Mais do que apenas perder (por Sergio Trigo)

goleiro botafogo

Prezados amigos, saudações tricolores.

Perder não é um problema. Nem mesmo para os reservas do Botafogo. Mas perder como o Fluminense perdeu na última rodada não é aceitável. O time foi de uma vergonhosa apatia.

Bem pior do que o resultado, a postura do Fluminense em campo deixou claro que o time está muito distante de nos fazer esquecer 2013. Fomos dominados durante toda a partida e praticamente não ameaçamos a meta alvinegra, a não ser na penalidade fabricada pela arbitragem em nosso favor e em um chute de Conca. Vimos um time lento e sem criatividade na transição defesa-ataque, que, por não conseguir manter a bola em seu campo ofensivo, acaba expondo demais a sua retaguarda. Vimos um time que aceitou a marcação adversária e que não marcou ninguém. Vimos um time sem alma.

O que vimos em campo na tarde do último domingo, amigos, foi muito parecido com todo o ano passado.  Também, pudera. O Fluminense de 2014 é o Fluminense de 2013, acrescido do talento (e da alma) de Conca, o que não é pouco, e do talento (e dos quilos) de Walter, que ainda não reúne condições para ser decisivo.

No mais, temos em campo a turma que teria nos arrastado para a Série B não fosse o escândalo protagonizado por lusitanos e remadores. Ainda que muitos dos que lá estão tenham conquistado campeonatos pelo clube, alguns deles não passavam de meros coadjuvantes. Outros, talvez já tenham dado a sua contribuição.

Eu não sei os senhores, mas, particularmente, não tenho mais fôlego para vaiar o mesmo lateral-direito quarta e domingo. Já estamos nessa há mais de dois anos e, como o seu futebol não vai melhorar, a nossa relação também não. Não tenho mais paciência para jogador que se livra da bola, nem para quem não joga nada desde 2012. Não aguento mais ver o time sem válvulas de escape, sem jogadores de lado de campo e sem um homem capaz de abrir as defesas adversárias. E não suporto mais ver o Fluminense perder sem que os jogadores pareçam se importar com isso.

Aqui mesmo, nesse espaço, defendi na última semana que os nossos ídolos sejam tratados como tal e que não sejamos intolerantes com as suas falhas, mas não acredito, nem aceito, que todos os jogadores do elenco desfrutem da condição de ídolos da nossa torcida. E, embora intransferível, a condição de ídolo é revogável.

Não conheço os detalhes dos contratos dos nossos jogadores, mas receio que alguns tragam cláusulas de estabilidade dignas do serviço público federal. Uma plaquinha de agradecimento e um aperto de mãos cairiam muito bem para alguns.

Enquanto nada disso acontece, o elenco tricolor segue com carências flagrantes e a cada ano que passa os treinadores têm menos opções. Como faremos quando Conca sofrer uma marcação claustrofóbica, ou mesmo quando o argentino não estiver em um dia bom? E quando não puder jogar? O que faremos quando nossos volantes voltarem ao Departamento Médico, onde têm passado a maior parte das últimas temporadas?

Em 2010 e em 2012, a força do nosso elenco foi determinante para a conquista de títulos. Em 2013, a falta de opções do nosso elenco foi determinante para o nosso quase-rebaixamento.

Ora, senhores, um clube que passa um ano como o que passamos em 2013, com um desempenho técnico lastimável, deveria demonstrar mais disposição para mudanças, nem que fosse apenas para dar alguma satisfação à torcida. Seguimos, no entanto, como uma falta de criatividade ímpar para contratar, afetados, é verdade, pela asfixia imposta pelas penhoras e pelo Fla-Flu na patrocinadora.

Longe de ser uma tragédia, o inesperado revés imposto pelos reservas alvinegros poderia se prestar a diversos propósitos, muito embora eu acredite que os responsáveis pelo futebol tricolor não estejam aprendendo muito com as muitas lições recebidas ultimamente. Do contrário, teríamos iniciado o ano de 2014 de um modo bastante diferente do que começamos.

De qualquer forma, a bordoada alvinegra deve refrear um pouco o otimismo exagerado que tomou conta da torcida tricolor depois da goleada aplicada sobre os remadores e reacender as luzes amarelas nas Laranjeiras. Otimismo esse, ressalve-se, plenamente justificável para uma torcida que sofreu durante todo o ano de 2013 e que foi massacrada pela imprensa e pelos rivais, depois da eclosão do escândalo Gávea-Canindé.

Não é hora de caça às bruxas, eu sei. Na verdade, ela até já passou, sem que a nossa diretoria se mexesse, mas é preciso estar atento aos sinais…

Algumas derrotas são sintomáticas. Didáticas, até. A do último domingo nos ensina que uma sequência de sete vitórias no estadual, ainda que muito bem-vinda, não pode ser encarada como um sinal definitivo de recuperação ou de volta por cima.

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Sou fã do Fred. Acredito tratar-se do maior centroavante brasileiro desde o esgotamento de Romário e Ronaldo. Mas a sua cobrança de pênalti no estilo “Baloubet Du Rouet” mostra que ele não está em condições de cobrar penalidades máximas. Não me lembro de tê-lo visto refugar antes. Hora de dar um tempo, Renato, e passar a responsabilidade para outro jogador, até que Fred volte a ser Fred.

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Não sei por que, mas as cenas ridículas protagonizadas por torcedores subsidiados não me surpreendem.

Não sei por que, mas a falta de reação da diretoria do Fluminense me deixa ainda menos surpreso.

Panorama Tricolor

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Imagem: BFR oficial

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P.S.: Se você, assim como eu, tem o hábito de guardar os ingressos de partidas do Fluminense, entre em contato comigo. Possuo uma coleção de ingressos de quase mil partidas do nosso Tricolor e tenho interesse em trocar ou adquirir aqueles que não figuram na minha coleção.