O material genético do Fluminense (por Aloísio Senra)

Tricolores de sangue grená, é nos momentos difíceis que nosso valor é posto à prova, e isso vale para todos os aspectos da nossa vida. Nossa capacidade de adaptação e sobrevivência a condições adversas foi o que nos permitiu, em primeiro lugar, evoluir enquanto espécie e evitar a extinção. Para isso, sempre recorremos tanto à nossa vasta inteligência quanto aos nossos instintos mais primitivos. Quando eles se aliam, somos quase imbatíveis. Não é à toa que os humanos dominaram o mundo e hoje somam mais de sete bilhões de indivíduos. Porém, muitas vezes deixamos de lado a fatídica combinação por pragmatismo.

O que o Fluminense de Abel Braga teve de diferente que nos permitiu respirar, nos afastar um pouco das últimas colocações e, de quebra ainda conseguir ver um futebol aplicado? Foi a Seleção Natural agindo, amigos. Afinal, ou a mudança ocorria, ou correríamos o risco de sermos extintos da Série A. E nosso material genético é precioso e antigo demais para ser descartado sem luta. Gum, Richard e Marlon por Nogueira, Orejuela e Léo Pelé. Três mudanças apenas, e um mundo de diferença. Contra o Flamengo, só não vencemos porque Gum Guerreiro não aguentou o tranco, estava sem ritmo. Richard errou no gol dos caras, mas faltou cobertura também. A postura do time com o zagueiro bicampeão brasileiro em campo é outra.

O vento mudou, e temos que aproveitar. Nossa próxima partida é hoje, contra o claudicante São Paulo, em casa. É mais um jogo para três pontos, embora obviamente não será tão “fácil” como contra o Avaí, que teria tomado uns 3 a 0 se Vossas Senhorias da comissão de arbitragem não tivessem anulado um gol legítimos de Matheus Alessandro e ignorado solenemente um pênalti claro sobre o Ceifador ainda na primeira etapa. Contra o time paulista, não teremos Wendel, suspenso pelo terceiro amarelo. Após a trava do Abel, voltou comendo a bola, mas tenho certeza que Douglas o substituirá bem. Teremos também o retorno de Lucas, que anda merecendo banco, mas como seu reserva é limitado, será titular.

Domingo pegamos nosso Nêmesis, de quem não ganhamos nem na porrinha, e na casa deles. Dessa vez, porém, eles estão mal, e eu acredito que possamos sair com uma vitória da Arena Condá, principalmente se conseguirmos derrotar o São Paulo sem perder nenhum jogador por lesão ou suspensão. Se isso acontecer, vamos enfrentar o Bahia, no domingo seguinte, no Maracanã, já com 41 pontos e um pé fora da degola. Podemos terminar outubro com 44 pontos, voltando a olhar para cima e com quatro vitórias consecutivas. Nada mal, não? O futebol é muito dinâmico, e basta que algumas decisões acertadas sejam tomadas para tudo mudar para melhor. O momento agora é favorável.

Ainda temos problemas. Scarpa não vem jogando nada há bastante tempo, mas é o único cara que bate todos os escanteios e faltas, e lança todas as bolas. Não se omite. Sornoza voltou de contusão há pouco tempo e parece desconfortável e com medo de se lesionar. Ainda está sem confiança. Todavia, não temos reservas pra esses caras. É rezar para que eles recuperem a boa forma logo. Na zaga, Henrique, Gum e Reginaldo são nossos melhores nomes. Se porventura dois deles não jogam, temos pesadelos. Lucas está mal, mas não tem reserva, infelizmente. Marlon não pode se contundir, pois querem vender o Mascarenhas a todo custo, e ele seria o seu reserva imediato, no meu entender. O mesmo vale para Douglas, Richard e Wendel e, claro, Dourado.

Como podem ver, tricolores, temos um time titular bom, mas na conta do chá. Os nomes que podem ser escalados sem que nos desesperemos são Cavalieri, Lucas, Gum, Henrique (Reginaldo como opção) e Marlon (Mascarenhas como opção); Richard, Douglas (Wendel como opção), Scarpa, Sornoza e Henrique Dourado. Abel andou colocando Marcos Jr. ao lado de Dourado, mas acho que o Robinho tem mais condições de ser o titular. Há alguns nomes que podem quebrar um galho, como Marlon Freitas e Matheus Alessandro, mas não passa muito disso. Logo, precisamos torcer para que os mais aptos sobrevivam ao inferno das lesões e dos cartões, para que nosso Fluzão também sobreviva ao ordálio da luta contra o descenso.

Curtas:

– Gum ou Richard na Sul-Americana? Decisão difícil. Creio que Gum seria a melhor escolha, contudo. O experiente zagueiro é também um líder em campo, e há revezamento demais na zaga para ficarmos confortáveis sem ele. Temos Douglas e Wendel para a volância, com Marlon Freitas quebrando um galho quando necessário. Acho que basta.

– Bola dentro a união de Fluminense e Flamengo na ajuda pela busca de crianças desaparecidas. Bola dentro de ambos. Futebol vai muito além das quatro linhas.

– Bola dentro também da diretoria, que aparentemente ouviu meus apelos e manteve a promoção de ingressos. A torcida vai corresponder, eventualmente. Aguardem.

– Cuca está no mercado, mas Abel tem mérito demais. Treinar esse time sem opções não deve ser fácil. Ainda teve hombridade para dar a cara a tapa no aeroporto, aceitou se reunir com organizadas para conversar, barrou quem tinha que barrar e mudou suas convicções acerca do time titular, que mudou para melhor. Merece ficar por bastante tempo.

Panorama Tricolor

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