O Fluminense e a saga do coelho (por Edgard FC)

O Fluminense e sua incrível saga de correr para não chegar ou chegar ao lugar comum que qualquer um chega ou até mesmo quem não quer também chega, seria o coelho de Alice que a leva à sua toca rumo ao País das Maravilhas e o torcedor o Chapeleiro Maluco? Projetando a imagem do Cartola, mascote Tricolor que para além das visões que se tem sobre ele, denota nossa vocação para organizar o futebol no Brasil.

Muito embora eu gostaria muito de falar de outro Cartola, o Tricolor e fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira que nos deixou poesias belíssimas como ‘O mundo é moinho’, ‘Alvorada’, ‘As rosas não falam’ e tantas outras canções capazes de nos fazer sorrir e chorar, amar e sonhar.

Mas não devo me furtar o direito de falar sobre o Cartola vil, que acabou por macular a imagem não só do mascote mas também daqueles que por décadas brigaram para estruturar o esporte bretão, irmão do Rugby e pai do Futebol Americano, a começar pelo nosso Fluminense, que sempre pioneiro conduziu o futebol brasileiro ao que ele se tornou e também pariu a Seleção Brasileira em seus domínios, construindo até um estádio para que ela pudesse sediar o Campeonato Sul-Americano de Seleções, o que mais tarde viria se chamar Copa América, vencida pelo Brasil em 1919.

Todo esse protagonismo, gigantismo e solidez não se fez do dia para a noite, mas sim por dezenas de milhares de dias e noites, em que incansável o Fluminense fomentou e deveria continuar a fazê-lo por essas bandas.

Mas infelizmente e com muito pesar, não consigo mais ver o Fluminense como condutor tampouco como persecutor de mais nada além de monetizar um grupo de amigos que tomaram para si os negócios do Futebol Tricolor. Com contratações e tomadas de decisões incompatíveis com qualquer boa prática, seja no mundo dos negócios, seja no futebol, muito menos amador, que dirá profissional.

São muitas coincidências e demasiadas escalações e decisões de fazer jogar atletas que não conseguem executar o básico com a bola nos pés (para alguns esse é o problema do Fluminense), mas também sem ela.

Muitos amigos que sabem que sou também uma pessoa do Rugby brincam comigo acerca de alguns jogadores, dizendo que eu deveria levá-los ao Rugby, no que os exorto sempre de pronto e combativo: “para jogar Rugby é necessário ser inteligente, e muito”. Para jogar futebol também, e é por isso que não há sentido algum em ser um Gigante do Futebol mundial e aceitar passivamente que tenhamos em nosso escrete atletas que são abaixo da crítica.

Qualquer criança que tenha visto ou lido Alice no País das Maravilhas ou não, sabe bem o que estou dizendo, no que espero que jovens e adultos também saibam, e se não souberem oriento que busquem entender, porque o Fluminense não vai mais existir com esse estado de coisas que vem acontecendo.

Nesta última derrota para o Ceará no Castelão, na bonita e progressista Fortaleza baqueei, não como os batuques de baque solto ou virado nas alfaias dos maracatus pernambucanos, muito menos nos frevos e demais gingados, mas o meu eu Fluminense se abalou, muito.

Jogar mais de setenta minutos com um jogador a mais em campo e não perceber nenhum movimento para aproveitar essa disfunção do jogo, foi demais. Menos pelo mérito adversário, que o tem, mas muito pelas escolhas de como jogar, como criar e como atacar. Tudo me pareceu roteirizado demais, quem entrou, quem saiu, como decorreu, dos discursos de pós-jogo de Fred e Marcão e de como os principais influenciadores (acho um asco esse termo) da internet Tricolor se comportaram e se comportam com o caso, ou dão de ombros ou criam distrações a seus seguidores, que como em um game de simulação, precisam alimentar suas ovelhas de pasto e de papo furado.

Nada contra a conversa fiada, também gosto dela, se quiser me chame para um convescote para “conversar sobre isso e aquilo coisas que nós não entende nada” como proferiu Adoniram Barbosa em seu Torresmo à Milanesa, da Tereza dele.

Deixando a distração que eu mesmo coloquei de lado, voltemos ao Fluminense e sua incrível saga de correr para não chegar, tal qual os coelhos de provas de corrida que puxam o grupo de atletas até determinada distância do percurso total num tempo especificado pelos organizadores, colocando-os em condições de dali em diante manterem o ritmo e alcançarem os tempos desejados. Assim vejo o Fluminense: criou as condições e determinou o Futebol no Brasil e a partir de um determinado ponto, saiu de cena e deixou os reais competidores buscarem suas marcas e construir suas conquistas, estabelecendo novas marcas. Todas que já foram nossas, mas não vejo voltarem a ser.