Zanzibar e o gozo da cumemoração (por Alva Benigno)

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A semana havia sido agitada. Depois da caça sofrida contra o Madureira, o tricolor da pobre linha do trem, da gente sem finesse, dos desclassificados urbanos, os bolsa faminta da vida, o time das Laranjeiras chegou a mais um lugar que nem Marechal Rondon ousou pisar. Mais uma caça nos rincões do território incivilizado. Classificações no bolso, muito tesão nas veias. Chiquinho Zanzibar era enaltecido por Contra Cheque como o grande herói da limpeza do elenco, proporcionando os alicerces financeiros da nova e empolgante fase do time. Estava com os bolsos cheios, o cu e os mamilos durinhos, distribuindo gratificações generosas aos serviçais, com o gostinho da humilhação alheia de quem tem o poder para lembrá-los do seu devido lugar. Ganhava ingressos e cada vez mais passe livre nas internas do club. Desfilava por passarelas como num museu de grandes novidades. Voltou a fazer o que de melhor sabia, o futebol existir e valer a pena. Cada pai de família honrado, cada criancinha futuro da nação tinha seus largos sorrisos graças a Chiquinho. Até mesmo a sauna havia perdido a graça, tal o tamanho do novo espectro das fronteiras do vilão herói.

Chiquinho é muito tricolor, dedicado, um fidalgo da escroqueria desses que não admitem traições entre companheiros de bandidagem do bem. Tem muita esperança em superar momentos de queda de sua influência, e, consequentemente, de seus levadinhos e demais rendimentos não tributáveis, desses que gente fina e especial, VIP mesmo não precisa declarar ao Leão. Persiste na harmonia de seus meios para atingir os interesses mais mesquinhos, mas, ao mesmo tempo, solidários com a massa das três cores que traduzem tradição. O duelo com o time dissidente, que foi jogar bola com os cafonas das regatas, era um sinal de que tudo terminaria bem. Chiquinho, experiente, sabe que nas finais com os traidores a maldição lhes cai como um raio. Afinal, como dizem eles mesmos, numa espécie de confissão ao pai, “É um ai, Jesus!” Mas havia um porém: o jogo poderia não ser realizado porque purpurinas judiciais haviam sido jogadas ao ar, como a águia azul e branca adentrando a Sapucaí. A festa da vitória chiquínica seria, automaticamente, atrapalhada! Era hora de cobrar favores…

Dr. Rice Powder era o perfeito enrustido político, desses que acendem uma vela pra Deus e outra pro Diabo. Deseja ser um cidadão machão, de respeito, um lutador tricolor pela pureza da torcida nos estádios. Sempre se coloca nas redes sociais ao lado do melhor para o Fluminense, nem que, para isso, não fale mais dos seus temores com relação ao time, quando este passa a jogar bem e com chances de títulos. Ele e seu Menino Prodígio, Mr. Scout, são vaidosos demais para lembrar ao interlocutor, supostamente idiota, de suas posições críticas à atual gestão.

Havia bajulado muitas pessoas durante as eleições, sempre com papos de justiça, ética e transparência. Coisa típica de gente dissimulada, que se acha mais esperta do que os reles mortais. Coisa típica de uma mosquinha que se acha um carcará, mas que, eis que de repente, está vulnerabilíssima e sente a cola do papel pega insetos de Zanzibar. No período eleitoral, ficou de rabo preso com o destemido da sauna. Mesmo de modo oculto, fazia campanha para Happybath, um companheiro de luta jurídica pelo bem da nação de homens brancos e influentes, pessoas, de preferência, da Zona Sul, dessas que estudam com dinheiro privado para se darem bem com faculdades de prestígio com dinheiro público. Mas, vislumbrando possível derrota, queria garantir likes em seu blogue do bem, da paz e da fidalguia para não ser posto pra fora pelas mãos de quem apoiava golpes e outras travessuras políticas de ética esquisita. Chiquinho já estava investindo numa empresa de construção de likes para personalidades “Quem?” e não teve muita dificuldade em ajudar mais um pavão misterioso de toga. Ele conhecia muito bem a magia das varas…

