Mona traíra (por Alva Benigno)

alva japonês tricolor

Louca, louca, mil vezes louca. Foi a manhã mais afetada das últimas semanas. Chiquinho “Da” Zanzibar estava fora de si, enfurecido, descaralhado.

Tudo começou na véspera. Procurando uma boquinha de encaixe na rotina política do club, ficou insatisfeitíssimo quando, ao chegar na garbosa reunião do prócer político K2, descobriu que seu nome não era KY, conforme haviam lhe dito no grupo de Whatsapp BI.T.CHE.S. – sigla de “Bibas Tricolores Chegando Supremas”. Desconcertado com o erro de informação, bateu pezinho, tremulou feito bandeira velha em mastro empenado, ronronou e, para piorar, soube que seu algoz da paixão estava prestigiado e sendo homenageado por tricolores diversos. O algoz? E tem outro lutador careca fortão com voz de trovão a fazer seu inimigo de paella? Claro, AG Gonzalez de Gonzalez.

Saindo da reunião, resolveu caminhar na Augusto Severo por volta das onze da noite. Logo encontrou Morgana, uma travesti de respeito, e começaram uma conversa quando um carro em alta velocidade imediatamente freou perto deles. A janela traseira foi aberta, um passageiro começou a fotografar o casal e, antes de qualquer reação, o motorista gritou:

“Zanzibar Filhão da Puta: cinco pontos na conta amanhã ou cai tudo na net, seu boiola! Responda o Whats amanhã; se fizer gracinha, tá fudido!”

O carro arrancou, Zanzi ficou assustado e sem clima para se entender com Morgana. Resolveu voltar para casa. A realidade de Pecadópolis era dormir com Esmeralda. Chegou em casa, fumou um becão na varanda e foi dormir. Estava bolado, mas não muito. Afinal, tem fotos muito piores por aí.

Na manhã desta terça-feira, Zanzi recebeu um áudio com os dados para crédito. Era o fotógrafo da viadagem com Morgana. Não respondeu. Resolveu pensar numa vingança. Até que ponto chegaria a chantagem?

Zanzibar, irritado à enésima potência, voou no padrão purpurina para o computador. Para desviar os efeitos de uma eventual publicação de suas fotos com a travesti, criou um factoide e denunciou a existência de um grupo de blogueiros tricolores a serviço da politicagem – ou seja, da concorrência com ele. E teve um piti quando soube que o grupo em questão era identificado nas redes sociais pela curiosa sigla de “Blogueiros Unidos Contra o Energúmeno Travestido de Autoridade”. Traduzindo: B.U.C.E.T.A. É de se entender a ira do nosso vilão vilã…

A louca estava sedenta de vingança. Quem seriam os bofes que poderiam colocar sua reputação sob risco? Ela tinha refundado o Fluminense, era a rainha da sauna, a Queen Latifah poderosa, soberana diante dos almofadinhas bossa nova. Ia rodar a baiana, baixar a pomba gira e escrachar geral. Pensou em fabricar dossiers contra os blogueiros e até mesmo envolvê-los em escândalos fakes comprometedores, de modo a jogar a opinião pública contra eles.

Urrava de ódio mas, em suas entranhas, não resistia: nomes como Fagner, Brito, Gonzalez, Andel, Leandro e congêneres causavam-lhe arrepios no melhor estilo Richard Fairbrass, o eterno – e afetadíssimo – vocalista do duo pop estadunidense Right Said Fred.

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A cólera e o tesão habitavam simultaneamente a mesma personalidade esquisitona do conselheiro tricolor, disposto a tudo por seus juniores, seu levadinho e até mesmo algo mais se a candidatura se Silva, o bonitim, fosse para a frente. Blogueiros de merda, safados, um bando de heterossexuais gostosos…

Resolveu dar um foda-se para o áudio e gritou sozinho: “Se botarem meu nome em escândalo na internet, vai tudo comigo: Mulher Filhão, as Filhettes, os obreiros, os bofes pagos, não vai sobrar ninguém”. Pegou o celular, entrou no BI.T.CHE.S. e mandou seu recado, avisando que se as fotos foram ordem de alguma biba traíra, nunca se sabe se uma delas vai aparecer também na internet com fotos ainda piores em situações ainda mais comprometedoras.

Estava crente em sua superioridade no discurso quando publicaram um estranho áudio vindo de um número desconhecido. A voz era assustadora, como se fosse a do Diabo ou a dos vocais de um show de Black Metal:

(som cavernoso e mortuário)

“Filhãoooooo, vá se fuder; o Fluminense não precisa de vocêeeeee (eco do inferno).”

A bicha má ficou preocupada. Havia um traíra na situação. Mas quem poderia ser?

Calou-se, parou de responder mensagens e, por via das dúvidas, cancelou imediatamente sua viagem para São Paulo. Era importante ver Fluminense x Corinthians, mas a sensação de que seu poder estava ameaçado o deixou molinho, frouxo e impotente – e quem tem koo, tem medo. Ele, o grande Chiquinho Zanzibar, pela primeira vez se sentia ameaçado pelo que nem sabia ainda.

Um último resmungo: “Chantagem de merda. Se ainda fosse a festinha daquele dia no Vip’s, tudo bem. Vão se fuder! Onde eles são figurantes, eu sou Alexandre Borges!”.

Esmeralda entrou no quarto e deu um leve sorriso que quase ninguém podia imaginar.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Alva