Madrugada de Fla x Flu (por Paulo-Roberto Andel)

SÃO dez para às três da manhã e vai ter Fla x Flu logo mais. Será que os garotos de 1917 ou 1933 ficavam à espera do jogo maior como eu ficava em 1979 e 1982? Acredito que sim, pois a rivalidade já era muito forte. Será que ficavam tão loucos para sentar nas arquibancadas da Gávea e de Laranjeiras quanto eu era para entrar no Maracanã, bem cedo? É possível, mesmo em dimensões diferentes. Todos os jogos são importantes, mas o que diferencia este clássico de todos os outros vem de sua nascente, há muito tempo. Ninguém me falou, mas eu me tornei um torcedor mirim sabendo que o Fluminense versus Flamengo tinha um it próprio, uma personalidade especial. No primeiro jogo que me lembro de ter ido, sofremos uma goleada impiedosa e jurei vingança. Ela aconteceu no ano seguinte e se repetiu por muitas e muitas vezes, mas eles também se vingaram e assim tem sido através dos tempos, tudo como consequência do primeiro jogo, em 1912. Eles eram favoritos e talvez o Fluminense pudesse ter morrido naquele dia, mas aconteceu o placar que seria o lema definitivo do Fla x Flu: 3 a 2. Desde então, tudo que se viveu neste clássico tem a ver com a doce e suave busca pela vingança. Não há rancor nem ódio, longe disso, é apenas o sabor da vingança. Eu ainda me lembro do time todo de branco, de Miranda e Carlinhos, de Tadeu e Pintinho, do elegante goleiro Wendell com sua camisa verde. São quase cinquenta anos depois e o Fla x Flu ainda me atiça, mesmo que aqui seja apenas um silêncio perturbador. Seria bom estar com meu pai na porta do Maracanã bem cedo, como fazíamos. Ou ter aqui minha mãe e meu irmão, a Marina, o João. Mas o silêncio desta madrugada também é um componente do Fla x Flu, estou certo disso. Enfim, não podemos errar logo mais, pois a distância para os líderes do Brasileiro já é grande. Que seja um grande domingo, um Grande Prêmio.

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Em sua ânsia insaciável pela busca de um protagonismo que não lhe cabe, o Barba toma para si os versos do Hino Nacional, mudando adequadamente o sentido: ridículo pela própria natureza.

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