Jorge Py, um herói tricolor (por GET)

“Grande desastre na serra de Therezopolis”, assim noticiava o jornal A Noite, na edição extraordinária, de 10 de março de 1930, a tragédia que se abateu sobre o Fluminense Football Club e vitimou um de nossos primeiros heróis – Jorge Tavares Py.

Nascido em Porto Alegre, em 14 de novembro de 1898, Jorge Py destacou-se pelo Grêmio, clube com o qual possuía vínculos afetivos, por conta de familiares que foram ex-jogadores do clube e até mesmo um presidente. Começou sua carreira aos 16 anos, em 1915, na posição de back – hoje, zagueiro –, quando conquistou o bicampeonato gaúcho e hexacampeonato citadino de Porto Alegre, sempre obtendo destaque por sua qualidade e liderança. É um dos pouco atletas já laureados pelo clube sulista.

Chegou ao Fluminense em 1926, não só para atuar na zaga, mas, também, para atuar nas equipes de basquetebol e atletismo. Em terras cariocas obteve grande sucesso e estima nos círculos esportivos da cidade. Jorge Py foi bicampeão carioca de basquete (1926 e 1927), ) e ganhou medalhas no atletismo, nos campeonatos estaduais disputados nas Laranjeiras, na segunda metade dos anos 20;, mas foi com o futebol que ele alcançou maior destaque. Na zaga do Fluminense, Py conquistou vários torneios regionais, interestaduais e até internacionais, numa fase de seca de títulos cariocas do clube – Taça Associação Esportiva Guaratinguetá versus Fluminense; Troféu Arnaldo Guinle; Taça Vulcain; Taça Leal Santos; Taça Prefeitura de Guaratinguetá; e o último Troféu Cidade de Therezopolis. Ainda obteve um vice-campeonato Carioca em 1927 – então considerado o principal campeonato do país. Um verdadeiro sportman!

O que atualmente parece pouco, na época fazia do jogador um multicampeão pelo Fluminense, pois as taças, as disputas e os próprios jogos eram encarados de uma outra forma. O esporte vivia um momento de consolidação e mudança para o profissionalismo, mas, apesar da organização que sempre esteve presente desde a fundação do clube, o amadorismo ainda predominava se fazia presente e se refletia desde a organização dos elencos até mesmo no deslocamento dos times. E foi num desses deslocamentos férreos, em 09 de março de 1930, após conquistar a Taça Cidade de Therezopolis, que Jorge Py acabou falecendo.
Além do nosso zagueiro, a tragédia vitimou mais seis pessoas – dentre elas, duas crianças – e, até hoje, ainda é lembrada pelos moradores que vivem próximo à antiga estação ferroviária do Soberbo. Os jornais da época retrataram com muitos detalhes o acidente ferroviário, destacando, também, o heroísmo de Jorge Py que, após a composição desgovernar, correu e tentou acionar os freios para minimizar o acidente. Mas, na curva em seguida, o trem deu um salto e se chocou contra um barranco. Seu corpo foi esmagado entre o barranco e o trem, deixando um ferimento grave na cabeça. Py morreu instantaneamente e, da mesma forma, ingressou no panteão de heróis tricolores.

Com essa tragédia assombrando a todos e muitos jogadores feridos ainda se recuperando, o Fluminense fez um Campeonato Carioca ruim, com adversários sugerindo, inclusive, que o time se retirasse da competição. Mas o clube honrou seus compromissos, num gesto de fidalguia que bem nos bem caracteriza.

Em 1931, o time realizou um amistoso contra a seleção do Rio Grande do Sul, chamado Taça Jorge Py, com o objetivo de reverter a renda para a família do zagueiro. Porém, o Fluminense viveu um grande período de luto e sem títulos, voltando a eles somente em 1935.

Redação/pesquisa: Rafael Bosisio/GET