A vez de Marcão (por Felipe Fleury)

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A Seleção Brasileira tem sido um claro exemplo de como um treinador pode fazer a diferença para o bem ou para o mal. A mudança de uma única peça deu nova vida a uma equipe que corria sério risco de não se classificar para a próxima Copa do Mundo e já vinha colecionando uma série de malogros, sendo o mais emblemático e vexaminoso a sonora goleada para a Alemanha em 2014.

Daí que sempre tive a opinião de que um treinador deve ser sempre a peça primordial na montagem de uma equipe e a sua escolha cercada de redobrados cuidados.

Nunca deveria ser, para um time da grandeza do Fluminense, um profissional que se escolhesse à revelia de critérios técnicos, de uma reputação vitoriosa. Basear sua contratação na sua folha de pagamento é dar um tiro no escuro.

Foi assim, de uma forma totalmente antiprofissional, que o Tricolor trouxe para o seu comando do futebol nomes como Cristóvão Borges, Ricardo Drubscky, Enderson Moreira e Eduardo Baptista para gerir equipes que, se não eram o sonho de consumo da torcida, tinham nomes de respeito que, bem comandados, poderiam ter apresentado resultados muito melhores do que os que foram colhidos.

Cansado da mesmice e da mediocridade, a atual gestão tricolor resolveu mudar sua estratégia e focar num nome que, pelo menos, tivesse uma reputação dentro do futebol, nada de muito glorioso, mas infinitamente superior aos currículos de seus antecessores.

E então, após a preferência da torcida apontar para Cuca, alguma diferença nos pedidos salariais direcionou a pretensão da gestão tricolor para Levir Culpi.

Nada de muito especial, mas um alento para o torcedor cansado de tanta incompetência. Mesmo estando num patamar bem acima de seus companheiros de profissão, Levir, porém, não participou da escolha do elenco nem da pré-temporada, pegando, como se diz, o bonde andando.

Contudo, poderia ter feito mais. Sempre pareceu desinteressado e alheio às necessidades de uma renovação no elenco. No começo, pediu reforços, e esses vieram em quantidade, mas em qualidade bastante discutível, e Levir, assim, deixou de tocar no assunto. Resignou-se com a realidade do clube e preferiu acomodar-se ao seu gordo salário e deixar o tempo passar.

Foi exatamente o que disse ao repórter quando respondeu a uma pergunta sobre o motivo pelo qual veio para o Fluminense: “pelo salário”. Embora possa ter parecido mais uma das bravatas e gracejos do treinador, foi a mais pura expressão da verdade.

A única nota relevante de Levir no Flu, além da título da Primeira Liga, cuja competição já pegou em andamento, foi o imbróglio com Fred. Quando fizeram as “pazes” escrevi que a trégua era temporária, que tudo parecia uma grande encenação e, infelizmente, não deu outra. Na primeira oportunidade que teve, Fred saiu, perdemos um líder e um artilheiro e permanecemos com um treinador de quem se esperava que colocasse a equipe nos trilhos, que unisse o grupo e trabalhasse duro por títulos.

Nada disso ocorreu. Desde então, o Flu foi sempre menos do que fora até então. Teve oportunidades na Copa do Brasil e no Brasileiro e nunca demonstrou ambição de conquista a exemplo de seu desinteressado técnico.

Poucos treinos, bravatas, piadas sem graça, más escolhas, más mudanças, más estratégias. Esta foi a realidade de Levir no Flu, onde mostrou menos profissionalismo que o desejo de ver passar o tempo e engordar sua conta bancária.

Agora, sem ele, quando o leite parece definitivamente derramado, Marcão assume interinamente o time para tentar nessas últimas quatro rodadas fazer o que Levir abriu mão de fazer, seja pela incompetência, seja pelo desinteresse: levar o time à Libertadores.

Quem sabe Marcão não provoca no grupo um sentimento de renovação e motivação, suficiente para dar à torcida em belo presente de fim de ano, presente que nem o time nem a diretoria merecem, por tudo o que não fizeram pelo Fluminense. Quem sabe Marcão, guardadas as devidas proporções e a sua condição de interino, não dê à equipe a vida que Tite deu à seleção nacional, transformando um bando perdido em campo num grupo coeso e ambicioso.

Em quatro jogos, Marcão terá a chance de deixar seu nome mais uma vez marcado na história do Flu, e ninguém melhor que ele, neste momento, para cumprir essa gloriosa missão.

E se almejamos um grande time em 2017, que o vencedor do pleito de novembro adote como primeira medida no âmbito do futebol a contratação de um treinador verdadeiramente vencedor. É a partir daí que se forja uma equipe competitiva e vencedora.

Panorama Tricolor

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