Livros & campanha eleitoral: mais um equívoco tricolor (da Redação)

Neste sábado, o Fluminense promoverá o lançamento de um livro produzido por seu quadro funcional, celebrando a conquista do Campeonato Carioca de 2022.

Ainda que a política cultural do clube ande a passos de cágado e muito aquém do razoável para os anseios da intelectualidade em três cores, toda iniciativa literária merece respeito inclusive por preservar a memória do Tricolor, mesmo no caso de uma conquista tida como de menor expressão, bem como de uma produção que, pelo preço, inibe a participação das classes populares no processo.

A literatura é ampla e livre, merecendo alcançar todas as vertentes e possibilidades, ainda que o próprio clube pareça não acreditar nisso, dado o completo desprezo com que trata o imenso acervo produzido por escritores profissionais, jornalistas e pesquisadores que, juntos, já produziram – com ou sem editoras – dezenas de livros fundamentais para a história do Fluminense, casos de Roberto Sander, Eduardo Coelho, João Garcez e o nosso cronista Paulo-Roberto Andel que, somados, produziram mais de 40 livros sobre o Flu.

Pelo contrário, a instituição recorrentemente faz uso da expressão “livro oficial” para separar sua produção do imenso restante.

Na verdade, a questão é apenas de um produto que, uma vez licenciado, gera pequenos royalties para o clube, quando todos sabemos dos milhões e milhões de reais despejados no lixo mensalmente para bancar Bigode, Felipe Melo, Wellington e outras peças “raras”. Não sejamos hipócritas.

Alguém deveria alertar o clube que o conceito de “livro oficial” é perigoso, por ser associado a estados totalitários e regimes idem. É uma expressão abominável e pior, popularizada pelo Fluminense. Um equívoco grotesco.

Por fim, o que realmente ficou muito mal para o clube foi a data de lançamento. O Fluminense foi campeão no começo de abril passado e certamente havia como lançar a obra bem antes, mas o anúncio sugere um evento político para a campanha de reeleição da atual gestão. Um casuísmo barato, que expõe a política cultural do clube ao ridículo e arranha sua credibilidade.

Poderia ser até um acidente de campanha, sem trocadilhos, se já não houvesse outro desagradável precedente: no ano de 2016, o quadro funcional do clube produziu o livro intitulado “O Fluminense somos todos nós”, expressão inspirada em Machado de Assis que é claramente identificada com o “extinto” grupo político Flusocio, que então geria o clube e venceria as eleições daquele ano. Tricolores de diversas vertentes participaram da obra como convidados, e se sentiram aviltados com suas imagens associadas ao título da obra.

Usar o lançamento de um livro como agenda de campanha não deixa de ser uma tremenda ironia para a atual gestão tricolor, caso realmente aconteça. Em 2015, quando o atual mandatário comandava o futebol e a advocacia do clube, afirmou por escrito entender que um funcionário do Fluminense entrasse na Justiça para destruir um livro sobre o clube.

Como se vê, a distinção entre a “literatura oficial” e o resto pode alimentar as maiores barbaridades sobre o nosso Tricolor, a começar pela qualidade dos textos.