Uma vez na encruzilhada, tendo feito pacto de sangue com de sua língua, não haveria escapatória. Chiquinho exigiu que Rice Powder se virasse, se fosse preciso, literalmente, mas garantisse que o samba rolasse para as duas torcidas no domingo, em pleno estádio do menor de todos os grandes das regatas cariocas. E mais: exigiu que mandasse um recado para o adevogado Agnaldo Happybath, caso contrário revelaria sua estratégia de likes de mentira para garantir uma posição na mídia tricolor marinhesca. Diante de uma grande possibilidade de ter sua aura de bondade e sabedoria jurídica e futebolística arranhadas, Rice não titubeou. Chiquinho Zanzibar é um mestre em mexer com vaidades. Afinal, é uma bichinha treteira que só, segundo corre nos corredores do club.

Jogo garantido pelos famigerados tribunais, Chiquinho ajuda Contra Cheque a garantir o dinheiro do bicho, dado como certo, pela sua crença na maldição ao Filho Pródigo. Bastava Happybath aceitar o convite para uma festa de arromba pós-jogo. Sabia que o adevogado era contrário ao sucesso tricolor por conta de seus ressentimentos. A festa seria com a presença da mídia tricolor em prol do bem do club, para celebrar a derrota para o time da Lagoa, e mostrar que a força do time em início de ano era, nada mais, nada menos, do que tesão do mijo. Zanzibar recebeu telefonema de Rice, avisando que Agnaldo Happybath teria recebido o convite com muita alegria, e lhe teria indagado se não haveria a possibilidade de recrutar este grupo para uma conspiração, uma Bastilha Tricolor em prol do bem, da honra, da cidadania, da justiça, dos times de grandes jogadores e pela volta das banheiras coletivas e das beijocas loucas.

Já teria programado o reforço de silicone em seu membro, para dar a ele um aspecto mais roliço, para pronto uso. Chiquinho só não saberia quando, como e com quem. Conseguiu de um amigo do grupo de estudos do Minha Luta uma casa que havia sido recentemente esvaziada do bingo clandestino. Efeitos da Lava Jato, sabe como é… Uma casa fina, em bairro chique. Perfeita para atrair gente que não faz uma refeição por menos de mil reais, mas não anda lá podendo comer mais do que um pão dormido com carne de segunda no boteco da esquina. Zanzibar ligou para um decorador do babado. Era para fazer algo soturno, com muito pano grená, alguma coisas em verde nas luminárias e pequenas faixas em branco, feitas de papel higiênico como se fossem cipós. Meia luz e um baita telão para passar vídeos especiais.

Fim de papo: é campeão! Zanzibar desfila pelo gramado, chora de emoção, abraça Contra Cheque, jogadores de ontem e de hoje, torcedores anônimos, balançando a fera siliconada que em horas entraria em ação. Foi para o vestiário com seu passe livre, recebendo homenagem nas falas de Capacete para o elenco em êxtase. Sem ele, o craque não teria renovado até 2020! Sem ele, ninguém comeria o churrasco da vitória. Para o que iria fazer madrugada adentro, comeria um pouco de proteína, mas nada muito pesado. The Beast, o novo nome de guerra de seu falus erectus, queria pular de sua cueca e entrar em ação. Precisava de aminoácidos!

Uber na porta do restaurante, Chiquinho ponga no assento rumo ao antigo bingo da alegria. Os caça níqueis agora dariam lugar aos caça prepotentes, aos candidatos a malandros falidos, destes que fazem dívidas porque cantaram a vitória antes do tempo em anúncios em nada humildes na revolucionária revista Cegueira. Entrou pela porta dos fundos. Madame Sascha já lhe aguardava. Uma funcionária que havia prometido que converteria Chiquinho ao mundo das mulheres que fazem do recato à sacanagem em milésimos de segundo, e logo, logo se recompõe. E odiava Happybath, o ex-soberano dos longos almoços, com a volta triunfal de cabelos molhados e perfume em excesso. Quantas e quantas vezes deixou Chiquinho a lhe esperar, e nem mesmo um café ou um copo de água a lhe servir? E quantas e quantas vezes Zanzibar não passou recibo ao ver Madame Sascha com seus longos cabelos com cheiro de produto de beleza, com odor de secador de motel? Uma vez traída, Madame Sascha o procurou para um acordo de humilhação a Happybath.

