1Não há dúvidas: Marcão foi um dos maiores ídolos da história do Fluminense. Não pela técnica apurada, pela capacidade de marcar gols ou por jogadas esfuziantes – na verdade, ele foi um operário da bola, um proletário incansável dentro de campo em honrar as cores do Fluminense. Valorizou cada centavo pago de seus salários como profissional do nosso clube. Não bastasse ter empenhado tanto amor à nossa camisa, ainda foi campeão do centenário em 2002, ajudou o Flu a dar a volta por cima no cenário nacional e, de quebra, marcou gols em duas finais onde ganhamos títulos: 2002 mesmo e 2005. Por isso, tantos anos depois é reverenciado por todos os lugares tricolores que passa.

Esta semana, em função da famigerada rede social (que tem muita coisa ruim, mas boa também), falei com Marcão pelo computador:

– Marcão, sinceramente? Quando nós do Fluminense pensamos em você, só vem uma palavra à mente: orgulho. Orgulho de você ser um dos nossos para sempre.

– Amigo Paulo, eu que tenho que agradecer por todo esse carinho e confiança que sempre tiveram comigo, realmente foi um imenso prazer ter vestido o manto sagrado, viu? Saudações Tricolores! Obrigado por tudo!

Catorze anos depois de ter vestido nossa camisa pela primeira vez, Marcão ainda fala com se não fosse o ídolo que é. Sempre simpático, sempre humilde, é um dos dez jogadores que mais vestiram a camisa do Fluminense em toda a história, no mesmo grupo onde se vê nomes como Pinheiro, Telê, Altair, Rubens Galaxe e Denilson – todos marcados pelo empenho com que defenderam nossas cores em campo.

Quem dera se tantos críticos e vociferadores eletrônicos tivessem a mesma fidalguia, a simpatia e a humildade de Marcão.

2

Rhayner é um nome controverso, estranhamente.

Num bloco, há quem queira vê-lo longe do Fluminense por não dispor da capacidade técnica de um Deco ou um Fred, por exemplo. Há quem deboche por ser um jogador que não faz gols há tempos.

Noutro bloco, há os que reconhecem sua luta comovente desde que chegou.

As duas últimas partidas mostram isso, mesmo com o pênalti perdido em São Januário.

Sábado, na tempestade de Bangu, Rhayner foi um momento e muito da mudança no time em termos de atitude e pegada se deve a ele, mesmo que a técnica seja escassa.

Não seria mais razoável que, em vez de cobrá-lo pelos gols que sabemos ser a especialidade de Fred, o torcedor mais crítico se dispusesse a incentivá-lo? Ou que Rhayner mudasse de posição de vez? Afinal, ele corre o tempo todo. Em segundos, tira o time da defesa e o põe no ataque. Não precisa ser um artilheiro.

3

Talento é sempre muito bom, mas ele sozinho não garante vitórias e títulos num esporte que depende de onze jogadores em campo. E que cada vez mais conta com a parte física.

Não, eu não vou tecer loas ao talento de Rhayner. Mas não poderia ser mesquinho ao não reconhecer a entrega que tem demonstrado em defender o Fluminense.

Futebol é momento, momento breve às vezes. Hoje, Rhayner merece ser titular em minha opinião.

4

Lá atrás, sempre houve quem contestasse Marcão. Aconteceu o mesmo com Denílson ou Rubens Galaxe, outras figuras tão importantes da nossa história.

O tempo, senhor da razão, mostrou que os jogadores de garra foram essenciais à trajetória do Fluminense.

Ainda é muito cedo para julgar qualquer coisa.

Mas tomara que essa garra, essa vontade, essa determinação do Rhayner contagie o time e a torcida muitas vezes.

Pode ser o começo de uma arrancada inesquecível, com a cara do Fluminense: piadas, deboches e sarcasmos alheios respondidos no momento certo com uma volta olímpica. Marcão, Denilson e Rubens não me deixam mentir.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

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