O Fluminense jogou 90 minutos de um futebol apenas razoável para derrotar o lanterna da competição, conquistou três pontos importantes e afastou-se um pouco mais da zona de rebaixamento.
O minuto mais importante, porém, da inesquecível noite do dia cinco de agosto de 2017, foi o que antecedeu a partida. O minuto primordial, aquele em que se fez o silêncio absoluto, a maior reverência, a maior homenagem que poderia ter recebido Abelão. Dizem, porque infelizmente não pude estar no Maracanã, que se podia ouvir até o arfar de quem estava ao lado.
Todos os minutos de silêncio praticados nos estádios de futebol são homenagens póstumas a algum personagem do esporte que fez sua passagem. O minuto que reverenciou o filho mais novo de Abel Braga, tragicamente morto, não fugiu à regra, contudo distinguiu-se de todos os demais por sua cerimônia, pelo respeito e pela sinceridade dos sentimentos de mais de vinte e sete mil pessoas.
E por que o minuto de João Pedro foi diferente? Certamente não foi somente porque Abel, embora dilacerado pela dor da perda irreparável de seu filho menor tenha abdicado do luto a que tinha direito para, dois dias depois da tragédia, voltar a trabalhar e, quatro dias após, comandar o Fluminense em Recife. É claro que, para o torcedor, esse gesto contou muito, mas Abelão não é só um baita profissional, é também amigo, pai, um ser humano diferenciado, respeitado e adorado por quem vive o futebol.
Daí que o torcedor, não só o tricolor, como o de todo o Brasil (e aqui vale uma referência à bela atitude da torcida do Sport) comprou a dor de Abelão, apoderou-se dela como se desejasse repartir o fardo desse sentimento tão amargo, minimizando o seu sofrimento. A isso se chama solidariedade, ou compaixão, pouco importando o nome que se dê, quando o que vale, realmente, é a espontaneidade, a simultaneidade e a força dessa manifestação de afeto.
A solidariedade, que pouco se vê nos campos de futebol, normalmente palcos de sentimentos de ódio e violências de todo tipo, preencheu aqueles minutos que antecederam a partida e, sobretudo aquele minuto primordial, de amor.
Abelão não disfarçou sua emoção, e nem deveria. Deixou o seu lado bronco de lado e chorou a saudade de seu filho e o abraço afetuoso da torcida. E cada gol foi-lhe mais um afago e cada palma um beijo em seu coração.
O Fluminense venceu o Atlético Goianiense por três a um, mas isso foi apenas um detalhe na noite memorável protagonizada pelo amor de uma torcida diferenciada, da qual tenho orgulho de fazer parte.
E é por isso que o Fluminense é enorme, porque é do tamanho do coração do seu torcedor
Panorama Tricolor
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