Nos tempos da migração (por Paulo-Roberto Andel)

Hoje em dia é tudo festa. Ótimo. Acabou que o Flu ganhou o bi carioca, fez a campanha digna no Brasileirão e ganhou a sonhada Copa Libertadores. Claro, os resultados trazem público e o Flu tem colecionado multidões nas últimas temporadas, claro, para os padrões atuais, 40 ou 50 mil. Nem sempre foi assim.

Deixemos de lado os terraplanistas que acreditam que o Flu nasceu em 2019. Ok. De toda forma, um fenômeno curioso e até engraçado domina as redes sociais quando o assunto se trata das arquibancadas do Fluminense, ainda mais agora, em tempos de êxtase. Em cada canto da internet surge um maior tricolor de todos os tempos, que sabe tudo sobre o clube e sempre esteve nos jogos. Tem de tudo: gente que pendura a melancia no pescoço, influêncis que não influenciam muito e até jornalistas obscuros pagando de celebridades.

Curioso é que há dez anos ou mais, todos falávamos nos quinze mil de sempre pela arquibancada tricolor. A turma presente ao Maracanã era fiel, a ponto de muita gente se conhecer de vista. Então, a fanfarra atual não caberia mesmo no século XXI.

No XX, nem pensar: esqueça os quinze mil e conte com no máximo cinco ou seis mil. Em muitos e muitos jogos, excetuando-se os clássicos e corroborando a crônica de Nelson Rodrigues, quando muitos tricolores se abanavam em casa com a Revista do Rádio, comparecendo na arquibancada apenas em momentos decisivos. Só vinham na boa.

E eu, que acompanho tudo de verdade pelo menos a partir de 1978, já vi jogos com profunda solidão no Maracanã. Noutras vezes, reparti com colegas. Tempos de quase ninguém nas cadeiras azuis, uma turma na geral e outra na arquibancada. E da migração. A turma assistia o primeiro tempo de um lado e, no segundo tempo, migrava para o outro. E carregue bumbo, bandeira e o escambau.

Cansei de ver partidas com pouquíssimo público no Maracanã e também nas Laranjeiras. Duvida disso? Pesquise as fichas técnicas do Brasileiro de 1994 e do Carioca de 1995, ou de boa parte da década de 1980 e fins dos anos 1970. Meus amigos Luiz Couceiro, Raul Sussekind e Jorge Corpas estiveram comigo e são testemunhas. Como dizia o antigo narrador Maurício Menezes, hoje em Juiz de Fora: “Ah, mas que joguinho gostoso”.

O Flu era grandioso e ganhou muita coisa sem depender da presença massiva de torcedores.

Agora, onde se escondiam os falastrões da internet nas arquibancadas daquele tempo, sinceramente não sei te dizer. O que sei é que são um bando de loroteiros, e Jorge Corpas disse que eram mariposas, só virando borboletas por agora. Já o Raul deu uma risada.

Deixa pra lá. Agora tudo é o mundial de clubes. O pessoal do like fala demais.