Na quarentena, com o Flu de 1941 (por Kleber Monteiro)

Quarentena literalmente significa um tratamento de prevenção de uma determinada doença. Seu tempo de duração será diferente em cada caso, não significando necessariamente quarenta dias. Estamos atualmente vivendo um período de quarentena de quinze dias (tempo necessário para termos indicativos ou não da contaminação pelo Coronavírus). De acordo com as “horizontalidades” ou “verticalidades”, esse tempo se estenderá por meses. Meses de angústia, apreensão e principalmente marcado por uma “profunda tristeza futebolística “.

Com meus 49 anos, ainda me surpreendo com minha emoção. Sempre no último jogo do ano, eu literalmente choro após o apito final. Em resumo, significa que ficarei dois meses sem ver o Fluminense jogar. Isso sim representa uma angústia muito difícil de administrar. “Curtindo” essa quarentena e cuidado de minha velha, me vem a tristeza de não estar vendo o nosso querido Tricolor. Por isso, resolvi escrever alguma texto, para driblar essa tristeza tentando correlacionar o período de quarentena com nosso Fluminense.

Não me vem outro jogo senão o lendário Fla x Flu da laguna de 1941. Sim! Laguna! Laguna tem ligação com o mar e lagoa não. Logo, o canal do Jardim de Alah, que inclusive foi “estreitado” pela ação humana, caracteriza aquele ecossistema como sendo laguna. Mas voltemos ao nome conhecido porque o “fake” domina nossa sociedade.

Naquela ocasião, o Tricolor jogava com a vantagem do empate para garantir o título estadual. Anos difíceis em tempos de guerra. Tínhamos um time recheado de craques e dentre eles, havia Batatais (goleiro da copa de 1938) e o atacante Russo, um de nossos maiores goleadores. O time da Gávea tinha o substituto de Leônidas da Silva, Pirillo, o artilheiro daquela competição, com os incríveis 39 gols. Até hoje um recorde no estadual.
Logo no primeiro tempo o Fluminense abriu a contagem e ampliou a vantagem para 2 a 0, com gols de Pedro Amorim e Russo. Como nós somos a história, o gol de Russo era um indicativo claro que a infâmia nazista começava a cair no teatro de guerra europeu justamente pela campanha da “Mãe Russia”.

No segundo tempo, como todo Fla x Flu que se preze, o Rubro-negro deixa tudo igual através de Pirillo. Como todo time qualificado e com revés no placar, o Flamengo pressiona absurdamente o Tricolor. O relato a seguir conta o que de fato aconteceu, estando inclusive registrado em jornais da época (1)
Por fidalguia, devolvemos o jogo sujo do rival e as intervenções eram sempre no sentido de gastar o tempo jogando as bolas na laguna (2).

Com o passar do tempo o Fluminense consegue segurar o resultado, forçando o time de remo do Flamengo a buscar várias vezes as bolas nas ainda limpas águas da laguna Rodrigues de Freitas. Até que com o apito final conquistariamos nosso 14 título estadual e de quebra fizemos outra história. Pela primeira vez na história mundial, um time foi campeão jogando contra duas modalidades esportivas. Sim! O Fluminense em 1941 também foi campeão de remo. Fiquem em casa.

“Carreiro já havia sido expulso do gramado por excesso de preciosismo do árbitro. Batataes mal conseguia dominar a dor do braço ferido com uma pisadela proposital de Pirillo. Com o ‘keeper’ quase sem ação e um ‘player’ a menos, restava ao Fluminense defender-se da melhor forma. A forma indicada era a cera”, continuava o jornal. (1)

“Os jogadores do Fluminense iniciaram daí em deante uma tática que já se anunciava no príncipio da semana. Uma tática simples, muito velha, mas de muito efeito. A tática de bola para fora, em direção à Lagoa. A pelota subia, ‘shootada’ com violência e caia nagua. O juiz pedia outra e era tirado o ‘out-side’. Novamente bola na Lagoa e os ‘players’ rubro-negros corriam à busca de outra bola”, escreveu O Globo Sportivo (2)

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