Sascha havia chegado de lingerie grená, toda sedutora, lhe prometendo uma grande noite de gozo em nada escatológico. Sabia o que ele gostava. Tirou toda a sua roupa, lambuzou seu corpo de urso com creme de barbear, tudo ao som dos gols dos jogadores que ele havia contratado, todas as barangas que encheram os bolsos de Zanzibar. Aos poucos, o arrepiava todinho com cada rapada de sua poderosa lâmina de puro desejo. Parecia um recém-nascido. Uivava de tesão, como se estivesse no cio. Gritava que o que importava era o seu prazer, a sua glória, e não a do Fluminense. O jingle de sua campanha, derrotada e endividada, era o pano de fundo da orgia. Ao final, Madame Sascha anuncia, observando seu antigo senhor babando de pura devassidão: “Que comecem os jogos!”

Vestido como se fosse uma espécie de Tenório Cavalcante tricolor, Chiquinho chega ao som de “Paga pra ver/que começou/o show do meu tricolor!” Atônito, Happybath não entendia nada daquilo. The Beast era a sua Lurdinha. Atordoado, Happybath não entende o que está ocorrendo. Zanzibar não diz uma palavra, a não ser: “agora, de quatro! Ou poderá ser pior do que você imagina.” Com um chicote de circo, de domador que mostra quem manda no picadeiro, Chiquinho tortura o chão, perto das orelhas do antigo corpo de Ramos. Madame Sascha grita: “Que soltem a gargalhada do careca!” Em alto e bom som, com a música em versão remix de “Erva Venenosa”, ruge a risada estridente de Antonio, que passaria a ser bancado por Zanzibar para destruir sorrateiramente os likes fátuos globais. Quando menos Rice esperasse, do dia pra noite, ele e Mr. Scout não seriam tão curtidos assim… Diante de tamanha humilhação, Happybath diz: “Por favor, o que vocês querem de mim? O que fiz pra merecer isso?” Mas ninguém ali lhe diria palavra alguma. Após estas perguntas, Madame Natascha ordena: “Que a risada aumente e que soltem a besta fera de cartilagem e silicone!”

Uma explosão de luz e fumaça, imitando a névoa de pó de arroz, invade o salão, atordoando de vez o convidado especial. Chiquinho tira o sobretudo. “Touradas em Madrid” é repetida, misturando a gargalhada com “Erva Venenosa”. Zanzibar posiciona The Beast na porta dos fundos, roça um pouquinho, e diz: “Transe agora com Madame Natascha, se você for tão macho quanto nos almoços prolongados!” Mas nem inflado como um boneco do posto o dito cujo de Happybath subia. O gigante havia hibernado novamente. Neste momento, Happybath, como quem não consegue dominar seus músculos, seus afetos, de machão que é, que quer parecer, defeca e urina tudo o que seu intestino e sua bexiga tinham acumulado. A risada fica só, grossa, sem música alguma. Chiquinho sentencia: “Sua vara é ridícula, para um cara moralista de toga. És um adevogado de merda, todo mijado e cagado. Obrigado por eu fazer fortuna sobre suas bizarras negociações de beijoqueiro sem vergonha. Será o seu fim! Eu sou mais viril do que você, a ponto de transar na sua frente com Madame Sascha, e nós dois gozarmos muito gostoso. Gosto do Fluminense, de dinheiro, de lealdade, e de putaria!”

Madame Sascha transa loucamente com Zanzibar, gozam repetidas vezes ao som da gargalhada espanhola que faz com que Happybath desmaie. Ao acordar, a casa está toda abandonada, sem móveis, sem luz, sem a decoração da noite anterior, sem as roupas no chão, mas com muito cheiro de merda, mijo e sacanagem. Os pelos no chão dizem como Zanzibar depenou o frangote que se achou a águia das Laranjeiras.

 


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Imagem: ben