O Fluminense, Fred e a pandemia (por Marcelo Savioli)

LIVROS DO GOL DE BARRIGA – CLIQUE AQUI.

Amigos, amigas, eu gostaria, em primeiro lugar, de pedir desculpas e compreensão pelo longo afastamento.

Fui um dos entusiastas da continuidade da rotina do Panorama logo após terem sido decretadas as medidas de isolamento social contra a pandemia de Covid-19.

Não obstante, eu não sabia que acabaria me juntando ao grupo de profissionais que trafegam na contramão do desaquecimento econômico.

Enquanto muitos ficaram privados de seus trabalhos ou desaqueceram suas atividades, parece que os meus acabaram se juntando aos profissionais de saúde e entregadores, que nunca trabalharam tanto como nesses meses.

Eu trabalho no segmento de assessoria de Marketing Digital, que foi atingido ao contrário. Como consequência da migração de amplos setores da economia para o ambiente digital, até mesmo como forma de sobrevivência.

De modo que fomos arrastados pela onda de responsabilidade social que impactou certos setores. Só para vocês terem uma ideia, o e-commerce teve um faturamento em abril mais de 80% superior ao de março.

Daí vocês imaginam que falta gente para atender a toda essa demanda, de modo que os sete dias da semana estão sendo pouco, mas apesar disso tem o Fluminense.

Verdade seja dita, sem futebol ficou um vazio até mesmo do que dizer. Não tem jogo, não tem esquema tático, treinador para cornetar e quase nada que analisar.
Restou-nos falar do Balanço Financeiro, publicado no final de abril, que, confesso, ainda não tive tempo ou muita paciência para olhar. Esse eu vou ficar devendo por enquanto, até porque não há como fazer análises financeiras consistentes sem levar em conta os impactos da pandemia.

Tivemos nesse período o registro do bom trabalho do Marketing do Fluminense, tanto no lançamento dos novos uniformes como na Comunicação dos posicionamentos do clube. Devemos destacar, também, a forma como vem sendo explorada a inusitada contratação de Fred, da qual vamos falar já.

Antes, porém, é importante abordarmos a questão do retorno aos jogos, que provocou uma cizânia opondo Fluminense e Botafogo aos demais clubes.

Antes ainda, vale dizer que me preocupa, em que pese a postura incomum do Fluminense de não demitir em razão da pandemia, que é louvável, o fato de lermos notícias que dão conta de que pagamos 20% do salário de março, quando estamos em junho.

Quanto a isso, porém, não adiante eu tentar opinar sem ter sequer analisado o balanço do clube e, mais uma vez, sem saber o que será da atividade econômica “Futebol” nos próximos meses.

O que para mim não faz sentido é a inversão de valores, e quanto a isso nada há que se dizer do Marketing, que vem fazendo seu papel. Num momento de crise financeira e econômica, que atinge o Fluminense de forma mais brutal, é muito estranho ver a celebração de mais uma despesa em detrimento de campanhas que viabilizem um projeto gerador de receitas.

Estou falando, evidentemente, da questão das Laranjeiras, que, no meu entender, deveria ser o tema central desse momento conturbado. Seria o momento atual de mobilizar a torcida em torno desse projeto, que ajudaria a tirar o Fluminense do atoleiro econômico, mas também é fato que já falei exaustivamente sobre esse tema.

Porém, na contramão do bom senso, o Fluminense faz uma aquisição, Fred, que trará uma despesa mensal superior a R$ 400 mil. Eu não tenho acompanhado o noticiário futebolístico, mas tenho minhas dúvidas de que qualquer outro clube se aventure em tal empreendimento.
Também não vou me estender muito nesse assunto, porque eu não sei qual é o plano por trás dessa contratação. O que eu sei é que esse tipo de iniciativa tem-se provado inócua ao longo do tempo. Vide Ronaldinho, no Flamengo e no Fluminense, e Seedorf, no Botafogo. Depois a conta fica para a próxima gestão.

Vale lembrar ainda o desastre que foi o Fluminense assumir um acréscimo de despesa mensal de R$ 550 mil em 2015 para manter o mesmo Fred, quando o atleta tinha contrato de mais onze meses com o clube.

Enfim, a história não abona esse tipo de iniciativa nem mesmo em momentos em que o futebol brasileiro estava no centro dos holofotes e a economia ainda era motivo de orgulho.

Além das pedaladas do Fred, que, é claro, eu como tricolor, espero que agregue muito valor ao clube nesse momento difícil, o tema da hora é o retorno dos jogos, mesmo que com portões fechados num primeiro momento.

Em primeiro lugar é preciso ressaltar que as iniciativas dos governadores e do Ministério da Saúde, num primeiro momento, foram louváveis. Houvesse o Brasil seguido o caminho pautado pelas autoridades de saúde, talvez estivéssemos repetindo o caminho de Paraguai e Argentina, que estão colhendo os frutos da seriedade de seus governos.
Aqui, infelizmente, não temos um governo central capaz de liderar o país para nada, exceto para o precipício. Não fossem as medidas tomadas, esses são dados das autoridades de saúde, estaríamos vivendo uma situação caótica, não que a atual não seja.

Somos o país do mundo, hoje, líder em novos casos e mortes, na contramão de nações que passaram por momentos turbulentos, como Itália e Espanha. Li essa semana a notícia de que a Espanha teve o primeiro dia sem novos casos de Covid-19.

Tudo isso é fruto de lideranças estaduais e municipais frágeis, como é o caso do Rio de Janeiro, e da irresponsabilidade absoluta de um indivíduo que foi eleito para cuidar da população, mas esse parece ser o último dos problemas na lista de prioridades.
Diante disso, estamos diante de um dilema grave. Nunca foi luta pandemia x economia. As duas coisas andariam juntas. Quem se informa por meio de fontes saudáveis sabe disso. Só que nós perdemos o bonde.

Diante disso o que me parece menos grave é o retorno do futebol enquanto espetáculo. Falo isso em nome do papel social que esse esporte exerce. Qual de nós não se sente frustrado a cada final de semana em que não há uma partida do Fluminense?

Bem ou mal, assistir aos jogos do Fluminense é um ritual em nossas vidas, algo que a elas dá significado.

Eu não estou aqui querendo ser egoísta, tampouco incentivar atos irresponsáveis ou querer colocar em risco a integridade física de ninguém. Louvo os cuidados de Fluminense e Botafogo, que a meu ver se portam com mais seriedade que os demais.
O que eu proponho, à luz da ciência e do bom senso, é que os clubes caminhem juntos no sentido de restabelecer, tão antes quanto possível, a rotina das competições. Tudo, claro, fazendo a identificação honesta dos riscos e gerenciando-os com responsabilidade.

Não estou aqui diante de dados científicos, logo não vou sair dizendo que tem que ser desse ou daquele jeito. Até porque, mesmo que os tivesse, não teria competência para tal.

É apenas um chamado à ponderação, levando em conta a importância social do futebol nesse momento tão delicado que o Brasil está vivendo, e cujos desdobramentos, sobretudo na esfera política, são imprevisíveis.

É o que eu tenho por ora, por conta do afastamento das questões do Maior Clube do Brasil e do futebol, de um modo geral, como se futebol houvesse entre nós nesses dias terríveis.

Espero estar voltando com força é mais esperança que promessa. Que vença a esperança.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade