Mais do mesmo (por Jorge Dantas)

GLOBOESPORTE

Perdemos mais uma vez.

A sequência de derrotas Fluminense neste campeonato assusta. Já vivenciei essa situação em outros anos e não estou gostando.

O Flu está ficando demasiadamente longe do G4 e cada vez mais perto da zona do rebaixamento. Na medida em que as derrotas se sucedem o time vai perdendo a autoconfiança, é tomado pela ansiedade e pelo desespero e se torna inimigo de si próprio.

Cada jogo vira uma agonia, o nervosismo gera fracassos e passa a ser o senhor do emocional do grupo. Foi assim no passado, quando uma gestão desastrosa deixou o time inseguro, instável e o atirou na terceira divisão. Sabemos que o elenco do Fluminense é qualificado em muitas posições, mas é altamente vulnerável em outras.

Não podemos fechar os olhos, por exemplo, para a imensa deficiência do triângulo formado pelos dois zagueiros (Gum + Digão ou Leandro Euzébio) e pelo cabeça de área Edinho. Esse é o grande ponto fraco do time. Por ali os adversários estão deitando e rolando. E não estão precisando de muito esforço, pois têm sido constantes as atrasadas de bola que deixam a torcida desesperada e os erros de passe do Edinho e Cia Ltda. As falhas estão se repetindo, revelando a incompetência desses atletas, que comprometem resultados seguidos. Os jogos estão sendo entregues de bandeja, assim como foi contra o Inter e agora contra o Vasco.

Não temo por um rebaixamento, mas penso que nesse passo não conseguiremos nos classificar para a Libertadores, nosso projeto maior.

Já disse em comentário anterior que o Fluminense não pode oscilar de ano para ano. Para ser o clube de nível internacional que parece pretender ser precisa ter um comportamento mais estável ao longo dos anos, equilibrado e focado. Precisa se comprometer com um projeto de conquistas de longo prazo e para isso necessita de um planejamento consistente, audacioso e inovador.

O cenário financeiro em que o Fluminense está mergulhado talvez explique parte do problema que o esteja impedindo de consolidar, em 2013, a sequência de boas colocações que vinha obtendo desde 2010. Essa regularidade é muito importante para o clube gravar seu nome em definitivo na memória do futebol sul americano, adquirir experiência em sucessivas participações no maior torneio do continente e, um dia, conquistar o desejado topo da América. Um projeto de internacionalização exige que se crie uma definitiva ambição de clube vencedor nas Laranjeiras. Não nos basta mais ser um clube regional. A forma de disputa de campeonatos no Brasil mudou muito nos últimos anos, os torneios regionais perderam a antiga importância e todos os clubes miram nos torneios internacionais, que dão prestígio e rentabilidade financeira.

O Fluminense, repito, tem um elenco qualificado: Fred, Cavalieri, Jean, Sobis, Wagner, Carlinhos, Deco e o próprio Bruno são bons jogadores. Temos ainda, dentre os reservas, o Valencia, da seleção colombiana. Até pouco tempo tínhamos no elenco o Wellington Nem e o Thiago Neves, que davam ainda mais qualidade (teórica) ao time. Uma pena que estamos perdendo qualidade nas reposições sem perspectivas de contratações de jogadores que possam suprir nossas eficiências.

Ouvi do Bernardinho, depois da derrota da seleção de vôlei para a Rússia, que muitos falam que no Brasil há muitos bons jogadores de vôlei. Mas, o que ele quer e precisa na seleção é dos excepcionais. Os bons não são suficientes.

Para nutrir ambições vencedoras é preciso ter um elenco com alto potencial de sucesso. Sabemos que é muito difícil dispor dessa qualidade o tempo todo, mas um clube com mentalidade vencedora, que deseja estar entre os melhores, deve persegui-la, sempre. Infelizmente, do jeito que o Flu anda não dá para sonhar com muito. Talvez uma boa política seja se desfazer de jogadores de alto custo salarial e baixo rendimento, como infelizmente aconteceu com Thiago Neves. E trabalhar a base para revelar craques.

O torcedor é passional e nem sempre entende as dificuldades do clube, mas não perdoa políticas e decisões equivocadas, como, por exemplo, o discurso do presidente Peter no início do ano, quando disse que o Fluminense tinha um elenco perfeito e que o maior investimento seria a sua manutenção. Discurso parecido fez o Abel, chegando a exaltar a defesa depois de um ano que, mesmo sendo campeão, deixou evidente para quem teve olhos capazes de ver sem se deixar cegar pela paixão, que os zagueiros e os volantes deixaram muitas vezes o Cavalieri em palpos de aranha para evitar gols adversários diante das falhas e bisonhices dos nossos inábeis defensores ao longo do ano passado.

Portanto, enquanto o Abel não arrumar a defesa e o meio de campo, o Flu continuará sendo vítima da sua incapacidade de se defender e de fazer gols. Como venho falando, qualquer time que faça um gol no Fluminense, principalmente se for o primeiro da partida, terá grandes chances de sair vencedor ou no máximo com um empate. Vamos ver o que o Abel ainda tem na manga e o que o clube ainda poderá fazer em termos de renovação do elenco para este segundo semestre. Caso contrário, 2013 estará perdido.

O que mais temo no momento é a saída do Abel e a volta do Papai Joel. Deus nos acuda!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216