Ainda o Gum (por Paulo-Roberto Andel)

Prós e contras, elogios e críticas, num futebol onde ninguém mais se lembra da escalação do primeiro semestre, ficar mais de nove anos num clube é missão para muito poucos. Entrar na lista dos dez mais atuantes de todos os tempos, idem.

Todo carnaval tem seu fim.

Eu mesmo, erroneamente, escrevi aqui há dois anos que era chegada a hora da festa de despedida do Gum. Que bom que errei: isso me diferencia de boa parte dos autoproclamados formadores de opinião, em especial dos patifes.

O zagueiro sempre despertou sentimentos diversos. Sou fã de gente que urrava ao vê-lo na escalação e que está urrando porque ele foi embora.

Gum foi protagonista de céus e infernos no Fluminense. Bicampeão brasileiro mas também ajoelhado em 2013 (mesmo tendo feito um milagroso gol contra o São Paulo, que ainda nos deu oxigênio). De lá pra cá, em geral temos nos arrastado. A culpa não foi do zagueiro.

Sempre lutou com muita garra e driblando as próprias deficiências. Às vezes deu ruim, mas o saldo foi positivo.

Em sua última partida, salvou o Fluminense da morte tirando um gol em cima da linha – Igor Julião também participou diretamente. Os dois e Júlio César ajudam a explicar a salvação de 2018.

O que me chateia mesmo não é a saída em si, mas como aconteceu e em que circunstâncias. Num momento de desolação, ele era o cara em que os mais jovens poderiam olhar e se espelhar pela vivência. Futebol não é como um escritório corporativo, onde você fica vinte ou trinta anos trabalhando até que alguém decide que você não serve mais, te jogando no seguro desemprego. Tem paixão, amor, drama, história, vida. Não basta uma figurinha de Facebook.

Importante dizer: o descaso do Fluminense para com seus grandes nomes na hora da despedida vem de muito, mas muito tempo. Não é exclusividade do desastre atual de Abad. Telê, Castilho, Rivellino, Edinho, Assis, Washington, Romerito, Ézio, Renato Gaúcho, Ricardo Gomes, Marcão, Deco, Fred, Cavalieri e muitos outros… todos deixaram o clube sob indiferença e silêncio.

O Thiago Silva escapou por sorte. Mais de 50 mil contra o Ipatinga no Maracanã, calor dos infernos, mas também num tempo em que a torcida, mesmo sofrida, ainda não tinha sido mutilada, nem parte dela era massa de manobra de pilantras da internet. A gente lutava contra o rebaixamento, mas tricolor abraçava tricolor. Hoje é ódio, miséria moral e vantagem pessoal. Uma bosta.

Panorama Tricolor

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