O dilema de Diniz na Libertadores (por Vitão)

Entre a cruz e a espada, Diniz vive seu dilema. Fiel ao 4-2-3-1 durante quase toda sua carreira como treinador, encontrou no 4-4-2 com John Kennedy a saída para furar retrancas e empurrar os adversários para o campo de defesa, fórmula audaciosa que se mostrou eficaz contra o Olimpia nas quartas da Libertadores. Mas, diante de um adversário bem superior ao time paraguaio, seria momento para a manutenção do esquema com dois atacantes?

O moleque de Xerém, que quase foi desperdiçado, como muitos garotos revelados por lá, renasceu e fez gols decisivos. O 4-4-2 amassou os paraguaios nos dois jogos das quartas, mas temos que lembrar que a proposta do Olimpia era bola longa e cruzamento, com total desprezo ao trabalho de bola pelo meio de campo. Diniz sabe disso e, com a volta de Ganso e diante da boa atuação de Marcelo pelo meio contra Vasco e Cruzeiro, surgiu o dilema tático do treinador.

O 4-4-2 tem demonstrado dois problemas. O primeiro é a combatividade no meio quando o time é atacado. Cabe ressaltar que Ganso de segundo volante só tem eficácia se o Fluminense jogar praticamente o tempo todo no campo de ataque, o que provavelmente não vai acontecer diante do Colorado. Coudet sabe que vai sofrer, mas sua proposta tem pressão na saída, transições rápidas e intensidade. Não confundam otimismo com alienação. Vai ser dureza.

O segundo problema do 4-4-2, como mostra o campo tático abaixo, é o aproveitamento do espaço entre as linhas do adversário, a famosa intermediária. Keno é responsável pela amplitude pela esquerda e Árias flutua pelas beiradas. Com dois volantes de origem, além de perder um homem de meio, no 4-4-2 também se perde o construtor de jogadas. Cano até tenta suprir tal carência jogando mais atrás, mas isso o afasta da área. E também, haveis de convir conosco, que o meio não é sua praia.

Fernando Diniz, assim como a torcida, reconhece o valor de Kennedy, mas Cano faz parte daqueles que são titulares absolutos como Fábio, Nino, André e Árias. Coudet vai jogar no 4-5-1, com Allan Patrick compondo a linha de meio sem a bola, no 4-1-4-1. Porém, com o domínio da pelota, o criador do Inter se descola da linha e se junta com Valencia no ataque. O noticiário bancou Alexander ao lado de André e a briga pela última vaga no time está entre JK e Ganso.

Entre a cruz e a espada, Diniz terá que tomar uma decisão. Quando ninguém acreditava, bancou o 4-4-2 no Defensores Del Chaco e trouxe a classificação. Porém o cenário é outro e o duelo da semifinal vai passar pelo domínio do meio de campo, não só técnico, mas sobretudo de controle espacial desse território. Entre a ousadia e o feijão com arroz, o treinador do Tricolor sabe que jogos como esse são decididos nos detalhes, o que recheia cada decisão tática de extrema responsabilidade. Que ele escolha o melhor caminho.