América-MG, Atlético-GO, Botafogo, Brusque, Ceará, CRB, Juventude, Ponte Preta ou Vasco no nosso caminho, a ser definido em sorteio que ocorre na próxima terça. Apesar de o futebol, como todos os esportes, estar em plena disputa quando ainda não deveria, que o Fluminense continue acreditando e perseguindo o sonho do bicampeonato. Certamente nós, tricolores, sonhamos junto com vocês, jogadores.

Na partida pelo Brasileirão, contra o Vasco, Odair repetiu mais ou menos a mesma fórmula aplicada contra o Figueirense e o Fluminense esbanjou um futebol vistoso no primeiro tempo como há muito não se via. Durante boa parte da primeira etapa, o domínio foi assombroso. O Vasco só teve algumas chances pontuais, e esse domínio tricolor se traduziu no golaço de Dodi logo no início da primeira etapa, após boa assistência de Egídio. O tão criticado menino que veio do Criciúma finalmente está conseguindo justificar o futebol que o Fluminense viu nele e que o motivou a trazê-lo, e ele merece, pois é muito aplicado, treinando de forma intensa e jogando da mesma maneira. Hoje, ele é o motorzinho do time, titular absoluto, e o gol coroou a temporada que tem feito. No segundo tempo, o Fluminense administrou de forma exagerada a vantagem mínima, muito por conta do cansaço de alguns jogadores e até mesmo da atuação apagada de Nenê, que foi o astro no meio de semana contra o Figueirense. Voltei a ver Nenê pelas pontas algumas vezes e isso é preocupante. Por 35 minutos, praticamente nada aconteceu.

Até que Wellington Silva, Ganso e Fred, que vieram do banco, resolveram “resolver” a parada. O ligeiro atacante tricolor puxou um contra-ataque de manual, se livrando da marcação adversária, tocou para Ganso e, com um toque singelo de maestria por entre as pernas do defensor vascaíno, a bola encontrou Frederico, que mostrou porque ainda é um dos grandes artilheiros em atividade no Brasil e fuzilou as redes de Fernando Miguel com um balaço de fora da área, que só ele poderia produzir. O Flu abria 2 a 0 faltando 10 minutos pra acabar o jogo. Tudo resolvido, né? Não. O Vasco obviamente veio pra cima e conseguiu descontar em um erro coletivo: falha dupla de Egídio, falha de Marcos Felipe e falha de Igor Julião, que tinha entrado no lugar de Calegari, que sentiu a panturrilha. Dizem que o jogador do Vasco que marcou o gol estava impedido. Não vi o replay. Bastou ao cansado time de operários do Flu segurar o resultado e levar para casa os três pontos, a vitória no clássico e a presença temporária no G4. Grande noite!

A grande verdade é que, tirando o Inter, que disparou, tá todo mundo no bolo de cima. E se fomos capazes de vencer o Inter, que teve uma ajuda generosa do VAR, diga-se, outros também tirarão pontos do líder eventualmente. O nível do campeonato está fraco, e não é nenhuma loucura, hoje, dizer que podemos chegar. Achei que haveria um bicho papão, mas pelo visto me enganei, o que é ótimo. Ainda falta algumas peças, no meu entender, para que tenhamos condições mesmo de aguentar a sequência de jogos. Hudson, por exemplo, não entrou bem, e antes vinha sendo titular. A lateral direita parece resolvida com Calegari, mas não temos ainda um reserva confiável. A lateral esquerda, então, nem se fala. Noves fora estes detalhes, está sendo uma grande surpresa ver um Fluminense forte na Copa do Brasil e no Brasileirão. É assim que o queremos. Assim como Nenê, também somos movidos por sonhos. E o sonho de todo tricolor é sempre ser campeão.

Curtas:

– Na coluna anterior, eu perguntei se Odair havia achado o time. Hoje eu respondo que, se ainda não achou, está bem perto. A forma de jogar, pelo menos, já foi definida. Dodi e Michel Araújo são as figuras importantes que fizeram esse time jogar bola de fato. A boa fase deles e o fato de estarem sendo escalados onde deveriam sempre está pesando a nosso favor. Os atacantes titulares estão encarando uma seca de gols, que tem sido compensada por atuações por vezes exuberantes de Nenê. Zaga e goleiro não são problemas. Yuri hoje está melhor que outros de sua posição, mas eu começaria a testar o André. No mais, acertando as laterais no todo (titulares e reservas), o céu é o limite.

– Foi emocionante ver mais um gol do Fred pelo Flu, por todo o cenário e por toda a história. Torço para que consiga ser útil, assim como os demais veteranos do time, jogando para somar mesmo e não se importando com coisas menores como vaidades e devaneios de titularidade absoluta. Ganha o Flu com isso.

– O Brasileirão não para, e na quarta já temos o Atlético-GO no Maracanã. Apesar da campanha claudicante do time goiano, vamos ficar de olho aberto, porque esse é o mesmo time que enfiou uma porrada nos ex-jesuítas da Gávea. Temos mais time e a vitória é o que espero.

– Palpite para a próxima partida: Fluminense 3 x 1 Atlético-GO.

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