Máquina, Máquina, Máquina! (por Paulo-Roberto Andel)

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A cada efeméride, o time mais famoso e popular da história do Fluminense alimenta debates. Primeiro, por conta da imprensa esportiva, que tende a minimizá-lo por questões de interesse comercial do patronato. Segundo, porque alguns torcedores acabam – ingenuamente, ressalte-se – comprando a tese de fracasso de uma equipe sem “grandes conquistas nacionais”. Terceiro, por conta de sua efêmera duração. Todos esses três pontos geralmente carecem de embasamento histórico, e um quarto define bem o espírito da coisa.

A diminuição por parte da imprensa, tradicionalmente severa com o Fluminense, é mais motivo para orgulho do que qualquer outra coisa.

A tese de fracasso não se sustenta. Por três anos, o Fluminense viveu repercussão nacional e internacional como nunca em sua história – nem quando tinha sido campeão mundial em 1952. Em campo, estava a Seleção Brasileira vestida com as três cores do nosso amor. Alguns dos maiores craques da história do clube – à época, já com mais de 70 anos de fundação – atuaram juntos em campo. Em meados dos anos 1970, o campeonato carioca era a competição mais importante do país. E, apenas para efeito de breve comparação, o Botafogo de Garrincha, Didi, Paulo Valentim e outros no auge também não conquistou Brasileiro, Libertadores, Mundial e nem por isso deixou de conquistar a merecida imortalidade midiática. Alguém desfez do fantástico Cruzeiro dos anos 1960 por não ter conseguido a Libertadores ou o Mundial? Façam-me o favor…

A respeito do suposto brilho efêmero: naquele tempo, o futebol não dispunha de generosas cotas de TV, patrocinadores, grupos de investidores, absolutamente nada que não fosse a receita de bilheteria. Durante dois anos, o Flu teve um time dos sonhos – e não é à toa que lá tenha registrado a melhor média de público de toda a sua história, com cerca de 45 mil pagantes por jogo.

Perdemos duas semifinais de brasileiros. Uma para o Inter, outro timaço e que, para muitos, era simplesmente o maior time do planeta em 1975 (que também não ganhou Libertadores nem Mundial…). E a outra para o valente e respeitável Corinthians, nos pênaltis, num confronto que, se fosse repetido outras nove vezes, ganharíamos todas.

Goleadas fantásticas, craques imortais, festa diária, euforia, alegria, união, o maior estádio do mundo em êxtase. Respeito internacional, conquista de torneios no exterior, aplausos, confiança, positivismo. Muitas crianças se apaixonaram para sempre pelo Fluminense naqueles tempos e estão até hoje forjando nossa torcida.

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De onda, o Fluminense simplesmente bateu num amistoso o Bayern no Maracanã, com mais de 100 mil presentes, e com direito a… gol contra de simplesmente Gerd Muller, então o maior artilheiro da história das Copas do Mundo. O Bayern era a base da Alemanha campeã mundial de 1974, e seria campeão mundial interclubes em 1977.

Hoje é dia de festa. Recordar que o Rio de Janeiro e o Brasil pararam com aquele gol de nuca-cabeça de Narciso Doval, garantindo o bicampeonato carioca ao Fluzão sobre o Vasco com um Maracanã emocionante e abarrotado. Que o monstruoso Carlos Alberto Torres chorou copiosamente ao término da decisão, dedicando o título ao filho Carlos Alexandre, futuro craque do nosso time. De Rivellino comemorando que nem criança. Do jovem e seguro Edinho, que seguiria como um dos nossos maiores craques. Do herói Rubens Galaxe, já acostumado a tantos títulos e que ainda ficaria para contar a linda história de 1980.

Rivellino, Edinho, Carlos Alberto Torres, Doval. Aí você pensa em outras feras como Rodrigues Neto, Cléber, Pintinho, Renato, Dirceu, Mário Sérgio, Manfrini, Paulo Cézar Caju, Rodrigues Neto, Zé Roberto, Cafuringa, Gil, Zé Mário, Marco Antônio, Toninho e mais uma multidão de feras. É difícil acreditar que tantos talentos tenham atuado juntos em menos de dois anos. Quando a Máquina acabou por força da grana, em 1977 ela tinha “apenas” Rivellino, Pintinho, Cléber, Marinho Chagas, Doval, Edinho, Renato, Wendell e Dirceu Lopes.

O quarto ponto: quarenta anos depois, o legado do eterno presidente Horta ainda ruge como nunca: “Ah, a Máquina, a Máquina… Mistura de sonho e realidade. Poesia de futebol, encanto e carnaval”. Quem souber de outro time “sem conquistas” tão falado e admirado, favor informar a esta redação.

O sonho de quarenta anos atrás é uma realidade permanente. Quem viu, viu; quem não viu, que aprenda e aplauda.

Panorama Tricolor

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Imagem: paroc