Mudar ou… mudar de vez (por João Leonardo Medeiros)

Fluminense 2010Todo mundo conhece o lema que Francisco Horta talhou para o Fluminense: vencer ou vencer.  Em muitas jornadas dramáticas, algumas nem tão distantes assim, o Fluminense foi a encarnação deste lema vestindo verde, grená e branco. Foi justamente um comprometimento com a vitória a qualquer custo, nas condições mais adversas possíveis que trouxe para nossa equipe a fama inconteste de time de inacreditáveis façanhas. Os apelidos “timinho” e “time de guerreiros”, mais que outros que recebemos, justa ou injustamente, capturam esse atributo que a história chancelou em nossa camisa.

É de conhecimento geral que, depois daquela memorável partida contra o Palmeiras em Presidente Prudente, na qual nos sagramos campeões brasileiros, nada no Fluminense lembra o lema de Horta, a não ser a torcida, claro. Fomos, em campo, um time sem futebol, sem identidade, sem comprometimento, sem raça, sem fé, sem nada. Em muitas ocasiões, o time em campo parecia rezar a cartilha oposta: perder ou perder. Como esquecer a derrota de 2013 para o Vitória, de virada, com um a mais em campo, nos minutos finais? Como esquecer a chacota para o América de Natal em casa, este ano? Como esquecer as duas eliminações na Copa do Brasil para o poderoso Goiás?

Não é  nenhuma segredo que a incapacidade do time atual do Fluminense de honrar com sua tradição tem a ver com o perfil acomodado da maior parte do conjunto de jogadores que nos orgulhou em 2012 (e alguns também em 2010). Há dúvidas sobre a causa do próprio perfil acomodado, mas que jogadores como Carlinhos, Bruno, Jean, Cavalieri, Fred, Diguinho, Valência, entre outros, tiraram nossa crença na iminência dos títulos, em grandes vitórias, em partidas memoráveis, isso é relativamente óbvio.

Creio que todos sabem o que fazer. Para repetir o que disse há algum tempo: primeiro, 47 ou 48 pontos; depois, uma renovação radical no elenco. Estamos bem perto da primeira meta. Aliás, não é mais possível que não consigamos fazer 47 ou 48 pontos mesmo se já dermos férias a grande parte do elenco. Ou seja, se quisermos, podemos iniciar o processo agora mesmo. E acho que deveríamos fazê-lo, para evitar que fiquemos suscetíveis a uma grande chantagem.

Não me surpreenderia em nada se jogadores que nos envergonharam nos últimos dois anos de repente corressem como se sua vida estivesse em risco. Não me surpreenderia se emplacassem uma sequência incrível de bons resultados, com isso ratificando a presença na Libertadores do próximo ano. Não me surpreenderia com o reaparecimento dos destaques individuais, com a artilharia no campeonato, com o departamento médico vazio, com sangue quente em todos os jogos.

A razão todo mundo sabe. Está na cara que ou esse time coloca a gente na Libertadores ou roda todo mundo cujo contrato se encerra no fim do ano e põe para escanteio a turma de 2010 / 2012 cujo contrato vence no ano que vem. A chance desse elenco preservar a confortável posição que conquistaram nas Laranjeiras, em termos de remuneração e condições de trabalho, é a “vencer ou vencer”. Onde mais eles vão ganhar o que ganham e render tão pouco por tanto tempo (dois anos)?

Mas alto lá: eles não estariam vencendo para o clube, para nós, mas para eles mesmos. A consequência: contratos renovados e… mais um período de acomodação sem títulos.

Expresso aqui minha opinião. Não caiamos nesta claríssima chantagem, caso ela venha a consumar-se. Ao contrário. Digamos bem claro aos campeões de 2012 (e de 2010): obrigado por tudo, mas sua hora chegou. Na prática, vocês já saíram do clube e nós precisamos de gente que se entregue de corpo e alma. Isso vale para todos, exceto o Gum, na minha opinião. Se tiver de sair o Gum também, lamento guerreiro, mas seus companheiros não ajudaram a defender sua posição.

Vejo Fred como uma grande perda, mas acho que deve ser um dos primeiros a sair, por sua incapacidade de compreender que poderia ser um dos maiores ídolos da história do Flu se tivesse encarnado a condição de ídolo dia após dia como faz Conca e o próprio Gum.

Em outras palavras, a questão é ter um time capaz de vencer para o clube. De vencer ou vencer. Este time não é o atual time, embora haja no elenco uma base renovada de promissora qualidade: Marlon, Scarpa, Fernando e outros meninos, como Kenedy, Robert, Biro-Biro e a turma que voltará de empréstimo (Michel, Ronan, Samuel, Marco Junior), mais Conca, Edson, Cícero, Renato (bom lateral que ainda não estreou), Guilherme. Há condições para renovação e ela tem de acontecer incondicionalmente.

Por isso, enfim, sugiro adotar ocasionalmente o lema proferido pelo Vanucci na Copa de 2010, quando apareceu chapadão na TV após a conquista da Copa pela Itália: mudar ou… mudar de vez.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Ricardo Ayres/Photocamera