Juvenis, geral e 70 (por Paulo-Roberto Andel)

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Cercado por jornais e um livro durante a manhã de sábado, conversei com Catalano pelo telefone, hábito quase secular. Tratamos das novas produções, uma ou outra bobagem e o resultado do Brasil na final do Mundial Sub 20,  perdendo para a Sérvia.

Depois, espiando a tevê, vi os gols. Bela jogada de Andreas Pereira contra os sérvios. Passou por três. Golaço. Pena que não deu título.

Andreas?

Nunca tinha ouvido falar e pesquisei. O rapaz tem 19 anos, é belgo-brasileiro, filho de ex-jogador, começou na própria Bélgica, jogou anos na base do PSV da Holanda e agora joga no Manchester United.

Andreas nunca jogou no futebol brasileiro. O talento veio de berço, DNA, outrem. Desde já, torço para que se torne um cracão. E promete.

O estranho é quando estes nomes surgem como novas informações apenas quando chegam à Seleção Brasileira. Caso de agora. Na principal tem o Firmino, que ninguém conhecia antes de estrear com a Amarelinha.

Antigamente todo mundo conhecia as revelações de seu clube. Bastava ir ao Maracanã. Às três da tarde, os juvenis entravam em campo para a preliminar. Terminava às quinze para as cinco, pouco antes do jogo principal. Hoje, os garotos surgem em terra estrangeira, não sabemos de quem se tratam. Viraram juniores. As preliminares são indesejáveis: “estragam a grama” (melhor dizendo, o sigilo dos negócios.

O caso de Andreas é diferente, à parte. Tinha dupla cidadania, optou pela brasileira, sempre morou no exterior. E os jovens que vão embora daqui e nem ficamos sabendo?

Uma excelente reflexão sobre o tema pode ser vista em Mata Mata – Stories about Football, Dreams and Life, dirigido por Jens Hoffmann (Doc, 90 min, cor, HD, Alemanha, 2014). Mergulho profundo na realidade das divisões de base, o mercantilismo do futebol e certa matéria-prima descartável denominada promessa de craque.

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No mais, li em algum lugar que o Botafogo só tem 100% dos direitos federativos de três jogadores. O Fluminense não fica distante disso. Vasco, Flamengo, qualquer um. O interesse empresarial fica acima do clubístico. Todo mundo duro, Magalhãezi.

A taça do mundo já foi nossa. Vide os 45 anos do título mundial em 1970. Quem viu, viu; quem não viu, às vezes vai para o Facebook escrever besteiras em caixa alta, 36 pontos de exclamação e várias “concordânceas”.

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Dez anos sem geral.

O começo da morte do Maracanã e do futebol carioca, hoje perdido em rancores estúpidos e agressividade em vez de rivalidade.

Não há dúvidas: o novo estádio é mais confortável. E só.

Vai precisar construir sua própria trajetória de vida, pelo menos até 2065 quando, em nome da modernidade, será reconstruído com luxo e pompa para uma capacidade de 12 mil pagantes.

Dinheiro não compra charme, carisma e a tal da história. Nem compensa a traição a um povo.

Na geral, o Maracanã teve algumas de suas melhores passagens, pessoas e símbolos social. O país podia ser uma merda, mas éramos reis.

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Um viva ao nosso Félix, onde quer que esteja. E ao grande capitão Carlos Alberto Torres, esculpido nas Laranjeiras. Parreira, preparador físico. Marco Antônio.

Ontem, 45 anos da conquista do tricampeonato mundial no México. Brasil 70.

A ditadura era o caos, a Seleção era a válvula de escape de um povo aterrorizado.

É natural que, com a passagem do tempo, os mais jovens tendam a celebrar o que viram em detrimento do que não se presenciou. Tendência mundial. Mas nunca é demais lembrar: o time de 1970 reduz consideravelmente tudo o que se viu depois ao seu tamanho real – Maradona (sim), Platini, o tetra, o penta, 7 a 1, Barcelona. Messi e CR7 também, queiram desculpar. A honrosa e (possível) exceção era a Holanda 1974. Só.

Alguns do maiores jogadores da história do futebol mundial estavam juntos num único elenco. À frente, o maior de todos. O resto é besteira. Reduzir a importância de Pelé quando se fala de Messi ou Cristiano Ronaldo é mais ou menos colocar Kenny G acima de John Coltrane. Ou um desses “superguitarristas” emo no lugar de Jimmy Page. Acreditar que Adam Lambert é melhor cantor do que Ian Gillan. Em nome da democracia…

Rivellino e Paulo Cézar Caju, feras do Mundial, depois vestiram a camisa do Flu nos anos dourados da Era Horta.

Desnecessário explicar a importância da Máquina Tricolor. Quem viu, viu.

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A Seleção Brasileira Feminina merecia mais suporte e respeito. Criticar nos maus resultados é fácil; a dureza está em investir e apoiar.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: cinefoot/pra