Meio de campo (por Marcelo Vivone)

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Com a volta de Valencia, depois de 3 rodadas fora, o noticiário de ontem abre uma questão em relação à formação da equipe titular: Renato Gaúcho utilizará o 4x4x2 ou o 4x3x3?

Começando pela formação teoricamente mais ofensiva, o 4x3x3, creio que no futebol de hoje em dia, se há algum time que pode jogar de forma realmente competitiva nesse esquema, esse time deve ter jogadores muito encaixados e com características muitos específicas para garantir um sistema defensivo que suporte enfrentar equipes de qualidade.

Certamente o Fluminense de hoje não tem as peças necessárias para a adoção desse esquema. Jogamos alguns jogos contra pequenos com essa formação e até contra esses times bem menos qualificados não nos saímos bem.

O 4x4x2 (e suas variações) é o meu esquema preferido. Falo isso até mesmo se comparado ao 3x5x2, o esquema preferido por muitos técnicos até um passado recente. Mas acho também que para um esquema ser vitorioso, independente de qual seja, deve ser montado de acordo com as peças que o técnico disponha em seu elenco. E é nesse ponto que a situação do Fluminense se complica.

O meu meio de campo ideal é aquele formado por 2 cabeças de área e 2 “meias”. No caso dos 2 cabeças de área, teoricamente (porque Jean ainda está devendo) estamos bem servidos, pelo menos em termos de titulares. Valencia e Jean formal uma boa dupla. O primeiro, quando somos atacados funciona como 3º zagueiro e Jean se posiciona à sua frente. Valencia tem boa mobilidade e bom posicionamento para atuar nessa posição.

Quando temos a bola, Valencia, embora não seja um Paulinho ou um Fernandinho (Manchester City), cumpre bem o papel de fazer a transição do time da defesa para o meio de campo e ataque. Jean funciona como o 2º homem desse setor, com boa velocidade, bom passe e uma chegada ao ataque razoável, com necessidade de melhorar o chute de média e longa distância.

No meio de campo ofensivo é que reside o problema que temos no atual elenco. Temos somente pronto (muito pronto!) para esse setor o maior ídolo da atualidade do Fluminense, o Conca. O argentino dispensa maiores comentários. É um gênio para os padrões atuais do futebol mundial e tem um pulmão e uma disposição de dar inveja a um menino de 20 anos.

Para completar o quadrado de meio de campo temos hoje no elenco Wagner e Higor. Higor, pelos jogos que fez ano passado, estaria completamente fora de questão. Já esse ano, ainda que contra adversários fracos, parece ter melhorado principalmente o problema de lentidão que tinha. Mas não creio que esteja pronto para assumir uma função tão importante.

Wagner é para mim quase um caso perdido. É um jogador no qual vejo potencial, mas que, infelizmente, não conseguiu se tornar uma realidade nos 2 anos que tem de clube. Embora tenha qualidade técnica, poucas vezes tenta uma jogada ofensiva, preferindo quase sempre tocar a bola para trás, o que o torna um jogador burocrático. Renato Gaúcho parece comungar dessa visão, pois o mantém na reserva de uma equipe que não tem um jogador da posição para substituí-lo.

E, provavelmente por não acreditar no futebol de Wagner, Renato tem sido obrigado a completar o meio de campo com Diguinho, nesse caso avançando Jean, ou recuando Rafael Sobis.

Nenhuma das 2 formações é capaz de dar a competitividade necessária ao time para que se torne um candidato natural ao título do Campeonato Brasileiro, por exemplo. Claro que mesmo que esse problema seja resolvido, não estaríamos no nível desejado pela torcida com a zaga que temos. Mas hoje quero falar somente do meio de campo.

A entrada de Diguinho nos tira muito em termos de qualidade de meio de campo. Se ganhamos no setor defensivo, a imprecisão de passes do nosso camisa 8 e as suas características defensivas, nos tornam um time muito pouco criativo no ataque. Em termos de posse de bola, perdemos pela sua presença como 2º homem de meio de campo, no lugar do Jean, e perdemos também com o avanço de Jean para realizar a função quase que de um “meia”, posicionamento que prejudica bastante o seu futebol.

Já, com a entrada de Sobis, não há o problema de deslocar Jean de sua verdadeira posição, mas deixa Sobis meio perdido, meio sem função na equipe (parece um peixe fora da água). É muito difícil para um jogador de ataque mudar suas características e funcionar bem como 4º homem de meio de campo. Essa é uma virtude para muitos poucos e não é demérito nenhuma para Sobis não saber fazê-lo a contento.

Se Wagner realmente não vingar, creio que esse 4º jogador para o meio de campo precise ser contratado. Infelizmente, não ouço ou sei de qualquer movimentação nesse sentido. Se nada for feito para fortalecer esse setor, passaremos o ano inteiro improvisando para compor a nossa “meiúca”.

Panorama Tricolor

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