O clássico dos chatobaldos (por Paulo-Roberto Andel)

Por um instante eu queria ter ido ao Maracanã. Fazer o de sempre: comer o cachorro quente, cumprimentar conhecidos amáveis, olhar e procurar tudo que já não existe: arquibancada, geral, gente. Tem mas acabou.

Quem sabe, em sonho, rever duelos inesquecíveis em minha vida que, implacavelmente, já estão ficando longe mesmo que eu me lembre de tudo.

Antigamente o Vasco lotava e a gente ganhava tudo. Naquele gol do Washington, o dos dribles, o Xuru largou a turma deles e veio sentar do nosso lado. “Torcer pra que depois desse gol?”. Meu amigo faz muita falta, muita, mas louco mesmo é pensar que os amigos trocavam de lado na arquibancada pra conversar.

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Não posso negar: depois de meio século de luta ao vivo, tenho escolhido os jogos e me diverti com meu McLanche antes da bola rolar na TV. Legal que tivesse bastante gente.

Eu não quero bater recorde de todos os tempos, não quero ser o maior tricolor de todos os tempos, sou um desinfluenciador e quase todos os meus influencers estão mortinhos de pitibiriba. Só quero me divertir, ver meu Flu e torcer por uma vitória convincente, a ponto de acreditar que a fórmula do super time master vá dar certo mesmo.

Tudo bem, tem cinco substituições.

Tudo bem, já ganhamos a Libertadores. Como dizem os mais limitados, “#chupaantis”.

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Fato é que o jogo foi pegado, equilibrado, alternado e principalmente ruim. É. Ruim.

Não dá pra ler Renato Maurício Prado e dizer que é Teixeira Heizer, nem que o medonho Mauro Cezar Pereira é João Saldanha – por que surgiram esses dois urubus do umbral à mente?Vale a mesma para o clássico dessa quarta: ele não foi nada perto de decisões como 1976, 1980 e 1984, nem mesmo jogos enlouquecedores de 1981 e 1989.

Jogo brigado, picado, disputado e fraco.

Pior para o Fluminense, que mesmo em começo de temporada já devia mostrar um futebol melhor, além de ter mais time e elenco. Não cabe a desculpa esfarrapada de entrosamento, né?

Tentei me animar, mas vi pelo menos 50% do jogo deitado. A velocidade do Flu me convidou ao repouso.

Mas por que estou preocupado? Eu já ganhei a Libertadores, ora…

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Ok, o futebol mudou, tudo mudou exceto a canalhice humana, mas será que a gente não podia ter um pouco mais de arranque da defesa para o ataque? Só um pouquinho que seja?

Dois problemas em ter um time cheio de medalhões: primeiro, todos têm que jogar e isso indica disputas vaidosas. Segundo, arrasa a chance de efetivar garotos como titulares.

A todo tempo se ouve dos moleques de Xerém. Ontem tinha o André e o Martinelli, incansáveis. E o resto? Marcelo não, né? Só se for Newell’s Old Boys.

Ninguém é louco de não reconhecer o potencial técnico de jogadores como Marcelo, Ganso, Renato Augusto, depois o Douglas Costa, mas será que dá liga conjunta? Cano não recebeu uma bola.

Tudo bem: eu já ganhei a $#&@! da Libertadores.

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O árbitro foi um chatobaldo. Errou sim, mas para ambos. Parem com essa palhaçada de “juiz tricolor”, todo mundo tem time no futebol.

Já os chatobaldos vascaínos, que andam com excesso de chatobaldice, insistem com mania de perseguição mas fazem silêncio com a jogada de vôlei de Medel. E não adianta fazer beicinho: ficaram 20 anos fazendo piada de terceira divisão, então aguentem as 180 rodadas na B.

Óbvio que não houve gol anulado. Houve foi falta clara antes da conclusão. E o impedimento foi impedimento paca.

Não serei injusto: é preciso falar dos chatobaldos tricolores. Eles existem, não são maioria mas parecem fanáticos religiosos querendo te impor uma seita, onde você não pode vaiar, não pode criticar, não pode contestar e, mesmo depois de uma atuação chinfrim, você tem obrigação de concordar com a escalação e as mudanças.

Outra cena típica do chatobaldo tricolor: ao primeiro parágrafo de partidas insignificantes, transformar jogadores medíocres em ícones imprescindíveis, super talentosos. É o caso desse rapaz, Thiago Santos, bom rapaz, mas que virou candidato a Thiago Silva aos 34 anos de idade, depois de três anos no banco. Jogou bem sim, mas a partida foi ruim. Ruim. É dever do torcedor enaltecer seu time, desde que não seja um chatobaldo querendo provar que temos um novo Valber. Não, não temos. E antes que insistam com isso, antes de Valber teve Duílio, Miguel, Carlos Alberto Torres, Assis (favor não confundir o grande zagueiro com o mitológico camisa 10) et cetera.

Thiago Santos ganhou a Libertadores, porra!

É um bom rapaz, tomara que continue jogando bem, mas não precisamos ser ridículos como os que veem Kenny G como John Coltrane.

Me deixem em paz. Meu time em crise tinha Valber e Torres.

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Diniz é o treinador mais expulso do Brasil.

Não, o Abel é mais.

Dane-se: o Diniz ganhou a Libertadores.

O Abel ganhou pacas.

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Vamos lá. Acabou o Carnaval, a vida volta ao normal.

E daí? Nós já ganhamos a Libertadores.

Assinado: Chatobaldo.