O cheiro do ralo II (por Paulo-Roberto Andel)

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Por mais que a torcida tenha todos os motivos para estar cuspindo fogo – e é CLARO QUE TEM! -, não me aterei aos detalhes de mais um fracasso do Fluminense.

A catastrófica goleada imposta pelo Palmeiras tem muito mais a ver com um verdadeiro desarranjo no gramado, à beira dele e nos bastidores do que qualquer outra coisa – o próprio Alviverde jogou muito mal, principalmente no primeiro tempo, mas acabou aproveitando as oportunidades ao enfrentar um bando em campo.

Também não vou fazer crucificação de nenhum jogador por conta das falhas individuais. Mas não é novidade alguma constatar os erros do grande Antonio Carlos: o tempo passou. E Fred, grande ídolo da maioria, um dos maiores artilheiros da história, é o jogador que mais bateu pênaltis no Fluminense nos últimos 40 anos, o que mais marcou e também o que mais perdeu. No entanto, estes são apenas detalhes menores diante de uma estrutura corroída e fajuta que tem ludibriado até pessoas de bem há quase três anos.

Em primeiro lugar, a figura de um boleiro de verdade faz uma falta enorme ao Flu. Aquele que comanda, dá esporro e enquadra qualquer um, mostrando que a instituição está acima de tudo. Supervisor, diretor, o nome que seja. Caros amigos, jogador é uma raça… bom, deixe para lá. Não se iludam com famílias, times fechados e outras quinquilharias que mais atendem a interesses de manchetes e programas do que à realidade em geral. Depois do que tinha acontecido quarta-feira passada, como escrevi aqui, a presença de Enderson no comando do Fluminense se tornou um capítulo do realismo fantástico das Laranjeiras. A beira do nosso campo não pode ser laboratório de estágio para treinadores e diretores. É lugar de profissionais.

Segundo lugar: esse câncer do Fluminense que é a obsessão pela manutenção do supremo poder político, necessitando de extirpação e radioterapia urgentes. Houvesse um mínimo de humildade e pensamento em prol do clube, em vez de questiúnculas, o entendimento das frentes políticas já teria ajudado muito na nossa melhora coletiva. Mas isso se tornou impossível porque o status quo acredita piamente que inventou o futebol do Fluminense em 2011, mesmo repetindo ipsis literis os erros dos anos 1990 e 2003, 2006, 2008 e 2009, sem contar a total falta de aprendizado das lições de 2013, com tudo sendo devidamente minimizado porque a dívida trabalhista do clube está sendo paga – o que é correto, mas insuficiente para compensar tantos equívocos e desencontros mentais típicos de times de pelada. Qual é o eventual preço de dois rebaixamentos em três anos para o clube mais massacrado pela imprensa esportiva do Brasil, equiparando o período tão criticado do século passado pelos governistas de plantão?

Terceiro: a falta de mobilidade da direção em atuar de forma incisiva contra os “problemas internos” que, volta e meia, têm transformado o clube em cenário de comédia nacional. Repito pela enésima vez: Vitória, Ponte Preta e Santos em 2013; Horizonte, América-RN e Chapecoense em 2014. Já foram trocados mais de 20 jogadores e o problema continua. Alguém sabe explicar o motivo?

Quarto: Fred joga sozinho.

Quinto: por que até agora ninguém assumiu publicamente a responsabilidade pelas contratações dos Srs. Drubscky e Moreira e, consequentemente, também assumindo a culpa pelos erros crassos?

Poderia alongar esta coluna por páginas e páginas. Mas encerro por aqui. Afinal, sou um trabalhador e não sou pago pelo Fluminense em um único centavo para escrever. Minha literatura e minhas ideias não estão disponíveis para venda ou aluguel.

Que o Tricolor consiga sair de mais um buraco onde se meteu pela própria incompetência de quem o comanda. A torcida não merece isso, mas ela precisa acordar.

Antes que seja tarde.

O cheiro do ralo I foi publicado em 2014.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: exulla

o fluminense que eu vivi tour outubro 2015