O amistoso e as férias (por Paulo-Roberto Andel)

Era um amistoso. Mas não um qualquer. O tetracampeão brasileiro contra a tetracampeã mundial de seleções. Muito mais do que o confronto, histórias seculares em campo, uma inveja enorme de terceiros, coisas típicas dos sentimentos mais decadentes dos seres humanos.

A festa de civismo no Raulino de Oliveira lotado já começou com a torcida do Fluminense homenageando Fernandão. O jogador jamais atuou pelo futebol carioca e nem era preciso: em mais um momento de dor e sofrimento, os tricolores deram mais um exemplo de civilidade e solidariedade. De arrepiar. Bom demais ver Cícero vestir a camisa branca na reapresentação.

Quando a bola rolou, sem meio time o Fluminense buscou atacar. A Itália, sempre forte na marcação, ameaçava diante de uma defesa muitas vezes exposta e mal posicionada, marcando dois gols justos. O goleiro saiu vencido em ambos os lances, mas isso não faz muita diferença: nada faria se tivesse chance por simples anemia técnica. Nossos empates com a garra do Chiquinho e a linda jogada do Carlinhos, com chute mascado, mas aí o goleiro italiano se inspirou no colega do outro lado e as penas do frango voaram. De resto, muita luta, alguma inspiração e o Flu com força.

O jogo foi facilmente resolvido para os italianos com três gols em três minutos no começo do segundo tempo – erros imperdoáveis da nossa defesa, falha individual do Chiquinho e, mais uma vez, nada pessoal contra esse rapaz que está no gol, só que não existe lógica no futebol profissional que um goleiro tente fechar o ângulo do atacante com os braços fechados. Já me basta o espólio do Fernando Henrique. Por favor, avisem o empresário do garoto que a paciência acabou. Ia tudo bem, um desastre instantâneo desandou o placar.

Aí o onze titular da Itália veio a campo, o Fluminense fez um golaço com Matheus Carvalho, o jogo ganhou calor e ficou a certeza de que nosso time é muito mais do que um amistoso festivo. Pouca gente no mundo já marcou três gols na Itália num jogo em qualquer circunstância – vide o Brasil 1982 – o que evidencia a dignidade tricolor. Teriam a cara de pau em fazer uma Fla-Itália?

A torcida das Laranjeiras fez uma festa bonita, aplaudiu e chegaram as férias. O mundo inteiro agora volta seus olhos para a Copa do Mundo. Hora do nosso estranho recesso. Duro ficar mais de um mês sem ver o Fluminense em campo. Ainda bem que tudo passa rápido demais e logo voltaremos.

O que não passa é a dor da perda precoce do Fernandão, quase um atleta nosso anos atrás; agora, esteja onde estiver, ele entendeu claramente o que é jogar no Fluminense: ser louvado e respeitado até mesmo sem as nossas cores de corpo, mas de alma.

Quando o Brasileirão voltar, o Maracanã abrirá novamente seus braços para a elegância dos nossos tifosi. Por ora, vamos às ruas. Depois de 64 anos, a Copa voltou. Todos os corações do mundo estão de plantão intensivo.

Panorama Tricolor

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